Pato manco

Poucas vezes a jocosa expressão ?pato manco? – lame duck – caiu tão bem sobre um presidente norte-americano, como é o caso de George W. Bush, que ainda tem dois anos para governar o mais poderoso país da Terra, mas acabou de mergulhar na crise político-institucional mais grave de sua passagem pela Casa Branca. Os analistas afirmam que a situação de Bush ficou bastante ruim depois das eleições legislativas da semana passada e, provavelmente, mais precária que os últimos meses da segunda administração de Clinton, seu antecessor.

O Partido Democrata arrebatou dos republicanos o controle das duas casas do Capitólio, a Câmara dos Representantes e o Senado, obrigando Bush a reajustar sua filosofia de governo às novas circunstâncias. No plano interno, não restará ao presidente alternativa melhor que buscar compor-se com os democratas, sobretudo, nos projetos de seu interesse, como o corte de gastos sociais e de certas liberdades civis.

Já no minado campo da política externa, Bush deverá articular uma estratégia diferenciada para o imbróglio do Iraque, vendo-se constrangido a abrir mão de concepções como o unilateralismo e o ataque preventivo, fórmulas temerárias e, hoje, sabidamente devastadoras em relação à imagem dos Estados Unidos, impostas pelo vice-presidente Dick Cheney e o ex-secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.

Todavia, a derrota republicana não deve ser vista com o prólogo da retirada imediata da tropa americana do Iraque, mesmo porque os democratas não têm visão unificada sobre o tema e, em maior grau, porque nenhum de seus virtuais candidatos à Casa Branca, em 2008, arriscará o pescoço em patrocinar a retirada dos 150 mil soldados ianques do território iraquiano.

Ademais, todos avaliam as conseqüências do abandono do país à sua própria sorte, porta escancarada para um caos mais brutal que o vivido agora.

Bush busca soluções junto a assessores de seu pai, e a um deles, Robert Gates, ex-chefe da CIA, confiou a Defesa. Outros veteranos estão sendo convocados para acercar-se do ?pato manco? a fim de tornar o fardo suportável, além de aparar arestas no diálogo com os democratas.

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