Passe livre

Para qualquer prefeito, seja ele Cassio Taniguchi ou seu sucessor, mesmo que de oposição, conceder passe livre nos ônibus de Curitiba aos estudantes seria motivo de alegria. Alegria para os beneficiários e para o governante. Este seria aplaudido. Não só pelos jovens que precisam estudar e sentem dificuldades para pagar o transporte coletivo, como pelos seus pais, quando estes tiram de seus orçamentos domésticos o custo das passagens, muitas vezes com grandes sacrifícios. Aplausos também receberia daqueles que sonham com um Brasil de povo com mais alta escolaridade e se revoltam quando vêem que a realidade é o contrário, por muitos motivos, muitas vezes por falta de dinheiro para pagar a condução de casa para os estabelecimentos de ensino.

Temos assistido há anos, e isso se repetiu nos últimos dias, passeatas de estudantes reivindicando o chamado passe livre. O estudante teria direito de usar os transportes coletivos sem pagar. A tese é simpática. A prática, não. Se o estudante não vai pagar, quem pagará? O benefício concedido para todos e em qualquer horário provocaria o que aconteceu em Cuba, no começo da revolução de Fidel Castro. Ele decretou a gratuidade dos transportes coletivos realizados por ônibus que vieram a ganhar o apelido pejorativo de “guagas”. O tom era pejorativo, mas mesmo que não o fosse, “guaga” quer dizer, em espanhol, “coisa sem valor”.

Em pouco tempo, os ônibus de Cuba eram calhambeques se arrastando pelas ruas, lotados a ponto de passageiros se pendurarem nas janelas, equilibrarem-se nas portas abertas ou onde mais fosse possível ser transportado. Tinha gente que, aproveitando a gratuidade e quando não tinha o que fazer, passeava pela bela Havana o dia inteiro, ocupando o lugar que poderia estar sendo utilizado por alguém que de fato tinha necessidade do transporte. Não demorou muito e o próprio Fidel Castro, contrariando idéias do comunismo ortodoxo que pretendia implantar na ilha, decidiu que as passagens seriam cobradas.

Se não se chegar ao exagero da gratuidade para todos os estudantes, e a toda hora, fazendo com que paguem a condução os que têm poder aquisitivo para tanto (ou suas famílias) e se conceder o benefício somente no horário de ida e volta das aulas, a coisa melhora. Ou fica menos pior. Mas fazer essa seleção é um problema complexo. Dar atestados de pobreza? Carteirinhas explicitando qual o horário escolar?

Imaginemos que esses problemas sejam resolvidos.

Considerando-se que este é um país com um contingente vergonhosamente grande de carentes, a clientela dos ônibus gratuitos seria enorme. E quem vai bancar a conta? Os transportes coletivos têm custo e não existe custo zero. O custo da compra dos veículos, dos combustíveis, da assistência em oficinas, salários para motoristas e cobradores e por aí em diante. O poder público que pague, parecem pensar alguns dos que se entusiasmam com a idéia. Mas, se o poder público pagar, quem estará bancando a conta serão os cidadãos em geral, os contribuintes e aí entram até os que não usam ônibus e muitos que são pobres.

Há que se ser justo com os estudantes carentes, mas não se pode ser injusto obrigando o povo a pagar uma conta infinita, beneficiando inclusive jovens que têm condições de pagar e podem dispensar o passe livre. E que tal o passe livre para os operários de salário mínimo? Não seria também justo?

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