Paris vale uma missa

Em curtíssimo espaço de tempo, nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi duas vezes à Europa. Na primeira viajou à Escócia para participar como convidado da cúpula do Grupo dos Oito, em Gleneagles. Na segunda viagem, entre quarta e sexta-feira, esteve em Paris – ninguém é de ferro – para o ponto alto das comemorações do Ano do Brasil na França.

O presidente falou a professores e estudantes da Sorbonne e foi aplaudido pelos cinqüenta mil espectadores do show de música popular brasileira comandado pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil. Uma apoteose.

Entre uma viagem e outra, Lula costurou como pôde a colcha de retalhos do ministério, convocando quadros pertencentes ao PMDB, partido que não consegue unidade nem na hora de decidir se o melhor passatempo é sinuca ou dominó. Ajudado pelos deuses, o presidente deslocou três ministros para o diretório nacional do PT, reparando de imediato a cratera aberta pela saída de José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira.

Por outro lado, ganhou de presente três vagas na Esplanada dos Ministérios, nas quais alocou os peemedebistas tirados do bolso do colete dos senadores Renan Calheiros e José Sarney, ao que parece, síndicos da massa falida restrita ao Legislativo federal. Lula deixou para a volta de Paris a substituição do senador Romero Jucá, único problema que não conseguiu resolver antes de subir a escada do avião presidencial, onde, apesar da dor ciática, passou a maior parte da semana finda.

Agora que sua excelência está novamente na capital da República, passado o brilhareco de Gleneagles, ofuscado pela odiosa ação de terroristas em Londres, e a estupenda recepção na aristocrática capital gaulesa, para não guarnecer de razão os que maldizem a inapetência presidencial ao duro labor, auguramos ao presidente prolongado período de realizações efetivas na recuperação da credibilidade do povo brasileiro.

A última pesquisa CNT/Sensus mostra que a popularidade de Lula ainda se sustenta e ele venceria no segundo turno. Contudo, senhor presidente, não se pode desprezar o fato de que o apoio ainda concreto é passível de mudanças bruscas e imprevisíveis. O enorme estrago feito pelas denúncias de envolvimento de quadros importantes do petismo com a corrupção, infelizmente, disseminou profundo dissabor em relação às pessoas em que a população mais confiava. É um péssimo pressentimento.

Estigma que o presidente Lula deverá remover da face do governo, sob pena de ver inviabilizado o projeto que sempre acalentou para o País.

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