Uma história em cada rua da cidade

Em 1850, Curitiba tinha pouco mais de dez ruas e alguns nomes bem curiosos, como a Rua da Bola e a Rua da Entrada. Mais de 150 anos depois, a capital do Estado reúne 9.476 logradouros e os nomes pitorescos foram perdendo espaço para fatos, personalidades e países. A troca tinha um objetivo nobre: homenagear as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para o desenvolvimento do Paraná e do País. No entanto, a maioria da população sabe muito pouco sobre figuras como Dr. Muricy, André de Barros, Vicente Machado, Emiliano Perneta e até o Barão do Serro Azul, que foi assassinado e teve sua vida transformada em livro e filme, além de figurar no livro Heróis da Pátria.

O Barão do Serro Azul, ou Ildefonso Pereira Correia, é um herói paranaense que alcançou projeção nacional. A sua história é contada no livro A última viagem do Barão do Serro Azul (1973), do escritor Túlio Vargas, que depois deu origem ao filme O preço da paz, com direção de Paulo Morelli e roteiro de Walter Negrão. No papel do barão, o ator Herson Capri, e Lima Duarte interpreta o general Gumerciando Saraiva, líder dos maragatos. O filme foi lançado em 2003 e um ano depois o nome do Barão passou a figurar no livro Heróis da pátria, que fica em Brasília, no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes.

Idefonso Pereira Corrêa, filho de militar, nasceu em Paranaguá, em 6 de agosto de 1849. Possuía um engenho de erva-mate e tornou-se o maior exportador desse produto no Paraná. Com a construção da estrada de ferro mudou-se para Curitiba. Colaborou para a modernização da cidade, com a instalação de telégrafo, indústria gráfica, entre outros. Em 1881 recebeu a comenda da Ordem da Rosa e, em 8 de agosto de 1888, o título de Barão do Serro Azul.

Ildefonso acabou pagando com a vida por defender a capital do Estado. Os federalistas, vindos do Rio Grande do Sul, seguiam para o Rio de Janeiro para lutar contra o governo de Floriano Peixoto. Curitiba ficava no meio do caminho. Quando as tropas estavam prestes a atacar a cidade, o barão foi convocado para negociar a paz com o líder rebelde, Gumercindo Saraiva. O barão concedeu empréstimos de guerra e o povo curitibano tratou-os com cordialidade, disponibilizando comida e roupas. Tinham medo que eles saqueassem as casas e estuprassem mulheres.

Mas por essa atitude, o barão foi considerado um traidor. Ele e mais cinco companheiros foram presos, sob a ordem de Floriano, que conseguiu derrotar os federalistas. No dia 20 de maio de 1894, foram retirados da cela sob o pretexto de serem embarcados em Paranaguá para o Rio de Janeiro, onde seriam julgados. Mas no quilômetro 65 da estrada de ferro foram assassinados. Por muito tempo, a história tratou o barão como um traidor. Só em 1950 começou-se a pesquisar sua vida e ele passou a ser considerado um herói nacional.

Mesmo com tanta projeção, muita gente não sabe quase nada sobre a história do herói paranaense. Há 64 anos a família de Ana Maria de Faria Gomes tem uma bicicletaria na rua que leva o nome do Barão, mas em sua loja ninguém sabia contar nada sobre a vida dele. ?A gente sabe a história dos outros povos e não sabe a nossa?, comentou Márcio José Trigo, que tem outra loja na mesma rua.

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