Uma difícil convivência no trânsito de Curitiba

Todos os dias, uma ?batalha? é estabelecida no trânsito de Curitiba: motoristas de veículos motorizados x carrinheiros. Alguém tem razão nessa briga? Ninguém. Porque todos têm direito, inclusive os condutores dos carrinhos, de trafegar pelas ruas. E porque os carrinheiros também devem conhecer um pouco das regras de trânsito.

Então, o que resta a fazer, é procurar alternativas para que a circulação de veículos, quaisquer que sejam, torne-se menos problemática na cidade.

Os carrinhos de material reciclável são considerados veículos de propulsão humana, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Portanto, podem trafegar nas ruas como qualquer outro veículo. No entanto, os carrinhos devem andar no lado direito da pista, no mesmo sentido do tráfego. Eles não podem circular nas calçadas e os condutores devem sinalizar, com as mãos, onde querem entrar ou parar. As regras também valem para os carrinheiros que utilizam cavalos. Neste caso, os carrinhos ou carroças são considerados veículos de tração animal. ?Está cada vez pior andar nas ruas de Curitiba com o carrinho. Os motoristas da cidade não entendem a gente?, afirma o carrinheiro Inácio Francisco, na atividade há 15 anos. ?Os motoristas não respeitam os carrinheiros. Eles buzinam e xingam muito. Não é justo. Eu não sei como melhorar. Para mim, isto sempre vai ser um problema?, diz a carrinheira Márcia Regina, que colhe material reciclável nas ruas de Curitiba há 7 anos.

Foto: Daniel Derevecki
Está cada vez pior andar nas ruas de Curitiba com o carrinho. Os motoristas da cidade não entendem a gente.

Os motoristas relatam alguns dos problemas com os carrinheiros. ?Infelizmente, alguns jogam os carrinhos em cima dos carros, entram de repente. Os carrinheiros deveriam ter algumas noções de trânsito, para evitar acidentes. Eu já vi um carro pegar um carrinho destes. Ainda bem que ninguém se machucou, mas os riscos são grandes?, comenta o caminhoneiro Wanderley Romualdo. ?Realmente alguns param sem avisar. Tem que desviar dos carrinhos, mas eu acho que isto é um problema que pode ser revolvido. Carrinheiros e carros podem conviver juntos no trânsito?, acredita o manobrista Wilson Matozo.

A coordenadora da unidade de educação e mobilização da Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), responsável pelo trânsito da cidade, Maura Moro, lembra que os carrinhos devem seguir normas e também merecem o respeito dos cidadãos. ?Concordamos que nem todos são muito civilizados na hora da coleta e de andar nas ruas. Alguns acabam denegrindo a imagem de todos, mas como acontece em qualquer categoria. Como você encontra motoristas bons e motoristas ruins?, analisa.

Itinerário fixo seria solução

O especialista em trânsito e consultor do site www.portaldotransito.com.br, Celso Alves Mariano, explica que os carrinheiros precisam de treinamentos para que o conflito dos carrinhos com os outros veículos seja minimizado. Ele ainda sugere a determinação de itinerários e horários para a circulação dos carrinheiros, especialmente em locais com tráfego intenso. ?Este tipo de medida pode diminuir sensivelmente os problemas. Mas o trânsito de Curitiba não está problemático por causa dos carrinheiros. Eles têm direito tanto como qualquer outra pessoa. E ainda prestam um enorme serviço para toda a sociedade?, indica.

Uma cartilha está sendo produzida pela Urbs para atender a demanda por informação sobre o trânsito, direcionada aos carrinheiros. A publicação vai trazer as normas e dicas de segurança. ?A cartilha está sendo desenvolvida de maneira lúdica, com ilustrações?, conta Maura Moro, da Urbs. Este é um dos trabalhos dentro de uma comissão em andamento na Prefeitura de Curitiba, que inclui diversas secretarias e órgãos, para a regulamentação da atividade de carrinheiro na cidade. Futuramente, pode ser implantado um cadastro, para que os carrinhos sejam identificados ou até mesmo ?emplacados?. Seria uma forma de conquistar respeito dos outros integrantes do trânsito e responder pelos erros. ?Isto ajudaria muito, mas é difícil de implantar. Depende de diversos fatores, como vontade política?, argumenta Mariano.

No entanto, a conscientização e o aprendizado não devem vir apenas por parte dos carrinheiros. O CBT está baseado no princípio de que o maior é responsável pela segurança do menor, justamente por ser mais frágil. Assim, um carro deve ?cuidar? de carrinheiros, ciclistas e pedestres. ?Falta-nos uma visão cidadã do trânsito. Ninguém consegue viver em sociedade sem o trânsito. Quando você sai de casa, você é um usuário no trânsito. Se o princípio do maior responsável pelo menor for respeitado, o resto se ajeita?, considera Mariano. (JC)

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