Trote, um dilema para os serviços públicos

Na última quarta-feira, às 21 horas, uma senhora, moradora do bairro Tatuquara, em Curitiba, ligou para o 190 da Polícia Militar. Aparentemente nervosa, ela dizia que um rapaz havia sido baleado na cabeça e estava caído no meio da rua. Uma viatura da polícia e outra do Corpo de Bombeiros foram enviadas imediatamente ao local. Porém, quando os agentes chegaram, descobriram que estava tudo normal e que a história toda não passava de mentira.

Este é apenas um dos casos de trotes recebidos pelo Corpo de Bombeiros do Paraná. Diariamente, a corporação recebe uma média de 10 mil ligações. Destas, 12% geram ocorrências e 35% não passam de puro trote, sendo realizadas por pessoas que tentam se divertir às custas de um serviço de utilidade pública e não possuem consciência dos transtornos que acarretam.

Segundo o chefe de operações do Corpo de Bombeiros, tenente Jorge Luiz Milsted, o principal problema acarretado pelos trotes é o congestionamento das linhas do serviço 190. Muitas vezes, devido àqueles que ficam tentando enganar os agentes, pessoas que realmente precisam de ajuda não conseguem ser atendidas e acabam seriamente prejudicadas. “A experiência faz com que nós saibamos identificar alguns tipos de trotes e cortemos a ligação rapidamente. Porém, muitas vezes não conseguimos identificar se a pessoa está falando a verdade ou não e acabamos caindo no trote”, comenta.

O trote mais comum costuma ser o de pessoas dizendo que a própria casa está pegando fogo. Entretanto, os bombeiros também atendem falsas denúncias de pessoas baleadas durante assaltos, suicídio e ameaças de bomba. “Os trotes acontecem em diversos horários do dia e da noite, sendo que algumas pessoas chegam a ser bastante convincentes, realmente nos enganando”, afirma o tenente. “Já conseguimos identificar pessoas que costumavam ligar para o 190 semanalmente, sempre contando a mesma história ou inventando situações diferentes.”

Embora, com freqüência, pessoas adultas sejam autoras dos trotes, a maior parte deles são realizados por crianças, principalmente em horários de saída de escola. Isso faz com que os bombeiros adquiram uma tendência natural a não acreditar nas histórias contadas pela garotada. “O nosso grande problema é quando uma criança fala a verdade, pois sempre ficamos desconfiados de que ela possa estar mentindo”, conta. “Uma vez, recebi uma ligação de uma menina de 11 anos que dizia que um carro havia capotado em frente à sua casa e que o motorista estava machucado. Na hora achei que era mentira, mas como o dia estava tranqüilo, resolvi verificar e o acidente realmente havia acontecido.”

O trote é considerado contravenção penal. Quando o autor é identificado, é levado para uma delegacia, onde é realizado um termo circunstanciado. Geralmente, a pessoa recebe uma pena alternativa. No caso de crianças, os policiais costumam fazer uma advertência aos pais.

Copel

Outro transtorno aos serviços de atendimento de utilidade pública são ligações de pessoas solitárias que procuram alguém para conversar sobre seus problemas. “Elas ligam para reclamar de um determinado serviço e começam a fazer com que a conversa se estenda, contando casos, reclamando do governo ou xingando alguém. Na verdade, são pessoas sozinhas em busca de companhia”, explica o gerente da área de atendimento telefônico da Copel, Angelino Rinaldo Macedo.

O fato também gera congestionamentos nas linhas de 0800 e prejudica o atendimento de outros clientes. “Os atendentes são orientados a ser objetivos e, com jeito, cortarem a pessoa caso a ligação comece a se estender demais. O nosso sistema de 0800, implantado há cerca de seis anos, também tem inibido esse tipo de ligações, pois é solicitado à pessoa que seja discado determinado número para cada serviço oferecido”, observa Angelino.

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