Tocador de ouvido do litoral paranaense

Foto: Mara CornelsenO litoral do Paraná é pródigo em muitas coisas. De Guaratuba à Ilha do Mel, o veranista encontra de tudo um pouco. Mas o melhor mesmo são as pessoas que compõem estes cenários paradisíacos. A gente das nossas praias é uma riqueza à parte. Neste verão, a Tribuna tem contado histórias de vida dos mais diferentes personagens que habitam a orla. Já conhecemos o Mestre Eugênio, da Ilha de Valadares; o ?Seu Zé? e o ?Jacaré?, de Santa Terezinha; o ?Índio? de Praia de Leste e hoje apresentamos o ?Seu Silo?, de Matinhos, que é o ?rei? do cavaquinho.

Não há quem resista ao cavaquinho do ?Seu Silo?. Ele faz miséria no instrumento e não se faz de rogado. Procura atender a todos os pedidos, inclusive aos mais estranhos. ?Uma vez, no aniversário de uma pessoa, tive que tocar várias vezes o Hino Nacional. Foi a coisa mais difícil que fiz, mas consegui?, garante o musico, que mora em Matinhos e já fez um pouco de tudo na vida. E o mais incrível é que aprendeu a tocar sozinho, de ouvido. Não consegue ler uma única nota musical, mas basta ouvir qualquer música apenas uma vez e já sai tocando, sem problema. ?Acho que isso é dom. Sempre gostei da música?, assegura.

Silo da Silva Ramos tem 58 anos e talvez seja o mais ilustre filho de ?Dona Cocó?, que já está com 80 anos e foi uma das primeiras a morar em Matinhos. De família humilde, começou a trabalhar aos 8 anos, carregando malas de viajantes na rodoviária local. Depois que cresceu um pouco, foi para o mar, tarrafear. O peixe pescado era imediatamente levado para casa, para ajudar no sustento dos irmãos. Aos 10 anos comprou o primeiro violão, usado. Dedilhou o que ouvia no rádio e todo mundo gostou.

Foto: Mara CornelsenCom o passar dos anos, Silo virou fiscal da Prefeitura, pescador, pipoqueiro nas temporadas de verão, mas nunca largou a música. Já com 20 anos, conheceu outro tocador e trocou o violão pelo cavaquinho. Foi um sucesso. Montou um regional e passou a se exibir com o grupo nos poucos bares que existiam na região, mas sempre atraindo uma grande platéia. Havia um casal, que era conhecido como ?papa troféu? nos concursos de música. Silo tratou de trazê-lo para seu grupo e, a partir de então, passou a viver da música.

Há uns 12 anos, o cavaquinho usado, que ficava no porta-malas do carro, foi furtado. Sem dinheiro para comprar outro, contou com a cooperação de um parente vereador. Ganhou um cavaquinho novo, com amplificador, que é o que usa até hoje. Uma das músicas que mais gosta leva o nome de Boate Azul – quem canta atualmente é a dupla Bruno e Marrone -, mas a que faz questão de mostrar é a conhecida Tema de Lara, que executa com capricho, em ritmo de pagode.

Certa vez, durante um ensaio do grupo, teve que aprender e decorar 14 novas músicas. Tudo em apenas uma tarde. À noite, já conseguia executá-las no palco, impressionando até os companheiros, que não conseguiam acreditar como ele, de ouvido, conseguia decorar tudo. ?Ossos do ofício?, brinca o artista, que quer ?estourar? nesta temporada, animando todos aqueles que gostem de boa música.

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