Terceira idade altera a rotina das pessoas

A expectativa de vida do brasileiro é de 71 anos, quase 10 anos maior do que duas décadas atrás, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tendência é a população brasileira ficar ainda mais velha. E isso mexe com a rotina de quem vai chegando na terceira idade. Antes, era breve o período entre o pedido de aposentadoria e a morte. Hoje, esse tempo é muito maior e precisa ser preenchido com atividades que tragam satisfação e prazer.

Mesmo com todas as reações físicas e biológicas sofrendo uma queda constante, o idoso não pode ficar parado em qualquer sentido. "Com o passar do tempo, os estímulos internos diminuem. A própria sociedade passa a exigir menos da pessoa. Isso é natural. Mas é preciso viver o presente, não o passado. Aproveitar o tempo que sobra para crescer ainda mais. Simplesmente não dá para ficar parado", afirma João Bakker Filho, psicólogo e coordenador do programa de Terceira Idade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A rotina de ficar dentro de casa assistindo televisão está com os dias contados. Os idosos têm à disposição diversas atividades, tanto na área física quanto intelectual. Participar de algum curso ou continuar trabalhando, por exemplo, não favorece apenas a ocupação do idoso, interfere diretamente na reintegração social, um dos fatores mais importantes nesta época da vida. "A reintegração social faz com que os idosos deixem o isolamento, deixem de se queixar da vida. Modifica a maneira de encarar o mundo. O idoso passa a se importar com o presente e também com o futuro", explica Bakker.

Incentivar as pessoas que estão na terceira idade a continuar se desenvolvendo também ajuda na prevenção de doenças. Há, inclusive, um enfoque econômico por trás disso. Se gasta menos dinheiro com os idosos que estão em constante movimento, com uma boa saúde, pois não adoecem tanto quanto aqueles que ficam parados ou reclamando da vida.

Aposentadoria

De acordo com Bakker, há três fases de uma pessoa no ciclo econômico: a preparação para entrar no mercado de trabalho; o ingresso em um processo de produção; e a aposentadoria. "A aposentadoria é inevitável, pois é preciso dar lugar para os mais jovens. Também existe o desgaste. São outros conhecimentos, outras tecnologias", comenta.

Mas o idoso, quando chega nessa fase, acaba sendo marginalizado. "Quando chega nessa idade, não tem o que fazer. Se quer trabalhar, tem que prestar serviço. Se não tem trabalho para as pessoas que estão saindo da faculdade, imagine para os aposentados", completa. Só que essa visão de que o idoso não serve para mais nada deveria ser alterada com urgência, acredita Bakker.

O médico Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior, que trabalha no Instituto Lyon nas áreas de Cardiologia e Clínica Médica, além de ser especialista em atividade física para a terceira idade pela Universidade de São Paulo (USP), afirma categoricamente que a aposentadoria é o único atestado de óbito que se assina enquanto está vivo. "Quanto mais tempo trabalhar, mais ativa e saudável uma pessoa se mantém. Não basta fazer trabalho gratuito. É essencial ser pago por um trabalho. É reconhecer que o idoso é capaz de desenvolver o trabalho que sempre fez", opina.

O médico acredita que envelhecer bem é continuar com as atividades no trabalho, na sociedade e em família. "As pessoas não precisam ter a gerontofobia, o medo de envelhecer", opina. Para ter um envelhecimento saudável, o caminho mais correto é beber com moderação, não fumar, dormir de 6 a 8 horas e ter uma vida competitiva, mas não estressante. Além dos exercícios físicos e a continuidade no trabalho, o médico diz que se sentir amado, com a auto-estima lá em cima, ter o amor da família e um relacionamento homem-mulher são os pilares fundamentais para se envelhecer bem.

Idade não restringe atividade física

A idade não é limite para a prática de qualquer tipo de atividade física. O idoso pode até participar de esportes radicais. O que pode interferir no desempenho é a condição física, ou seja, os problemas de saúde que vão aparecendo ao longo da vida. Para chegar na terceira idade com um corpo saudável e em ótima forma, a pessoa deve investir nisso durante toda a sua vida. "O que você plantar depois dos 20, 30 e, principalmente, 40 anos, você vai colher quando tiver 60 ou 70. Se você se mantiver fisicamente ativo, aos 70 anos estará apto para fazer qualquer coisa. Não existe nenhum tipo de remédio ou fórmula que substitua o exercício", esclarece o médico Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior.

Ele dá um dado que pode animar muita gente para começar a investir na saúde. Quem fez musculação a vida toda, vai chegar aos 75 anos com a mesma massa muscular de um homem de 20. A musculação não é importante somente por esse fator. Ela é a única solução para a perda de força muscular, que pode alcançar 10% a cada 10 anos. A partir dos 60, essa perda é de 2,5% por ano. "Isso faz com que a pessoa não consiga se levantar de uma cadeira sem se apoiar ou sinta dificuldades em pegar uma sacola que está no chão", exemplifica Silveira.

De acordo com ele, a musculação é o principal exercício na terceira idade. Qualquer atividade física pode ser feita, mas sempre aliada à musculação. "A força está concentrada nas fibras brancas, que não precisam de oxigênio em seu metabolismo. São anaeróbias. O único exercício para elas é a musculação. As fibras vermelhas, que são aeróbicas, ou seja, que precisam de oxigênio, não atrofiam com a idade", explica o médico. A força está diretamente ligada com a independência do idoso. A falta de força impede a pessoa de caminhar ou fazer qualquer atividade sozinha, dando margem para que a auto-estima fique em baixa.

Em seis semanas de exercícios com peso, uma pessoa melhora sua força muscular em 30%. "Isso é muita coisa para o idoso dependente", compara Silveira. Uma das maiores causas de dependência e mortalidade em idosos é a queda, que acontece principalmente pela falta de força. "Quando cai, podem acontecer fraturas. Depois, fica com medo de uma segunda queda. Não vai andar mais e vira dependente", lembra o médico.

Os exercícios físicos também aumentam a sensação de bem-estar, essencial em qualquer idade, ainda mais nos idosos. Quanto maior a massa muscular, maior o metabolismo da célula. Isso implica na diminuição dos níveis de glicose e colesterol. "Há um aumento na produção energética e a pessoa acaba se sentindo muito melhor. A endorfina, aliada com o metabolismo acelerado, dá a sensação de bem-estar após os exercícios", comenta Silveira.

Elvira Marchiori, 90 anos, comparece na academia do Instituto Lyon três vezes por semana para fazer musculação. Ela diz estar se sentindo muito mais forte e disposta. Ela mora sozinha desde a morte de seu marido, há um ano. Apesar da tristeza, está se esforçando para manter uma rotina saudável. "Tenho alguns probleminhas de saúde, mas me sinto muito bem. Eu faço musculação, viajo com pessoas da terceira idade, me encontro à tarde com amigas e conversamos bastante ou jogamos baralho", revela.

Elvira ainda tem outro vício: adora ler livros em alemão. Neste momento, está com sete publicações grandes na cabeceira. "Eu me sinto realizada com a minha idade", conclui.

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