Solidariedade é o desafio dos homens

Cumprimentar com um simples bom dia, respeitar a fila de espera, estacionar da forma correta para que outro carro possa parar no mesmo local, pedir por favor e dizer obrigado. Essas são algumas pequenas atitudes que representam um sentimento muito maior: a solidariedade. O grande desafio dos homens nos últimos tempos é tornar-se um ser solidário por completo, e não apenas estar solidário por alguns instantes. Atitudes como essas e esforços para o bem da sociedade podem fazer uma grande diferença no futuro de muitas pessoas.

Para a coordenadora do Centro de Ação Voluntária, Mariângela Hortmann, uma pessoa pode ser solidária desde o momento em que acorda. Ela explica que solidariedade não é só exercer o voluntariado e doar dinheiro para instituições e pessoas carentes. "A ajuda financeira é super-importante, pois muitos locais não sobreviveriam sem as doações em dinheiro. Mas as pessoas pensam longe e esquecem de pensar o que acontece perto delas. Não é preciso fazer grandes coisas. Comece dando um beijo no seu filho e um bom dia para a empregada que trabalha em sua casa", afirma.

Mariângela conta que muita gente está entorpecida pela violência e pela miséria que assolam o mundo e se esquecem do papel que cada um tem dentro da sociedade. "Às vezes ajudam financeiramente um orfanato, dizendo que a tarefa está cumprida, e esquecem do filho doente da empregada. O mundo está difícil, mas se pensassem no coletivo, as coisas seriam bem mais fáceis", comenta.

O presidente do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Raphael Di Lascio, conta que a sociedade está confundindo solidariedade com filantropia. "É ótimo começar pela filantropia, mas não é apenas isso. É bom contribuir com uma cesta básica para uma família carente, mas não será completo se, no momento seguinte, xingar alguém no trânsito ou estacionar de forma aleatória, não deixando espaço para mais ninguém. São atos simples que mostram um lado mais aberto", opina.

Di Lascio esclarece que dar um simples bom dia, por exemplo, pode mudar o dia de uma pessoa que estava triste. "A pessoa que recebe esse bom dia se sente lembrada. Essas atitudes têm uma força muito grande. O carinho e o toque podem fazer uma enorme diferença. Dependendo da situação, apenas estar presente já é uma grande atitude solidária", revela. Segundo ele, o exercício da solidariedade faz com que a pessoa fique "mais leve, humorada e tranqüila". "As pessoas solidárias por natureza são muito mais valorizadas, inclusive no mercado de trabalho. Todo mundo quer ter por perto uma pessoa desse jeito", salienta.

Motivações

Ajudar o próximo pode ser uma conseqüência de vários acontecimentos na vida de uma pessoa. "Um sentimento de culpa, reflexões, traumas, doenças ou problemas graves motivam as pessoas a realizar atividades solidárias", declara Di Lascio, presidente do Conselho Regional de Psicologia.

Para Mariângela Hortmann, coordenadora do Centro de Ação Voluntária, estas não são as maneiras ideais para as pessoas começarem a ter uma atitude solidária. Muitas delas precisam de um despertar para esta realidade. "O sentimento de solidariedade está dentro de cada um. Às vezes é só necessário um clique. Muitas pessoas são críticas com elas mesmas e acabam despertando dessa maneira", diz. De acordo com ela, educação e exemplo são as principais ferramentas para se tentar alcançar o objetivo de todos os homens se tornarem seres solidários. "Não é preciso que um pai leve um filho na favela para ele conhecer o mundo lá fora. O essencial é educação e exemplos. Do que adianta falar e os próprios pais tomarem atitudes contrárias?", questiona.

Em hospitais, dedicação é essencial

Os trabalhos solidários abrangem desde os jovens até os mais velhos. Mas no caso dos hospitais, a maioria são pessoas idosas ou aposentadas. Eles alegam que precisam deixar a "cabeça ocupada". A dedicação deles pode auxiliar na recuperação de doentes.

O aposentado Luiz Alberto Borges Silveira é voluntário do Hospital Pequeno Príncipe desde setembro de 2000. "Já tinha feito muita coisa e me identifiquei com o hospital e com as crianças. E acabo me dedicando mesmo. No Natal, estou de Papai Noel. Na Páscoa, sou o coelho", conta. Ele faz de tudo um pouco no setor de Cardiologia do hospital. "Faço desenho, conto histórias, jogo dominó com as crianças". A psicóloga do setor de voluntariado no Pequeno Príncipe, Patrícia Izidorio, diz que os voluntários facilitam o relacionamento da equipe médica com a criança e ajudam a desmistificar que hospital é um lugar somente de sofrimento. Atualmente, 522 pessoas auxiliam o hospital neste serviço.

Se sentir útil. Foi o que fez a aposentada Maria Antonieta de Campos procurar o Hospital de Clínicas (HC) para ver no que poderia ajudar. "Tenho muito tempo sobrando e acredito que ainda posso ser muito útil", afirma. Ela marcou uma entrevista na semana passada e, depois da avaliação, pode se juntar aos 340 voluntários que já atuam no HC. Eles passam quatro horas semanais, no mínimo, auxiliando a recuperação dos internados.

A voluntária Bernadete Kruger conta que pequenas atitudes podem mudar a perspectiva da pessoa que está procurando a cura. "Começamos a conversar e falamos muito de Deus. Gosto também de brincar. Isso deixa os pacientes contentes", comenta. A voluntária Raquel Silva destaca que "o aprendizado é muito grande, mesmo lidando com a dor de outras pessoas". No HC, os ajudantes passam tempo com os pacientes, os levam para os setores necessários e transportam exames de maneira correta. (JC)

Memória pública preservada

A bibliotecária Eliane Mara Luz achava que poderia aplicar seus conhecimentos fora do trabalho. Unindo o útil ao agradável, passou a ajudar o Arquivo Público do Estado a organizar seus documentos. O resultado disso é a contribuição dela para a preservação da memória pública do Paraná. "Dou apoio à pesquisa, classifico doações de livros e ajudo a organizar a biblioteca", conta Eliane. Ela vai até o Arquivo duas vezes por semana, desde outubro de 2004, e afirma que não pretende parar tão cedo. "Aproveitei a minha profissão para ajudar, porque o Arquivo estava carente. Há muito tempo faltava colaboração por parte de voluntários, para que todo o material disponível no local passasse por uma revisão e recuperação. Estou aprendendo muito, aqui, também".

A diretora do Arquivo Público, Daysi Ramos de Andrade, explica que a ajuda de voluntários é essencial para a manutenção dos documentos mantidos pelo órgão. "Muita gente não vem nos ajudar porque acredita que isso seja função do governo. E é. Mas não abrimos o voluntariado para fazer o serviço de servidores. As pessoas não conhecem qual é a função do Arquivo. Com certeza não é um depósito de papel. O voluntariado serve para desmistificar isso", afirma. Os ajudantes também trabalham na conservação, higienização e reparos dos livros e documentos do Arquivo. "Os voluntários são agentes multiplicadores e podem nos ajudar de diversas maneiras. Eles entendem mais da gestão pública e vêem como podem se inserir. Cada um acaba fazendo o que entende e o que gosta. É importante a comunidade se reunir para prestar ajuda a ela mesma", comunica Daysi. (JC)

Grupo contribui para formação política

A solidariedade pode ser exercida em diferentes áreas, como a cidadania. Um grupo de colaboradores acompanha as atividades da Câmara Municipal de Curitiba. O Movimento pela Ética na Política (MEP) faz a função de fiscal da sociedade, há oito anos. A voluntária do movimento, Cleondina Orgis, explica que o grupo quer contribuir para a formação política da população. Os trabalhos começaram como conseqüência da Campanha da Fraternidade de 1996, com o tema Fé e Política. Os integrantes do MEP acompanham todas as sessões da Câmara, para avaliar se os vereadores realmente cumprem as suas funções. "Eles exercem duas basicamente: legislar e fiscalizar", comenta Cleondina. O grupo avalia a freqüência dos vereadores e as suas atividades. Com as constatações, produz um ranking que é divulgado pela cidade. "Além da freqüência, a participação e promoção de debates conta muito", explica. A formação política da população é essencial para o futuro da população, segundo Cleondina. "As pessoas nem lembram em quem votaram nas últimas eleições. Acompanhar o trabalho dos vereadores é uma coisa que todo mundo deveria fazer. Precisamos de uma democracia participativa. (JC)

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