Sem terra morto sofria ameaças desde março

Um boletim de ocorrência registrado em março deste ano já dava conta de ameaças de morte ao sem terra Valmir Mota de Oliveira, o Keno, assassinado no último domingo durante um confronto com seguranças particulares na fazenda experimental da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste. A informação foi divulgada ontem pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). O alerta teria partido de um telefonema anônimo feito à Secretaria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Cascavel, e denunciado à Subdivisão da Polícia Civil local.

O líder, Celso Barbosa, que não estava no local quando houve o conflito, acredita que também estava marcado para morrer. ?Deu para perceber que só atiraram para matar nos líderes. Nos outros deram tiros no pé e em outros membros não vitais. Se eu estivesse lá naquela hora, com certeza teria sido assassinado?, disse.

Ontem, a Coordenação Estadual dos Movimentos Sociais, junto com outras doze organizações ligadas aos Direitos Humanos e à Reforma Agrária, enviou uma representação ao relator de execuções sumárias da Organização das Nações Unidas (ONU), Phillip Alston, relatando o ocorrido e pedindo providências. As organizações também querem a prisão de Nerci de Freitas, dono da NF Segurança, empresa para a qual trabalhavam os seguranças envolvidos. Outra reivindicação é que a Syngenta seja responsabilizada pela contratação de milícias privadas. Tanto Alessandro quanto a Syngenta já negaram envolvimento com o ocorrido.

Investigações

Em depoimento, ontem, Nerci de Freitas eximiu a Syngenta e sua empresa de culpa no confronto. Segundo ele, a decisão de retornar à fazenda teria sido tomada por um dos seguranças, a fim de buscar coletes e lanternas. Hoje é a vez de os sem terra serem ouvidos. A intenção da polícia é descobrir de onde partiram os tiros disparados durante o confronto.

A NF Segurança é, desde o mês passado, alvo de um inquérito da Polícia Federal, que apreendeu munições ilegais na empresa. O delegado José Alberto Iegas já solicitou à Justiça expedição de mandados de busca e apreensão para aprofundar as investigações e verificar a atuação da empresa.

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