Sem terra mirins pedem mais escolas no campo

Educação no campo e para o campo. Essa é principal reivindicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no 5.º Encontro dos Sem Terrinha, que termina hoje em Curitiba. Cerca de 1,3 mil crianças de todo Estado estão na capital, participando de atividades pedagógicas e discutindo questões ligadas ao seu cotidiano, dentro de acampamento e assentamentos. Hoje elas se reúnem com representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Secretaria de Estado da Educação (Seed) e com o governador Roberto Requião, para quem pedirão mais auxílio à escola no campo.

Conforme Izabel Grein, do setor de educação do MST, hoje existem 32 mil crianças em idade escolar em acampamentos e assentamentos no Paraná. Entretanto, apenas 80 deles possuem escolas. “Também há uma escola itinerante com base num assentamento, mas que é responsável pelas aulas em cinco acampamentos”, contou. Ela destacou que essa unidade itinerante existe desde o início do ano, e que a luta do movimento é para que ela seja ampliada, atingindo mais cinco acampamentos. “Entre a 1.ª e 4.ª série, os educadores são membros do próprio acampamento. Quando o acampamento muda de lugar, esses educadores vão junto e não atrapalham o estudo das crianças. Depois da 5.ª série, os professores são da rede estadual”, explicou.

Izabel disse que as escolas rurais são vantajosas às crianças do MST por valorizarem a cultura das pessoas do campo. “As crianças aprendem a ter orgulho de onde vieram, mesmo que não se tornem agricultores. Além disso, a escola oferece o conhecimento que a humanidade tem”, afirmou. Ela lembrou que crianças sem terra sofrem preconceito em escolas convencionais: “São humilhados por serem do campo, morarem em acampamentos, não terem dinheiro”.

Críticos

Ao conversar com as crianças do MST, nota-se que elas têm uma visão bem mais crítica da questão agrária do que uma criança que mora na cidade. Em alguns casos, os argumentos e as expressões saídas da boca de um adulto. Davi Ribeiro, 13 anos, mora há três meses no acampamento da Fazenda 4 Rs, em Cascavel, mas como ele mesmo diz, está “na luta” há dois anos. Davi não nega suas origens e quer ser agricultor, assim como seus pais. “Mas quero ter terra própria. Morar na terra dos outros não é bom”, reclamou.

Quando questionado sobre a causa da demora da reforma agrária, Davi não titubeou ao reproduzir a cartilha do movimento: “O grande culpado é o agronegócio. As pessoas visam apenas ao lucro”, enfatizou.

Estudando na escola itinerante, o menino exibe conhecimentos que crianças de sua idade dificilmente teriam: “As sementes transgênicas são aquelas modificadas em laboratório”, explicou, destacando que é contra o plantio transgênico e favorável às sementes crioulas.

Mesmo completamente politizado na questão agrária, Davi garantiu que tem um dia-a-dia bem normal: “Vou à escola pela manhã, depois à tarde ajudo minha mãe e brinco no acampamento”, disse, enquanto comemorava o encontro, oportunidade para rever amigos que moram em outros acampamentos.

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