Retomadas obras na Praça do Batel

Após diversos capítulos, a novela da Praça Miguel Couto, a famosa Pracinha do Batel, em Curitiba, parece finalmente ter chegado ao fim. Depois da derrubada da liminar que impedia o começo dos trabalhos, ontem as máquinas da Prefeitura retomaram as obras que vão dividir a praça ao meio e permitir a união das Ruas Carneiro Lobo e Desembargador Costa Carvalho, eliminando o cotovelo que travava o trânsito no local em horários de pico. Mas ainda restaram as lamentações dos moradores mais saudosistas.

Segundo a professora aposentada Claire Davi, que mora no prédio em frente à praça, as máquinas da Prefeitura começaram a chegar ainda de madrugada, por volta das 4h. ?Os trabalhadores chegaram como aves de rapina, destruindo tudo rapidamente. Se fosse normal o que está sendo feito, eles não precisariam ter chegado do jeito que chegaram?, reclamou.

Claire afirmou que não acreditava no que via. ?A pracinha era um ponto de encontro para as pessoas que vivem e trabalham no Batel. Os prefeitos são passageiros, mas as praças são permanentes. Isso aqui não poderia estar sendo realizado?, comentou.

Mais exaltado, o ator Carlos Daitschman, que mora a uma quadra da praça, chegou a ser contido pela polícia e foi encaminhado ao 8.º Distrito Policial, no Portão. ?É uma pena o que estão fazendo. Curitiba está retrocedendo urbanisticamente. O que está acontecendo é uma tremenda falta de visão de futuro?, disse. No início da manhã, na tentativa de evitar as obras, ele subiu no suporte de uma luminária na pracinha e começou a gritar por socorro.

Prefeitura

Alheio à polêmica, o administrador da Regional Matriz da Prefeitura, Omar Akel, informou que as obras começaram às 6h, mas que os trabalhadores chegaram antes somente para evitar complicações no trânsito do local. ?Não foi uma ação obscura a chegada antes do previsto. Até porque as obras têm respaldo judicial para serem realizadas?, afirmou.

Omar aproveitou para ressaltar os aspectos positivos da remodelação da praça, como as melhorias no fluxo de veículos no entorno e a ampliação da área útil da Miguel Couto em 295 metros quadrados, com a implantação de quiosques. Segundo a Prefeitura, a previsão é de que em dez dias a ligação entre as Ruas Carneiro Lobo e Desembargador Costa Carvalho esteja pronta, mas o trânsito no local só deve ser liberado totalmente em até quarenta dias.

Movimento estuda medidas judiciais cabíveis

Fabiano Klostermann

Mesmo com o início das obras na Praça Miguel Couto, o Movimento Amigos do Batel, que encabeça a defesa da praça, não desistiu de impedir a divisão do local. ?A gente está estudando as medidas judiciais cabíveis, mas agora só podemos lamentar a decisão da nossa Justiça, que permitiu a destruição do patrimônio histórico em detrimento da vontade dos moradores?, afirmou o coordenador do movimento, Rafael Xavier.

Em tom irônico, ele falou sobre a urgência da Prefeitura nos trabalhos. ?Eu só desejo que um dia o nosso transporte público seja tão rápido quanto a Prefeitura foi para destruir uma praça?, desabafou. Além disso, ele aproveitou para fazer um desafio. ?Vocês podem me cobrar se daqui a um ano não for construído um shopping center nas imediações da Miguel Couto?, afirmou.

A opinião do coordenador e do Movimento Amigos do Batel parece não encontrar respaldo no restante da população. Uma pesquisa encomendada pela Prefeitura ao Instituto Marketing Quality Information (MQI) mostrou que 85% dos entrevistados eram favoráveis às obras de remodelagem no local. O instituto ouviu, por telefone, 1.500 pessoas dos bairros Batel, Seminário, Bigorrilho, Rebouças, Água Verde, Centro, Vila Izabel e Campina do Siqueira.

Não se trata de demolição, sustenta TJ

A liminar que impedia as obras na Pracinha do Batel foi derrubada na última sexta-feira, mas o teor da decisão só foi divulgado anteontem. No despacho, a desembargadora do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná, Regina Afonso Portes, sustentou que ?não se trata de demolição de uma praça … mas tão somente de remodelação da mesma e atendimento às necessidades atuais da cidade, quanto ao melhor fluxo de veículos na região?.

Quanto ao tombamento histórico do local, a magistrada argumentou que ?ao longo de tantos anos de existência da mencionada praça, jamais alguém se preocupou em tombá-la, ou preservá-la de qualquer forma?.

Outro ponto abordado no agravo foi a discussão feita com a população antes do início dos trabalhos. ?Também não se justifica a paralisação das obras… porque como dito anteriormente, a matéria em questão foi amplamente debatida não só pelo IPUC (sic), mas também pelos moradores do local e entidades de classe, já no ano de 2006, portanto bem antes do início das obras?.

Nas considerações finais do documento, a desembargadora concluiu que a paralisação da obra feria a ?supremacia do interesse público sobre o interesse privado?.

A liminar que suspendeu a remodelação da Praça Miguel Couto foi expedida no início do mês pelo juiz da 1.ª Vara da Fazenda Pública, Marcel Guimarães Macedo, a pedido de Rafael Xavier. Na ocasião, alguns integrantes do Movimento dos Amigos do Batel chegaram a ficar na frente das máquinas para impedir o começo das obras.

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