Quando ir à escola se torna perigoso

A sensação de insegurança que atinge toda a sociedade também não é mais novidade dentro dos muros das escolas e nas redondezas dos estabelecimentos. Este ano, a Patrulha Escolar Comunitária da Polícia Militar já apreendeu 33 armas de fogo dentro ou no entorno de colégios em todo o Paraná. Professores e alunos cumprem a sua rotina, mas não escondem que o medo é uma constante.

Desde 2004, quando a Patrulha Escolar começou o trabalho junto às escolas, caiu em 30% o número de ocorrências atendidas pela divisão. Os casos de desacato aos professores caíram 18%, as rixas e brigas entre alunos baixaram 12%, as ameaças feitas por alunos e seus familiares ao corpo docente diminuíram 21% e os portes de arma reduziram 15%. A melhora nos dados é atribuída ao trabalho feito pela polícia, que inclui visitas às escolas, rondas no entorno e atividades de prevenção envolvendo toda a comunidade escolar.

Mas mesmo com dados positivos, professores e alunos não escondem o medo. Em Almirante Tamandaré, o diretor do Colégio Estadual Papa João Paulo I, Anderson Lussandro Barbieri, diz que já enfrentou, em anos anteriores, vários problemas com pessoas desocupadas no entorno do colégio, que acabavam fazendo ameaças aos alunos. No ano passado, um aluno de uma escola próxima foi assassinado na rua. ?Já houve até casos em que alunos faltaram ao colégio por medo?, fala.

Em uma escola no bairro Boqueirão, em Curitiba, a sensação de insegurança se repete. ?Quando falta luz, a primeira coisa que os alunos fazem é trancar a porta. Têm medo que foi alguém que danificou a rede elétrica para tentar contra a vida de alguém?, comenta uma das professoras, que prefere não se identificar.

Outro caso preocupante ocorreu há dois meses. Um aluno da escola foi assassinado no bairro. ?Os comentários dos colegas era de que o grupo que cometeu o assassinato tinha vindo alguns dias antes para matá-lo na escola. Mas desistiram?. Desde então, um guarda municipal vem acompanhando as atividades escolares. Na hora de ir embora, as professoras procuram sair em grupo para evitar situações de assalto. ?O perigo maior é aprontarem com os nossos alunos com a gente aqui dentro?, diz outra professora.

Segundo o professor Miguel Baez, coordenador de políticas da APP-Sindicato, a violência preocupa em muitas escolas, principalmente no período da noite. Este ano, a Polícia Militar já apreendeu 33 armas de fogo em todo Estado, sendo 18 em Curitiba e região. Mas diz que os problemas mais comuns são as agressões verbais contra professores e as brigas entre alunos.

Ele aponta a sala de aula lotada como um dos agravantes. Explica que o professor não consegue dar conta de tantos alunos e quando o estudante perde o foco da aprendizagem, abre-se espaço para outros assuntos. Outro problema estaria relacionado a professores estressados e cansados. ?É preciso melhorar as condições de trabalho?, fala.

Para ele, a atuação da polícia vem trazendo bons resultados. Mas afirma que a violência é um problema da sociedade de um modo geral e precisa ser combatida com outras políticas públicas. Diz que é necessário trabalhar para que a presença da polícia nas escolas possa ser dispensada. ?As revistas, por exemplo, causam constragimento. É preciso acabar com esta sensação de que o professor precisa dar aula com um policial ao lado?, diz. Segundo a PM, as revistas em alunos são feitas sempre que solicitadas pelos conselhos das escolas.

Estrutura física favorece ocorrências

Aliocha Mauricio/O Estado
Capitão Rothenburg: ?entre 70 e 80% das ocorrências têm a ver com a estrutura física?.

Para ajudar as escolas a se defenderem da violência, a Polícia Militar vai até as unidades e faz uma avaliação das instalações. ?Entre 70 e 80% das ocorrências têm a ver com a estrutura física?, aponta o coordenador estadual operacional do Programa Patrulha Escolar Comunitária, capitão Vanderley Rothenburg. Entre eles muros baixos, portão aberto, secretaria no interior da escola, áreas extensas sem ninguém monitorando e pátios mal iluminados. Tudo isso facilita a entrada de pessoas estranhas.

A PM também reúne a comunidade, professores e alunos para discutir os problemas da escola e juntos encontram soluções, que podem resultar até em fechamento de bares que funcionem sem alvará ao redor da escola. Os pais também são chamados para participarem mais da vida dos filhos, pois o comportamento agressivo é uma forma de chamar a atenção. Além disto, a Patrulha Escolar também ministra palestras sobre drogas, alcoolismo, entre outros temas.

Outra medida adotada pela PM são as visitas diárias às escolas e a ronda nos arredores. Os policiais convivem mais de perto com os alunos e fazem a mediação de conflitos. Brigas entre estudantes são a ocorrência mais comum e agora são as meninas as maiores encrenqueiras. Até o fim do ano, boa parte das escolas terá seu Plano de Segurança elaborado em conjunto com a comunidade. A Secretaria Estadual de Educação também vem desenvolvendo projetos para melhorar a segurança. Os estudantes participam de atividades fora da sala de aula, onde são estimulados a construir projetos de vida, com perspectiva de futuro. Exemplos são o Festival de Arte da Rede (Fera) e os jogos estudantis.

Voltar ao topo