Protesto em defesa dos biomas brasileiros

Enquanto representantes de vários países discutem no ExpoTrade, em Pinhais, durante a 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade (COP8), formas de proteger as diferentes formas de vida no planeta, Ongs de vários estados brasileiros fizeram uma manifestação no centro de Curitiba, ontem, para mostrar a situação preocupante em que se encontram os biomas brasileiros. Existem apenas 7,8% da Mata Atlântica original e menos de 20% do cerrado, por exemplo.

?A idéia é trazer as discussões do COP 8 para as ruas. A população não sabe ao certo o que está conhecendo lá, tudo é muito teórico. Estamos propondo uma discussão do assunto de forma mais animada?, explica Teresa Urban, que coordenou este mês um projeto desenvolvido pela ONG SOS Mata Atlântica, o Biodiversidade nas ruas, onde grafiteiros pintaram temas como fauna, flora e água pelos muros da cidade.

Ontem, a atividade se concentrou próxima à Praça Osório. Com um caminhão de som, bonecos e teatro, eles chamaram a atenção de quem passava pela rua. Teresa explica que o Brasil é campeão em biodiversidade. Quase 12% de toda a vida natural está concentrada no País distribuído em quatro grandes biomas: a Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia e Pantanal. Estima-se que existam no País entre 1,8 e 2,1 milhões de espécies, mas apenas cerca de 200 mil são conhecidas e muitas estão desaparecendo sem serem estudadas. ?É a biodiversidade que fornece os serviços essenciais como o ar, a água, o solo e o controle de pragas e doenças. Sem ela, este sistema perde a capacidade de funcionar. Teremos menos ar, água, nutrientes no solo…?, explica Teresa. Ela condena o sistema de produção adotado pelo mundo todo, que privilegia o lucro imediato e esquece do meio ambiente. ?Em vez de florestas, temos reflorestamento com árvores homogêneas?, exemplifica.

A coordenadora-geral da Rede de Ongs SOS Mata Atlântica, Miriam Prochmow, disse que em junho o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deve divulgar um novo relatório sobre as florestas brasileiras. Ela acha que vai mostrar dados positivos sobre matas em regeneração, mas afirma que para que o biomas recuperem toda a diversidade levarão cerca de 200 anos. Em contrapartida, os remanescentes de florestas continuam ameaçados. Mas esta semana os ambientalistas do Estado tiveram uma boa notícia. O MMA criou três unidades de conservação no Paraná.

Ongs de todo o País participaram da manifestação. Alison Ishy, da Ecoa – Ecologia e Ação, veio do Mato Grosso do Sul (MS) para denunciar as agressões feitas contra o Cerrado e o Pantanal. O Cerrado é ameaçado pelas plantações de soja e pela criação de gado. A sua destruição também traz reflexos negativos para o Pantanal, como o assoreamento do Rio Taquari.

Alison diz ainda que, no Mato Grosso do Sul, os deputados querem mudar a legislação ambiental para a instalação de usinas de transformação da cana-de-açúcar. ?Mas o vinhoto, rejeito da gasolina e do açúcar, quando lançado na água acaba com todo o oxigênio. O que é o Pantanal se não um conjunto de várias lagoas??, questiona.

Brasil tem o seu dia durante a COP8

Roger Pereira

Ontem foi o Dia Brasil na 8.ª Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP8), da Organização das Nações Unidas (ONU). As negociações, que marcaram toda uma semana de intenso trabalho, deram lugar a manifestações culturais, entre elas uma tribo indígena da Amazônia, e, principalmente, apresentações e mesas-redondas sobre as medidas que o Brasil vem adotando para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável.

Na mesa de abertura, que contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do governador do Paraná, Roberto Requião, do secretário municipal de Meio Ambiente de Curitiba, José Andreguetto, que representou o prefeito Beto Richa, um representante da indústria, Ricarodo Azevedo, da Petrobrás, e um da sociedade civil, Adilson Vieira, do Grupo de Trabalho da Amazônia, além do secretário executivo da ONU para a Biodiversidade, Ahmed Djoghlaf, foi destaque a importância que o Brasil, um país que detém 30% da biodiversidade mundial, tem para a convenção.

?Hoje é o dia de mostrarmos aos participantes da conferência, além de nossa megadiversidade, nossa sóciodiversidade. Nossa variedade de cultura de costumes. Também é um dia para refletirmos sobre o importante papel do Brasil na conservação da biodiversidade mundial?, comentou Adilson Vieira, para depois elogiar a medida do governador Roberto Requião de determinar a rotulagem dos transgênicos. O secretário municipal de Meio Ambiente destacou a importância do envolvimento da comunidade local com o evento, já que, segundo ele, ?são as iniciativas locais que proporcionam mudanças globais?.

A ministra Marina Silva explicou que a intenção do Dia Brasil era mostrar que ?a nossa legítima necessidade de prover nosso sustento não pode comprometer a fonte que nos abastece, os recursos naturais?. Segundo a ministra, a idéia foi para compartilhar o que é feito no Brasil em termos de defesa da biodiversidade para que possa servir de exemplo e incentivo para os demais países.

Marina também fez um rápido balanço sobre os avanços das negociações nos eventos da ONU até agora e destacou a posição forte do Brasil na questão da rotulagem e na moratória às sementes terminator. ?Temos a humildade de reconhecer que ainda há muito a ser feito, mas também tenho certeza que tomamos decisões importantes, que fazem avançar o Protocolo de Cartagena e a Convenção sobre Biodiversidade.?

Mas o discurso mais forte foi, mais uma vez, foi o do governador do Paraná. Após citar Aristóteles, e dizer que esperava avanços maiores na conferência, Requião reconheceu que as posições do Brasil até agora serviram para garantir a eficiência do encontro, também destacando a questão da rotulagem e das sementes terminator.

Apesar de admitir que as pesquisas, desde que seguras e limitadas são importantes para o desenvolvimento, o governador fez questão de destacar a posição radical do Paraná contra os produtos transgênicos. ?É uma guerra duríssima, contra a grande imprensa e as multinacionais, mas o Paraná não cederá nenhum milímetro nessa luta?, comentou Requião, que exemplificou suas batalhas com os problemas que teve de enfrentar para impedir a exportação de soja transgênica pelo Porto de Paranaguá. ?Temos uma batalha pela frente. Para saber se a Terra é um espaço do neoliberalismo e das bolsas ou se é da vida e da felicidade?, concluiu.

Atividades

Após a abertura oficial do evento, os participantes assistiram a uma apresentação de chorinho do Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba. Logo em seguida, autoridades federais, estaduais e municipais de meio ambiente realizaram uma palestra com o tema Políticas públicas para a conservação da biodiversidade brasileira.

À tarde, a ministra Marina Silva inaugurou a Feira de Produtos Sustentáveis, na parte externa do ExpoTrade. A feira, que ficará aberta ao público até o próximo domingo, conta com 50 expositores, que desenvolveram produtos a partir do uso sustentável da biodiversidade. Sabonetes, artesanato, móveis rústicos, artefatos indígenas, bolsas e acessórios em látex, mel, polpa de frutas, geléias, condimentos e carnes silvestres estão entre os produtos expostos.

Mais tarde, as atividades foram divididas em seis salas de debates. Entre outros assuntos, os participantes discutiram alimentação orgânica, reforma agrária, conhecimento tradicional, e biodiversidade de áreas protegidas.

Reunião terá ministros de 103 países

Lígia Martoni

Ministros de Meio Ambiente de 103 países se reunirão, em Curitiba, a partir de amanhã, para dar sugestões às decisões que envolvem biodiversidade tomadas pelas delegações dos mais de 180 países participantes da 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), que acontece na capital paranaense até a próxima sexta-feira. Segundo os organizadores do evento, é a primeira vez que a COP consegue reunir tantos representantes oficiais, que, junto com a sociedade civil, pretendem contribuir para o progresso das negociações entre as partes – incluindo decisões como a repartição de benefícios e remuneração pelo uso de recursos genéticos e valorização dos conhecimentos tradicionais de diversas comunidades e indígenas. A reunião do segmento ministerial, como é denominada, deve resultar na produção de um relatório que servirá de auxílio às discussões que coloquem ainda o uso correto da biodiversidade, evitando a degradação, e como forma de contribuir para a diminuição da pobreza em âmbito mundial.

 

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