População precisa economizar mais água

O apelo da Sanepar à população de Curitiba e Região Metropolitana para economizar água, como medida de precaução ao racionamento, parece ainda não ter surtido o efeito pretendido. Se não houver diminuição no consumo em pelo menos 20% do usual, vai faltar água e o rodízio terá de ser aplicado. Apesar de o aviso ter sido dado há três dias, até agora, o nível nas barragens continua caindo cada vez mais.

?O reflexo da redução de consumo feita por parte da população ainda não foi percebido. É preciso economizar mais para não faltar?, alerta mais uma vez o gerente da Sanepar para Curitiba e RMC, Antônio Carlos Gerardi. O consumo atual da população dessa área, que é de 20 milhões de metros cúbicos por mês, precisa cair para 16 milhões. Para isso, cada pessoa deve economizar, no mínimo, 56 litros de água por dia. ?Se o quadro de falta de chuva continuar e as pessoas seguirem consumindo normalmente, a água armazenada nas três barragens – Iraí, Passaúna e Piraquara – vai acabar em menos de três meses?, reitera Gerardi.

Interior

Pequeno percentual de diminuição no consumo esta semana foi notado nas cidades de Cascavel e Foz do Iguaçu, com redução de 6% e 2%, respectivamente. Nas regiões de Maringá e Londrina, há tranqüilidade momentânea com relação ao abastecimento, mas o consumo deve ser reduzido para eliminar riscos de racionamento.

Já no Norte Pioneiro a situação preocupa. Lá, a Sanepar mobiliza equipes com ações de redução de perdas nos sistemas, captação em mananciais secundários e aumento nas captações subterrâneas, uma vez que a vazão dos mananciais é cada vez menor. É o caso do Rio Jacaré, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 15 mil famílias das cidades de Joaquim Távora e Jacarezinho. Em Ibaiti, a Sanepar está captando água em dois pontos do Ribeirão Grande e perfurando poços no Aqüífero Serra Geral. Mesmo assim, em horários de pico alguns pontos da cidade têm enfrentado problema com a falta de água.

No Vale do Ivaí, existe alerta em relação ao abastecimento de água em pelo menos três cidades. A operação dos sistemas de abastecimento de Rosário do Ivaí, São João do Ivaí e Jandaia do Sul está sendo realizada com dificuldade devido à queda no volume de água dos ribeirões/rios Escrita, Pinheirinho, Macaco e Marumbizinho. 

Estiagem pode comprometer plantações

Gisele Rech

Foto: Arquivo/O Estado

Animais disputam água.

A falta de chuvas significativas pode comprometer não apenas o abastecimento de água em Curitiba e Região Metropolitana (RMC). Com a irrigação prejudicada, os produtores de hortaliças da RMC já têm registrado perdas significativas na produção. Em um futuro próximo, a escassez desses produtos pode encarecer os preços ao consumidor.

Porém, por ora, a grande preocupação se concentra nos produtores. Em Colombo, Antônio Gabirel Canalli já perdeu 35% da sua produção de couve-flor – nada menos que 20 mil pés. ?A situação está crítica. Se não chover logo, vai ficar grave. Acredito que muitos agricultores já estão indo à falência?, disse. A água que ele utilizava para a irrigação era proveniente de açudes, porém ele conta que muitos estão secos. ?É uma situação desesperadora?. Apesar de morar em Colombo, que possui muitos mananciais, o produtor descarta a possibilidade da construção de poços artesianos. ?É muito caro. Já tive um prejuízo de R$ 12 mil. Não tem como investir em uma obra agora?.

A produtora Rosani de Souza Alba, que se dedica ao cultivo orgânico de morangos, não descarta a possibilidade de investir em postos semi-artesianos. ?Estamos pesquisando os métodos porque se não chover em 15 dias, a produção pode ficar comprometida, já que a floração começa nesse prazo?, diz. Ela explica que dada a demanda do ano passado, decidiu aumentar a produção deste ano. Agora, o volume de água nos poços, que guarnecem o sistema de irrigação por gotejamento, não dá conta da área plantada. O poço que armazenava diariamente 1.500 litros de água, hoje trabalha com 600 litros. ?Como meu produto é orgânico, não temos como recorrer à água da Sanepar?.

Para a preocupação dos produtores, as notícias do Instituto Tecnológico Simepar não são das melhores. Tirando as pancadas de chuva, como a que caiu ontem à tarde sobre Curitiba, a baixa no índice de precipitação deve continuar. As últimas chuvas significativas caíram em março e este ano, a incidência das chuvas está abaixo da média do mesmo período em outros anos.

Sem solução

O técnico do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Alexandre Fernando Popia, confirma que os 90 dias sem chuvas está ao ponto de deixar a situação dos produtores de hortaliças crítica. Mesmo com o fornecimento da tecnologia de irrigação aos agricultores, a Emater reconhece que sem água para abastecer o sistema, o comprometimento da produção é inevitável. A situação dos reservatórios e rios que fornecem água para os sistemas de irrigação está cada vez mais precária. ?Para os produtores que não têm irrigação artificial, a situação é ainda mais complicada. Eles não estão conseguindo sequer plantar?, diz. Mesmo os que possuem, já sofrem com o comprometimento da área irrigada, bem menor do que a necessária para garantir a produção. ?Se a situação continuar assim, a conseqüência pode ser um aumento nos preços dos produtos ao consumidor?.

Umidade é insuficiente para formação de chuvas

Foto: Fábio Alexandre/O Estado

Poucas chuvas são registradas.

Apesar de a taxa média de umidade relativa do ar neste mês não estar abaixo do esperado para essa época do ano, na região de Curitiba, o meteorologista Fernando Mendonça Leite, do Instituto Tecnológico Simepar, explica que a umidade não é a única responsável pela falta de chuvas no Paraná. Segundo ele, uma série de fatores contribuem. Além disso, apesar de suficiente para não dar a sensação de que o ar esteja demasiadamente seco, a umidade do ar não está adequada à formação de nuvens que façam cair quantidade substancial de chuva sobre o Estado.

É o que vem acontecendo na maior parte das regiões do Paraná. Em Curitiba, a média das taxas de umidade em junho, até agora, estão em torno de 80%, valor equivalente ao esperado para o mês, que registra valores na casa dos 79%. No sudoeste, onde a falta de chuvas também assola a população, a umidade relativa do ar está pouco abaixo do normal – ou seja, dos 80% usuais, concentra média de 76%, valor que os meteorologistas não consideram significativo. Mas o problema é que, isolada, a umidade de superfície – que consegue evitar que sintamos o ar tão seco – não basta para formar nuvens de chuva. ?Teria de haver fluxo de umidade na atmosfera que alimentasse a precipitação; não é apenas a umidade local que dá vazão a isso?, afirma o meteorologista.

Isso acontece, de acordo com ele, porque as regiões que deveriam prover umidade ao sul – é o caso da região Amazônica e parte do Mato Grosso – não estão correspondendo ao que seria necessário para provocar chuvas volumosas. ?As áreas adjacentes à nossa região que normalmente nos repassam suprimento de umidade para quando temos frente para formação de chuva andam um pouco secas?. Nesse ponto, Curitiba é privilegiada por concentrar umidade que vem do oceano – no entanto, isso pode no máximo evitar a sensação ruim de ar seco que épocas de estiagem podem proporcionar. (LM)

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