População de Ponta Grossa reclama da água

Enquanto a população de Ponta Grossa reclama do cheiro e gosto da água – provocados pela proliferação de algas na represa que abastece o município -, os proprietários de distribuidoras de água mineral estão sorrindo à toa. O consumo desse produto aumentou cerca de 60%, trazendo um lucro extra para este período do ano onde as vendas normalmente eram baixas. O grande problema é o também crescente consumo de águas extraídas de fontes alternativas, como poços artesianos e bicas.

A proliferação das cianobactérias, ou algas azuis, não é um problema novo na bacia do Alagados, de onde é extraída 100% de água que abastece a cidade. Porém, devido a estiagem, houve um aumento da população, o que vem provocando um cheiro e gosto desagradável ao líquido que chega às residências. Essa alteração é decorrente de metilisoborniol e geosmina, substâncias químicas que também são encontradas em verdura ou legumes como a beterraba e a cenoura. Segundo o coordenador industrial da regional de Ponta Grossa da Sanepar, Fabiano Icker Oroski, desde o mês de abril a quantidade dessas algas está acima dos limites exigidos pelo Ministério da Saúde. A Portaria 518 do órgão – que define procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade – estabelece concentração de 20 mil células por mililitros (ml). Porém, o Alagados ultrapassou 400 mil células por ml.

Apesar dos limites elevados, o coordenador da Sanepar afirma que a qualidade da água continua inalterada, e que a empresa vem investindo no monitoramento e qualidade. "Nós fizemos alterações no processo de tratamento, como a mudança da utilização de produtos químicos, aumento da retenção da água na estação de tratamento, e monitoramento da água in natura semanalmente", falou.

A proliferação das algas, explicou Oroski, acontece por diversos fatores, entre os quais a degradação da bacia hidrográfica e a luminosidade. Segundo ele, em 2000 foi formado um grupo gestor da bacia do Alagados, formado por diversos órgãos e empresas, com a proposta de promover ações concretas para reduzir a degradação, e conseqüente diminuição das algas. "Em 2001 nós estávamos acima de 800 mil células por ml, e agora já reduzimos pela metade. Isso demonstra uma melhora na qualidade da bacia, que, infelizmente, é um processo longo", falou. Ele garantiu que a proliferação das algas dobrou o custo da produção por parte da Sanepar – que saltou de R$ 50 mil para R$ 130 mil por mês. Só em avaliações da água, que são feitas toda a semana em laboratórios do Rio Grande do Sul, a empresa gasta R$ 500 por análise.

Outras fontes

Apesar da Sanepar garantir a qualidade da água distribuída, a população da cidade está preferindo consumir água de outras fontes. A proprietária da distribuidora São José, Suzana Kelmiont, percebeu um aumento de 60% nas vendas de água mineral. "Quem pedia um galão de água a cada 15 dias, agora pede toda a semana", conta.

A grande preocupação tem sido em relação ao aumento do consumo de água de fontes alternativas, como os poços artesianos e bicas. A dona-de-casa Tereza Borszczcz admite que pega água de um poço que fica nos fundos da casa do seu irmão. Ela defende que a água é de boa qualidade, mesmo sem ter feito análise do material. O engenheiro ambiental do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), de Ponta Grossa, Marcos Maurício Kincheski, afirmou que sem análise é impossível garantir a potabilidade da água. 

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