Vender pipoca na rua não basta. Tem de saber agradar a clientela, usar produto de qualidade, primar pela higiene e, claro, fazer a melhor pipoca da praça. Pelo menos é o que prega o pipoqueiro – e marqueteiro – de Curitiba, Valdir Novaski, conhecido nas redondezas por ser dono da famosa Pipoca do Valdir.
Bóia-fria até os 16 anos, resolveu tentar a vida na capital em 1990 e, cansado de ser empregado, descobriu a fórmula do sucesso com o carrinho atualmente instalado na esquina das ruas Barão do Cerro Azul e Tobias de Macedo, em frente à Praça Tiradentes. Hoje o pipoqueiro é palestrante: ensina a universitários sobre a arte de saber vender e garantir sucesso em qualquer tipo de empreendimento.
Faz seis anos que Valdir decidiu vender pipoca e, desde então, aprendeu sozinho, apenas contando com dicas da freguesia, como ser um bom marqueteiro. ?Para mim, o maior marketing é o atendimento?, enfatiza. E para garantir que isso traga cada vez mais clientes ele adotou algumas medidas simples, como a distribuição de convites que os próprios fregueses levam para um conhecido. ?Quando o cliente vem pela primeira vez, proporciono a ele a degustação de todos os tipos de pipoca (são cinco, entre doces e salgadas). Além de vender mais, garanto que ele voltará?, diz, confirmando o sucesso da estratégia.
Valdir tem uma meta: a cada vinte novos clientes por dia, dez pelo menos têm de virar fregueses. E ele revela que dá conta de cumprir o número mantendo a qualidade. ?Os ingredientes são de primeira linha e a nave é impecável.? Nave é como chama seu carrinho de pipoqueiro, para o qual ele dedica três horas todos os dias da semana e cinco aos sábados fazendo a limpeza. No item higiene, ele ainda adotou a prática de distribuir um kit contendo guardanapo, palito de dentes e bala a cada comprador. Além disso, não hesita quando o assunto é divulgação, mantendo um site na internet e usando o uniforme com a logomarca da ?pipocaria? aonde quer que vá. A partir da semana que vem, Valdir vai aceitar cartões de crédito e débito e, para 2007, promete implantar um delivery de pipoca.
Só pipoca
O número de clientes que atende por dia ele não revela, mas dá uma dica: ?Imagine que hoje tiro cinco vezes mais que quando era empregado?, diz o vendedor, que já trabalhou como manobrista, atendente de lanchonete, de banca de revistas e também como ajudante de outros pipoqueiros. Agora, dono de seu próprio negócio, destina todos os meses 15% de sua renda líquida a projetos sociais, distribuindo pipoca a crianças carentes atendidas por entidades assistenciais.
Depois do expediente na praça, Valdir tem se ocupado ainda de palestras a formandos de Administração de Empresas em faculdades de Curitiba e do interior do estado. O pipoqueiro ensina aos universitários uma série de estratégias, como foco total no produto, conceito de qualidade, valor vitalício de um freguês e administração adequada dos recursos – para isso, ele apresenta sua planilha gerencial de custos, onde desde o palito de dentes ao grama de bacon são contabilizados. ?O resultado é que hoje recebo um monte de e-mails de gente querendo abrir uma franquia da Pipoca do Valdir?, conta.
Para os interessados, ele adianta que por enquanto não é possível, já que possui concessão pública para trabalhar. ?Mas, mais para frente, é algo a se pensar em outras cidades. Meu objetivo é crescer?, atesta. Sair do ramo da pipoca, no entanto, não faz parte de seus planos. ?Adoro o que faço. O sistema de trabalho na rua tem suas dificuldades, mas é gratificante, principalmente pelo número de pessoas que a gente contata. E quem come pipoca é porque está alegre; lembra parque, circo, praça. Eu gosto de fazer parte da felicidade das pessoas.?