Pesquisadores mudam gosto e cheiro da água

Há cerca de quatro anos, o curitibano reclamava do gosto e do odor da água que abastecia a cidade. Desde então, não foi à toa que a mudança na qualidade da água aconteceu. Às custas de muita pesquisa, descobriu-se que os reservatórios da região concentram intenso processo de eutrofização – ou desenvolvimento de algas -, com produção de substâncias capazes de alterar o cheiro e o gosto da água, ainda que não a deixem tóxica.

O trabalho reuniu 50 pesquisadores de diversas entidades paranaenses e deu origem ao livro Gestão integrada de mananciais de abastecimento eutrofizados, sob organização dos pesquisadores da Sanepar Cleverson Andreoli e Charles Carneiro. "Em todo o mundo, o processo de eutrofização vem crescendo devido ao aumento populacional e maior consumo de água, exigindo reservatórios cada vez maiores", esclarece Andreoli, que revela ser o aumento da demanda por água em Curitiba algo em torno de 350 litros por segundo ao ano. "Ou seja, a cada quatro anos a cidade precisa de um novo Passaúna", referindo-se ao reservatório.

De acordo com o pesquisador, na região da capital esses reservatórios são rasos e o tempo de permanência da água nos mesmos é longo, contribuindo para a proliferação das algas, em especial, na barragem do Iraí, Região Metropolitana de Curitiba. "A situação está controlada, mas o descuido pode fazer com que todo esse trabalho seja perdido", alerta.

Ele acrescenta que é a quantidade acentuada de nutrientes na água – em especial o fósforo e o nitrogênio – que desencadeia a proliferação das algas. Esses provêm de processos de erosão e lançamento de esgoto na cabeceira dos rios, principalmente.

No caso dos reservatórios que abastecem Curitiba e RMC, 90% dos nutrientes têm origem no Rio Timbu. "Para equilibrar a quantidade, fizemos monitoramento da água, pesquisamos os solos, matas ciliares típicas de cada região – para um replantio correto -, sedimentos de fundo do rio, peixes, presença de metais pesados e a importância de preservar o oxigênio na água, já que as algas o usam para se proliferar, ocasionando sua falta, o que pode gerar a morte dos peixes e desequilíbrio do ecossistema", explica o pesquisador. "Foi possível reduzir a quantidade de fósforo de 115 quilos liberados por dia para em torno de dez, ou 90% a menos", completa o pesquisador Charles Cordeiro.

Ainda assim, as quase 700 redes clandestinas de esgoto que existem ao longo do Rio Timbu são altamente prejudiciais. "Mas já é feito trabalho de adequação. Antes, havia cerca de duas mil", lembra.

No Paraná, outras cidades que sofrem o processo de eutrofização em seus reservatórios são Ponta Grossa – que já conta com a aplicação da técnica -, Foz do Iguaçu e Maringá.

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