Pedágio na Estrada da Graciosa divide opiniões

A possível cobrança do pedágio ecológico na histórica Estrada da Graciosa (PR-410) está gerando polêmica entre visitantes e comerciantes locais. Alguns vendedores ambulantes temem que a taxa provoque queda no movimento de turistas, o que afetaria as vendas principalmente de água-de-coco, pamonha e milho verde – carros-chefes das barracas instaladas ao longo da Estrada. Outros, porém, defendem a cobrança do pedágio, desde que o dinheiro seja revertido na conservação do local.

A Paranacidade, órgão do governo estadual que está executando a revitalização, afirma desconhecer o assunto, uma vez que é responsável apenas pelas obras. A manutenção da Graciosa, segundo a Paranacidade, caberia ao Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e à Ecoparaná. A última informou que não existe nada definido em relação à cobrança, nem do pedágio nem do estacionamento que está sendo construído próximo à Mãe Catira.

“Se o pedágio for mesmo cobrado, vai afetar o movimento, porque se a pessoa tiver que pagar R$ 3 para passar por aqui, vai preferir pagar R$ 5,50 e passar pela outra rodovia (BR-277), onde a estrada é melhor”, opina o comerciante Vilson Rodrigues da Silva, 35, há quatro anos com barraca na Graciosa. “Acho que para cobrar, teriam que arrumar primeiro essa estrada”, completa o vendedor Mauro Cardoso Pontes, 27 anos. Ele diz que o assunto é antigo, e revela ser favorável à cobrança, desde que o preço seja justo. “Se o valor for baixo, pode até ajudar no movimento de visitantes”, afirma. Ele ressalva, no entanto, que o número de veículos na Graciosa cresceu depois de que o pedágio na BR-277 começou a ser cobrado. “Muita gente que pára aqui reclama que o pedágio na 277 está muito alto e por isso prefere esse caminho”, conta.

Visitantes

Para o geógrafo Edmilson Alves Lopes, 31, que seguia de Curitiba para Caiobá pela Estrada da Graciosa, a escolha pela estrada histórica não se deve ao pedágio cobrado na BR-277, mas sim à tranqüilidade. “Lá, pelo menos, se acontecer alguma coisa na estrada, há quem possa ajudar. Não compensa trocar um pelo outro. Vim por aqui mais pela tranqüilidade.” O geógrafo diz ser favorável à cobrança do pedágio ecológico, desde que seja investido no próprio local. “Se for para lucrar, não acho certo. Na 277, por exemplo, acho muito caro pelas poucas obras que têm.”

O advogado Edivaldo Martinez Belasqui, 40 , que também escolheu a Graciosa como acesso ao litoral, concorda. “Às vezes, a idéia de cobrança pode soar mal, as pessoas reclamam. Mas se for para investir aqui, penso que é uma boa idéia”, defende.

Quem trabalha no ramo de turismo já avisa que a possível cobrança deve ser repassada aos visitantes. “Nosso medo é que o governo queira descontar no pedágio o investimento das obras. Daí, nós vamos ter que cobrar do turista”, afirma o agente de turismo Leopoldo de Jesus, da empresa Estrela do Mar. Ele conta que a Estrada da Graciosa é um dos locais mais procurados pelos turistas. “Na temporada, a gente chega a trazer cem pessoas por dia”, revela.

Paranacidade

O analista de desenvolvimento municipal da Paranacidade e engenheiro responsável pelo acompanhamento de obras da Estrada da Graciosa, Geraldo Luiz Farias, informa que desconhece o assunto do pedágio na Estrada da Graciosa. “A Paranacidade é responsável única e exclusivamente pela execução de obras. A manutenção dos recantos compete ao DER e à Ecoparaná”, afirmou. Na Ecoparaná, o presidente Taco Roorda informou que ainda não há nada definido nem em relação ao pedágio nem à cobrança de estacionamento. “A intenção é que os espaços comerciais sejam licitados, e a renda que possa ajudar na manutenção dos recantos”, explica.

Previsão da obra é para dezembro

Lyrian Saiki

As obras na Estrada da Graciosa devem ser concluídas na primeira quinzena de dezembro. Pelo menos é essa a previsão da Paranacidade, vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e responsável pela execução das obras. Iniciada em junho último, a revitalização está inserida no Programa de Valorização do governo estadual, no apoio ao turismo. O investimento, estimado em R$ 1,1 milhão, está sendo aplicado na revitalização dos seis recantos, além da construção de estacionamentos.

“O objetivo principal é dar melhores condições às pessoas que já fazem uso dos recantos. Antes não existia, por exemplo, banheiro para deficientes físicos. Agora, um dos recantos já tem”, explica o analista de desenvolvimento municipal da Paranacidade e engenheiro responsável pelo acompanhamento de obras da Estrada da Graciosa, Geraldo Luiz Farias. Dados mais recentes mostram que, de dezembro de 96 a abril de 97, 77.115 veículos passaram pela Graciosa. “Comparando-se esses dados com os de 91 e 92, o aumento foi de 98%”, revela o engenheiro.

Para a engenheira civil Ivana Sales, responsável técnica pela acompanhamento das obras por parte da Prefeitura de Morretes, os benefícios são vários. “Fora o aumento do número de pessoas que visitam a região, haverá uma organização melhor, estrutura para oferecer”, aponta. Ela conta que as obras vão desde a Polícia Rodoviária Estadual (posto Graciosa) até o Recanto Mãe Catira. Ao todo, são seis recantos ao longo da Graciosa: o Engenheiro Lacerda, Rio Cascata, Grota Funda, Bela Vista, Curva da Ferradura e Mãe Catira.

De comum em todos, está a recuperação de churrasqueiras e construção de outras, recuperação de lixeiras e colocação onde não existem, e novos sanitários, paisagismo e bancos. Foram construídos ainda quiosques para o comércio, de tijolo à vista e, no Recanto Mãe Catira, está sendo finalizado um Centro de Informações ao Turista, além de um local de atendimento para primeiros-socorros, explica Ivana. (LS)

Comerciantes estão otimistas

Lyrian Saiki

Os comerciantes da Estrada da Graciosa dizem estar otimistas com a revitalização. Acreditam que, com uma melhor infra-estrutura, o local atraia mais visitantes. A indefinição, no entanto, é em relação aos novos quiosques e o valor do aluguel.

“Ainda não há nada certo. A única coisa que sabemos é que teremos de pagar o aluguel, mas a gente não sabe quanto”, diz o comerciante José Ferreira de Paula, que há 15 anos mantém o ponto no Recanto Engenheiro Lacerda. “Se for muito alto o aluguel, não compensa”, afirma. Pelo alvará anual, quando a kombi e a lona eram seu ponto de venda, José Ferreira pagava R$ 63. “Entre R$ 50 e R$ 75 por mês, até dá para pagar. Mais de R$ 100 é muito caro”, afirma.

Para o vendedor Vilson Rodrigues da Silva, 35, o problema vai além da questão do aluguel. Com ponto no Recanto Mãe Catira, Vilson conta que o quiosque, que deveria ser seu, foi embargado pela Justiça. “Vou ter que continuar aqui (na barraca de lona e estrutura de madeira) até liberarem”, diz.

Estacionamento

Além do quiosque, as obras do estacionamento no Recanto Mãe Catira também foram suspensas pela Justiça através de liminar, em atendimento à ação proposta pela Organização Não-governamental Rede Amigo das Águas. O advogado da ONG, Vitório Sorotiuk, explica que as obras desrespeitam o Decreto 5040/89, que disciplina a distância que deve ser mantida entre construções e o curso d?água. “Quando o rio mede até 10 metros de largura, a distância da construção tem que ser de 30 metros”, informa. No caso das obras em questão, a distância não foi respeitada, alega. A ação foi ingressada na Comarca de Morretes em setembro último. E a liminar foi concedida no mesmo mês. Na ação, o advogado pede a demolição de dois quiosques e do estacionamento.

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