Desassistidos

Paranaguá absorve pacientes de Matinhos

Quem precisar de atendimento no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos, litoral do Paraná, vai ter uma surpresa desagradável. O hospital está sem médicos desde o final da tarde de anteontem e todos os casos estão sendo encaminhados para o município de Paranaguá, também no litoral.

O motivo é a falta de repasses da prefeitura para a Organização para o Desenvolvimento Social da Cidadania (Ordesc), empresa contratada para prestar os serviços médicos na cidade.

O único atendimento prestado pelos enfermeiros é o de primeiros socorros. A situação é tão delicada que a Primeira Regional de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) teve que disponibilizar ambulâncias para fazer o transporte dos pacientes, já que os veículos do hospital estão sem condições de uso.

Para a dona de casa Nair Maria de Souza, o caso é lamentável. Ontem, ela estava desde cedo no local tentando atendimento para o filho de seis anos, que apresentava quadro de anemia profunda, diarréia e febre alta.

“Estou muito preocupada com o que está acontecendo. Meu filho não está bem e precisa de um médico. É complicado não ter assistência nessas horas”, disse. No final da manhã, apareceu uma ambulância para levar a dona de casa e o filho para Paranaguá.

Lucimar do Carmo
Quartos e corredores vazios expõem situação: médicos estão sem receber.

Outro caso de emergência foi o da diarista Alexandra Regina Poderguski. Ela contou que foi aos postos de saúde buscar socorro para o filho de cinco anos, que, segundo ela, apresentava suspeita de apendicite. Contudo, foi informada que deveria trazer a criança até o hospital para que a ambulância realizasse o transporte até Paranaguá.

“Meu filho não está em condições de ficar andando, ainda mais com esse sol quente. Eu me sinto abandonada nessas horas. Infelizmente, quem depende da saúde pública tem que suportar esse tipo de descaso”, indignava-se.

O secretário municipal de Saúde, Jéferson de Azevedo, informa que será enviada à Câmara Municipal uma suplementação orçamentária a fim de pagar os médicos. Segundo o secretário, os profissionais estariam sem receber há um mês. Ele diz, porém, que não há prazo para resolver a situação.

A reportagem de O Estado procurou o Ministério Público Estadual (MPE) e o prefeito de Matinhos, Francisco Carlim dos Santos, para comentar o assunto. Por meio de sua assessoria, a promotora Fernanda Maria Motta Ribas informou que está ciente do ocorrido e que está tomando as medidas necessárias para resolver o problema. O prefeito não foi localizado para esclarecer a situação do hospital.

Atrasos vêm desde junho

HELIO MIGUEL

De acordo com a Organização para o Desenvolvimento Social e Cidadania (Ordesc), entidade que desde 2005 intermedia as contratações dos médicos de Matinhos, os pagamentos da prefeitura, que vinham sendo depositados regularmente desde o início do contrato, deixaram de ser feitos de forma integral desde junho deste ano.

A dívida da prefeitura com a organização, segundo o tesoureiro da Ordesc, Luiz Fernando Martins, já está acumulada em R$ 300 mil. “Vínhamos pagando os médicos com o dinheiro que tínhamos em caixa. Mas chegou um ponto em que não deu mais”, esclarece.

Ontem, a Ordesc mandou dois representantes a Matinhos, que levaram um ofício à prefeitura cobrando os valores atrasados e dando um prazo de três d,ias para resposta.

Além disso, Martins informa que a entidade está entrando em contato com os 21 médicos contratados para trabalhar na cidade para tentar resolver o impasse. Outro agravante, para ele, é que o convênio com a prefeitura terminou no dia 30 de setembro, e não foi renovado. Mesmo assim, os médicos trabalharam durante o mês de outubro, e precisam receber por isso.