Paraná se mantém constante no Provão 2003

O Ministério da Educação divulgou ontem, os resultados gerais do Exame Nacional de Cursos, o Provão, de 2003. Este ano, 423.946 formandos de 5.897 cursos de 26 áreas do conhecimento participaram da avaliação. O desempenho das instituições paranaenses foi constante na avaliação da maioria dos cursos, comparado com as provas do ano passado.

As principais instituições estaduais participaram do Provão: Pontifícia Universidade Católica do Paraná -PUCPR, Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Universidade Tuiuti do Paraná, Universidade Estadual de Londrina – UEL, Universidade Estadual de Maringá -UEM e Universidade Federal do Paraná – UFPR, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET-PR, Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro – (Fundinop), Centro Universitário Positivo – UnicenP, Centro Universitário Campos Andrade -UniAndrade e Universidade do Oeste do Paraná – Unioeste.

Avaliação

Agronomia, Administração, Direito e Ciências Contábeis estão entre os cursos das instituições paranaenses de melhor desempenho no Provão. Do lado contrário, o curso de Jornalismo teve um desempenho ruim na avaliação, a UEPG recebeu nota ?A?, mas o curso teve duas notas ?E?, na UFPR e na UEL (duas das instituições mais respeitadas do Estado).

O Paraná se destacou pela grande quantidade de notas ?A? em suas instituições. A UFPR conseguiu 14 notas ?A?, a UEL conseguiu cinco, a UEM dez, a Unioeste dezoito e a UEPG ficou com sete. A Fundinop, pela oitava vez consecutiva tirou nota A no curso de direito e consolidou-se como um dos melhores do País.

Reitores

Segundo o reitor da PUCPR, Clemente Ivo Juliatto, o desempenho da instituição cresceu devido aos investimentos feitos em sua gestão. ?O aumento de notas A de 1 para 5 mostra que a instituição melhorou a sua qualidade de ensino, apostando na inovação dos métodos pedagógicos, revisão dos métodos de trabalho e com uma grande produção cultural?, diz.

?O resultado mostra a evolução da Universidade se destacando estadual e nacionalmente. esse conceito revela que devemos continuar investindo para continuarmos crescendo?, completa.

O reitor da UEPG, Paulo Roberto Godoy, destacou o resultado da instituição durante a realização do Provão. ?As boas notas da instituição refletem uma evolução que vêm acontecendo há bastante tempo. Pela quarta vez consecutiva, os cursos de agronomia e ciências contábeis tiraram nota ?A?. A participação acadêmica nas provas foi decisiva para atingirmos essa evolução?, explica.

O diretor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – Cefet-PR, Carlos Eduardo Cantarelli, posicionou-se positivamente com relação ao desempenho daquela instituição. ?Como ainda não somos uma Universidade, a responsabilidade de oferecer cursos de qualidade é essencial para que possamos crescer como instituição. O que prova isso são as notas A e B na maioria dos cursos avaliados nesse Provão?, admite.

MEC revela que avaliação foi insuficiente

O Ministério da Educação (MEC) gastou R$ 25 milhões este ano para realizar o Exame Nacional de Cursos, o Provão. Mas a conclusão da equipe do ministério é que a avaliação não foi suficiente para revelar a condição do ensino superior no país. ?Os instrumentos que nós herdamos são frágeis. O Provão avalia o aluno para dizer como está a instituição?, afirmou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Araújo.

Apesar de já saber da fragilidade da avaliação, o presidente do Inep explicou que a aplicação do Provão é obrigatória por uma determinação legal, aprovada pelo Congresso Nacional. ?Não considero que é um dinheiro jogado fora porque as informações sobre o aprendizado do aluno vão ser utilizadas pelas instituições e servem de reflexão para as políticas públicas do novo sistema de avaliação?, defendeu Araújo.

Para o próximo ano, o MEC vai adotar o Índice de Desenvolvimento da Educação Superior (Ides). A nova avaliação foi elaborada a partir do resultado do trabalho de quatro meses de uma comissão especial, formada por especialistas e professores universitários.

A principal deficiência do Provão, segundo o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior, Dilvo Ristoff, é a distorção dos resultados. Os conceitos relativos, que vão de A a E, não revelam a realidade dos cursos. Ristoff explicou que, como é comparativo, esse resultado apresentará, obrigatoriamente, instituições com conceito A, mesmo que não tirem notas entre 80 e 100.

?Criou-se um mito de que um conceito A representa excelência de ensino?, comentou Luiz Araújo. Foi o que aconteceu este ano: nenhuma universidade conseguiu nota média acima de 80 pontos. Dos 26 cursos superiores avaliados pelo Provão, apenas dois obtiveram nota geral acima da média Odontologia (56) e Fonoaudiologia (55,7).
Apesar de ter conseguido a segunda maior nota média, Fonoaudiologia foi o curso que teve o maior número de instituições com conceito D e E. São essas distorções que o novo sistema de avaliação pretende corrigir.

Outros cinco cursos tiveram pontuação média entre 40 e 50, numa escala de zero a 100. O restante ficou com nota abaixo de 40. De todos os 5.897 cursos avaliados a pior nota foi a dos estudantes de Letras, com média de 19,7 pontos.

De todos os alunos, apenas quinze conseguiram tirar nota máxima (100 pontos). Catorze deles estavam se formando em Engenharia Elétrica. Outro dado curioso é que, no questionário aplicado aos estudantes, 54,4% afirmaram usar a televisão como a principal fonte de informação. E foram os que mais se situaram entre os de pior desempenho. Por outro lado, entre os que afirmaram usar a internet, as notas foram melhores, seguidos dos que lêem revistas.

Hoje, existem cerca de 3,5 milhões de estudantes universitários, o que representa 9% da população brasileira na faixa etária do ensino superior. De acordo com a projeção do Inep, serão mais de nove milhões, em 2010, cerca de 30% da população.

Região Sul está na frente em A e B

De acordo com o Exame Nacional de Cursos (Provão), está na Região Sul o maior índice de cursos com conceito A ou B e o menor com D ou E: 35,3% e 20,4%, respectivamente. No Norte, a situação é bastante diferente: dos cursos participantes, 11,8% obtiveram os melhores conceitos e 45%, os piores. Ficaram com conceitos A ou B 27,9% dos cursos do Sudeste, 25,1% do Nordeste e 20,3% do Centro-Oeste.

A maioria dos cursos das instituições federais de ensino superior obteve os melhores conceitos no Provão. Do total de cursos que participaram do exame, 52,5% ficaram com conceito A ou B e 17,3%, com D ou E. Por outro lado, do conjunto dos cursos da rede privada, 19,3% alcançaram os dois mais elevados patamares e 30,9% localizam-se nos mais baixos.

O Provão mostra, também, que os cursos dos centros tecnológicos de educação têm um elevado percentual de conceitos A ou B, representando 44,4% do total nesse tipo de instituição. Nas universidades, 32,6% dos cursos tiveram o mesmo desempenho, e, nos centros universitários, esse índice é de 21,8%. O critério de distribuição dos conceitos no Provão leva em conta a média geral de cada área. A partir dela e da dispersão das médias dos cursos é calculado o chamado desvio-padrão, que permite a construção de uma escala de valores para a conceituação, que vai de A a E.

Mais pobres estão nas particulares

O Provão de 2003 contesta a crença de que os filhos dos ricos estão nas universidades públicas e os dos pobres, nas particulares. Dos formandos das públicas que participaram do exame, 70,8% são de famílias com renda inferior a R$ 2.400,00. Acima deste valor estão 29,1%. Já nas privadas este porcentual é de 41,6%. Segundo o levantamento, 26,5% dos estudantes com renda familiar até R$ 720,00 estão nas públicas. As privadas têm apenas 12,9% de estudantes com tal renda familiar.

A análise da situação financeira dos formandos é diversa da feita no documento Gasto Social do Governo Central – 2001-2002 do Ministério da Fazenda, divulgado há um mês. O documento questiona o volume de recursos aplicados nas universidades públicas alegando que os beneficiados são apenas aqueles indivíduos que estão entre os 10% mais ricos da população.

O texto da Fazenda chega a sugerir ao governo que transfira parte dos gastos com as universidades públicas ao programa de crédito educativo para ajudar estudantes de baixa renda a cursar faculdades privadas.

Para o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Araújo, os dados mostram que não se justifica qualquer mudança na gratuidade das instituições públicas com base na renda familiar. ?Fica evidente que nas instituições públicas é significativamente maior o porcentual de alunos com renda familiar mais baixa e, inversamente, nas privadas é maior o porcentual de alunos com renda familiar mais alta?, diz.

Surpresa

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, surpreendeu-se com a renda familiar dos alunos das universidades públicas. Mas afirma que mesmo assim, eles estão entre os 20% mais ricos do Brasil. ?A concentração continua?, lamenta. Segundo o ministro, os pobres em geral não passam da 4.ª série do ensino fundamental, são raros na 8.ª e quase nenhum no ensino médio.

O desafio mais urgente é garantir a estas pessoas o ensino médio, diz Cristovam, que encaminha hoje, à Casa Civil, proposta com ajuda financeira às universidades públicas e diretrizes para a reforma dessas instituições. Ele não quis adiantar pontos da proposta nem da que cria o fundo de desenvolvimento do ensino médio (Fundeb).

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