Operação-Padrão em Foz afugenta compristas

Os dias da semana de maior movimento na fronteira entre o Brasil e o Paraguai sempre foram quartas e sábados. Ontem, os compristas foram espantados pela operação-padrão dos auditores fiscais da Receita Federal, que parou 100% dos veículos na Ponte da Amizade. O número de fiscais triplicou na aduana e todos os carros de passeio, motos, vans e ônibus de turismo foram revistados rigorosamente. O fluxo maior de pessoas foi de quem atravessava a ponte a pé. Os auditores, que aguardam o posicionamento dos deputados federais, realizaram a operação pente-fino e o resultado foi o desaparecimento dos compradores, sacoleiros e turistas que temiam perder as compras.

O impasse na votação da medida provisória (MP) que regulamenta a profissão de auditor é responsável por uma onda de protestos e prejuízos que já dura cinco meses em todo o País. Sacoleiros e motoristas que transportam diariamente as mercadorias na fronteira demonstraram revolta com a baixa no movimento e os prejuízos causados pela operação-padrão.

Manuel Bandeira, de Minas Gerais, trabalha há 12 anos com compras no Paraguai. Ele e seus companheiros de trabalho reclamam do movimento grevista. ?Acho um absurdo um auditor fiscal reclamar do salário mesmo convivendo e vendo diariamente milhares de pessoas tentando sobreviver como laranja. Eles deveriam pensar que estão impedindo nosso trabalho. Eu mesmo, não sendo daqui, sei que Foz está um caos e que a criminalidade só é um reflexo da falta de emprego. Eles são responsáveis pelo aumento dos crimes. Esse povo que trabalha na ponte só quer emprego e isso a cidade não oferece?, desabafou.

Outro fator de revolta de quem sobrevive do comércio informal é o cadastramento das pessoas, o que determina a possibilidade de comprar no Paraguai. Segundo o sacoleiro Nilson de Freitas, o aperto na fiscalização é o principal motivo de aumento dos roubos em Foz. ?O cadastro deixa que as pessoas só passem um vez por mês. O prejudicado não é o comprista, é o laranja. Muita gente sobrevive dessa forma.?
Nilson trabalhava na Itaipu, como eletricista, e há oito anos decidiu ganhar a vida com o comércio informal. ?Trabalho dez horas por dia e ganho em média R$ 50,00. Se as autoridades acham esse trabalho ilegal, por que não trazem projetos de indústrias e empresas onde possam empregar mão-de-obra para a gente trabalhar??, questionou.

O motorista de uma van paraguaia, Claudio Villasvoa, conta que o movimento caiu 80% com as operações dos auditores. Nas quartas e sábados ele ganhava aproximadamente R$ 100,00 por dia. Com a fiscalização e sem movimento, ele disse que iria ganhar apenas R$ 30,00. ?O que ganho só da para comer. No Paraguai existem mais de dois mil carros e os motoristas estão em situação cada vez pior, pois com os fiscais querendo mostrar serviço, as pessoas perdem muita mercadoria e estão deixando de vir.?

Mototáxi – Os mototaxistas também foram revistados um a um. A maioria reclama alternativas de emprego em Foz para que não seja necessário continuar o trabalho na ponte. Um deles que não quis identificar-se, contou que trabalha na fronteira há seis anos e que antes era muambeiro. ?Com a operação-padrão todos perdem. Ninguém quer arriscar perder as mercadorias. Os fiscais só querem mostrar trabalho e por isso apreendem tudo. O salário deles passa de R$ 2.000,00, eu ganho R$ 2,00 em cada viagem. Será que eles têm consciência disso??, desabafou.
Quem ganha

O vendedor de chipa Aparício Rojas, paraguaio de 25 anos, foi o único a dizer que está lucrando com a fiscalização. ?Quando o movimento é mais lento, as pessoas ficam na fila e acabam comprando mais dos ambulantes. Hoje (ontem) a fila está pequena, mas mesmo assim eu vendo sempre em média 90 chipas por dia e tenho aumentado meu ganho que chega a R$ 100,00 no final da tarde?, contou ele, que trabalha há oito anos na ponte.

De acordo com um dos diretores do sindicato dos auditores em Foz, Gustavo Rohl, a categoria aguarda a decisão do governo e por isso intensifica a operação. O relatório que regulamenta a carreira de auditor fiscal com normas de atuação está na pauta de votação sendo decidida pelo Senado Federal. Mas, segundo o sindicalista, a proposta tem esbarrado na má vontade do governo. ?Nossa classe tem o apoio dos partidos, o que vale muito, mas alguém sempre consegue tirar a matéria da pauta de discussão e para que isso não aconteça mais uma vez vamos reforçar nosso movimento. Acreditamos que tudo será resolvido.?
Até o fechamento desta matéria, a medida provisória não havia sido votada no Senado. (Fonte:
A Gazeta do Iguaçu)

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