Obras de arte no presídio do Ahu

Quem visita uma cadeia dificilmente consegue imaginar que a arte encontre espaço em um local de aparência tão hostil. Mas os detentos mostram ao contrário e de suas mãos saem belíssimos quadros, revelando toda a sensibilidade escondida atrás daqueles muros. Os artistas estão cumprindo pena na Prisão Provisória de Curitiba e o projeto faz parte das medidas de ressocialização adotadas pela Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).

O detento J.L.P., 52 anos, está há 16 anos no sistema penitenciário e desde que entrou vem trabalhando com a arte. Ele e mais três colegas receberam a missão de pintar o quadro "O Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro", encontrado no ano 1200 na Ilha de Creta, de autor desconhecido.

Cada um deles fez a sua releitura da obra e o material foi exposto na igreja Santuário do Perpétuo Socorro durante 15 dias. Os devotos votaram e escolheram o mais bonito deles. J.L.P. ficou com o primeiro lugar, mas todos foram premiados com kits de pintura para que possam continuar com seu trabalho.

A artista plástica Marilene Amaral, que conduz os trabalhos, explica que a arte ajuda na sensibilização dos detentos, eles só conseguem imprimir beleza aos seu trabalho se ela faz parte dos seus sentimentos. "A pintura desenvolve a noção de valores e eleva a auto-estima", completa.

As afirmações da artista podem ser comprovadas em uma conversa com J.L.P.. Ele explica que para pintar é preciso estar em paz consigo e com os outros, em seus quadros procura passar mensagens positivas. Até o cordão das sandálias do Menino Jesus no colo de Nossa Senhora tem um significado. "Às vezes a fé das pessoas fica por um fio e é preciso alimentá-la. Ou ainda, o cordão pode representar um fio de esperança que pode aumentar com a palavra de uma pessoa amiga", diz.

Até hoje cerca de 300 alunos já passaram pelas aulas de pintura, na oficina, ficam durante três meses e depois seguem para outras atividades como artesanato, cestaria, hip hop, música, entre outros. J.L.P. se deu tão bem no ofício que ele e outros colegas já viraram professores e ensinam a arte para os demais.

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