Dia dos pais

O que você está esperando para brincar e estar com seus filhos?

Nas pesquisas psicológicas, o pai sempre foi esquecido ou deixado propositalmente de lado até muito recentemente. E mesmo atualmente, a maioria absoluta dos estudos – cujo objetivo é coletar dados sobre os “cuidadores” de crianças e adolescentes -, fala com as mães.

A mudança do pai na família levou muito tempo para iniciar e, ainda hoje, esse cuidado não é unânime embora os homens estejam entendendo que o seu papel é muito maior do que trazer o  dinheiro para casa. Até porque as mulheres há muito tempo também são provedoras e raras são as casas em que há apenas um abastecedor.

Sim, atualmente, muitos papais – mas não todos – trocam fraldas, seguram os bebês para arrotar e levam as crianças na escola. Porém, um número muito menor de papais vai às reuniões na escola, assiste palestras sobre educação de filhos (raríssimos!), ajuda nas tarefas escolares ou leva as crianças a médicos.

E grande parte dos papais mais descolados falam com orgulho que “ajudam” sua esposa, seja brincando com os filhos enquanto ela prepara o jantar ou levando o seu prato até a cozinha. Fiquem atentos: ajudar não, participar! Tomar parte meeeeesmo nas tarefas domésticas é outra questão, ainda para poucos.

Mas isso pode não ser tão grave. Não é preciso “dividir” exatamente as tarefas, do tipo eu lavo metade dos pratos e você a outra metade. As tarefas podem ser feitas por especialização: ela lava os pratos e ele leva o lixo para fora, arruma a pilha de revistas, dá comida para os cachorros, joga bola com os filhos e grava os filmes que ela gosta…

De qualquer forma, melhorou muito a participação do homem no cuidado com o lar e com os filhos nas últimas décadas, embora eles tenham apenas cinco dias de licença paternidade. Na Suécia há uma licença parentalidade de 480 dias, em que o pai e a mãe podem dividir como quiserem e dois meses são obrigatórios tanto para a mãe quanto para o pai. Um dia chegaremos lá.

Novos estudos revelam a importância e os efeitos benéficos de um pai presente. Talvez a maior mudança do homem-pai tenha sido a “liberação” do afeto. Sim, liberação porque ele estava lá escondido ou enterrado embaixo de uma montanha de supostos argumentos de virilidade, tais como, “homem não chora”, “menino não brinca com bonecas” ou “tenha coragem, não seja maricas”.

Criava-se homens não-emotivos e sem intimidade. Hoje eles assumem sem pudor seu afeto, beijam os pezinhos e afinam a voz para falar com bebês. A identidade e a realização masculina ainda estão muito relacionadas com o seu trabalho, mas cada vez mais os homens admitem que o único papel em que não existe demissão é o de pai.

Cada vez há mais fotos na Internet mostrando papais sendo maquiados por suas filhinhas, cheios de lacinhos nos cabelos e até com batom cor-de-rosa. E as fotos são muito curtidas, não porque sejam apenas engraçadinhas, mas porque são cheias de ternura. Jogar bola com os filhos já era comum -mesmo eventualmente -, mas deixar a filha colocar fitinha no cabelo é novidade.

Em especial esse papel com as filhas tem uma importância imensa, pois vai-lhes ensinar um modelo positivo de “homem”, mais envolvido e sensível. Há estudos, por exemplo, que mostram que a presença e o envolvimento do pai é um fator de proteção para atividades sexuais precoces em garotas.

Pesquisas em Psicologia revelam pelo menos três fatores importantes para o envolvimento de papais atuais: engajamento, acessibilidade e responsabilidade. Engajar-se é cuidar diretamente, dar banho, contar historinhas e brincar de super-herói. Acessibilidade é “estar perto” mesmo sem ter interação direta com a criança, por exemplo, ver as mensagens no email enquanto a criança brinca com o celular (ooops!), com aquele brinquedo educativo que o pai comprou para ela. O terceiro tipo de envolvimento, a responsabilidade, é o fato de o pai levá-los ao médico, assegurar que as crianças tenham roupas e a,limentos, e o quanto o pai planeja o futuro para seus filhos.

Essas pesquisas comprovam, sem sombra de dúvida, que maior nível de envolvimento paternal na vida de seus filhos traz imensos benefícios para o seu desenvolvimento (sim, dos filhos e do próprio pai!).

Papais mais envolvidos são mais autoconfiantes e efetivos em seu papel de pai, tem maior maturidade emocional, acham a parentalidade mais satisfatória, sentem-se mais importantes para seus filhos, tem o desejo de envolver-se ainda mais e tem até melhor satisfação conjugal! O que você está esperando para brincar e estar com seus filhos? Feliz Dia dos Pais!

Lidia Dobrianskyj Weber é Psicóloga, doutora em Psicologia pela USP com pós-doutorado em Desenvolvimento Familiar pela UnB, professora da UFPR, autora de 13 livros, entre eles “Eduque com Carinho” (Ed. Juruá, 16a. tiragem)

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