Negócio paralelo no transporte de cargas

A queda da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, ocorrida há cerca de três meses, acabou resultando na existência de um serviço paralelo na região. Como o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) proibiu o tráfego de caminhões com mais de 45 toneladas na ponte que está sendo usada para ida e volta de Curitiba a São Paulo, caminhoneiros que possuem cavalo mecânico (parte dianteira dos caminhões) têm cobrado para levar a carga de caminhões bitrens – que suportam até 57 toneladas.

Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), Aldo Fernando Klein Nunes, os caminhoneiros têm pago cerca de R$ 50 para que autônomos façam o transporte. Eles desengatam uma das carretas de seus veículos e as repassam a outros, que as levam até o outro lado da ponte. "Também soubemos que alguns postos de combustíveis têm realizado o serviço como cortesia a seus clientes. Assim, eles fazem o transporte em troca de abastecerem em seus estabelecimentos", comenta.

Além de oferecer a cortesia, donos de postos também estariam cobrando dos autônomos uma diária de cerca de R$ 50 pela utilização de seus pátios para estacionamento dos cavalos mecânicos e desengate das carretas. Porém, Aldo revela que a maior preocupação do Setcepar é com o transporte de cargas perigosas. De acordo com ele, muitos dos autônomos que estão prestando serviço não são habilitados a carregá-las. "Produtos tóxicos estão sendo colocados nas mãos de pessoas despreparadas. Isso pode resultar em graves acidentes."

Polícia Rodoviária

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adriano Marcos Furtado, diz ter conhecimento do fato de transportes estarem sendo realizados por autônomos. Ele informa que, no entendimento da PRF, a atividade não é irregular e que os veículos dos prestadores de serviço estão sendo fiscalizados. "Estamos realizando fiscalizações 24 horas e já constatamos que existem autônomos habilitados. O que consideramos errado é a cobrança pela utilização de pátios de postos", disse.

DNIT

Embora o Setcepar tenha realizado um estudo mostrando que os bitrens causam o mesmo dano que um caminhão comum à estrutura das pontes, o engenheiro do DNIT Ronaldo de Almeida Jares informa que, em princípio, o departamento não deve liberar a passagem de bitrens até que a ponte que caiu seja reconstruída.

Novidade virou fonte de renda de caminhoneiros

Apesar das críticas, os caminhoneiros autônomos afirmam que o serviço executado por eles tem sido fonte de renda e sustento da família. "Tenho feito o transporte de carretas de bitrens desde o dia 5 de fevereiro. Sem precisar viajar, garanto o sustento", declara Vladimir Benfato, que mora em Curitiba.

Na mesma situação está o autônomo Edson Antônio Figueira, que mora em Campina Grande do Sul e começou a fazer o transporte das carretas há um mês. Ele acredita que seu trabalho tem sido bastante útil aos demais caminhoneiros. "Se não houvesse os autônomos, os caminhoneiros levariam cerca de duas horas para atravessar com as duas carretas", afirma.

Os autônomos percorrem cerca de vinte quilômetros de ida e volta na ponte para fazer o transporte. Nos finais de semana, eles contam que chegam a transportar entre oito e dez carretas ao dia.

Postos

A equipe de reportagem de O Estado não conseguiu conversar com proprietários de postos de combustíveis que alugam seus pátios aos autônomos. Porém, Vladimir e Edson disseram que, embora estejam gastando cerca de R$ 260 semanais para utilizar os pátios, a despesa acaba valendo a pena. "O preço é um pouco salgado, mas os postos têm nos dado muita assistência, como permissão de uso de banheiros, chuveiro e descontos na compra de alimentos. Ficamos o dia inteiro e chegamos a passar a noite na BR", comentam.

Caminhoneiros que trabalham com veículos bitrens lamentam ter que pagar pelo transporte de uma de suas carretas. Entretanto, dizem que essa é a única maneira de atravessar a ponte e que – enquanto a estrutura que caiu não é reconstruída – o serviço prestado pelos autônomos tem sido de grande utilidade.

"A transportadora para a qual trabalho não gosta de pagar a parte pela travessia, mas diante da proibição do DNIT não tem outro jeito", conta o caminhoneiro Altamiro da Cunha, que transporta arroz do Rio Grande do Sul a São Paulo. (CV)

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