Mulheres exercem três vezes mais serviços domésticos que homens

Às 6h30, o despertador toca, ela levanta, toma banho e vai preparar o café. Em seguida, acorda o filho que tem mais um dia de aula. Às 7h15, os dois já estão no carro em direção à escola. Às 8h30, ela chega ao escritório e, meia hora mais tarde, entra em uma reunião que só termina por volta das 13h.

Sem tempo para almoçar, segue para uma vistoria fora do escritório. Conversa com funcionários e gerentes para elaborar um relatório. Às 18h, liga para casa para conferir se o filho chegou e, já dentro do carro, fica mais uma hora parada em um congestionamento. Em casa por volta das 19h30, ajuda o filho a fazer a tarefa antes de brincarem um pouco. Às 20h30, o menino já está na cama e ela senta para preparar os relatórios, sem previsão de terminar.

Esse roteiro fictício se repete todos dos dias na vida de muitas mulheres, que conquistaram importantes funções no mercado de trabalho, mas ainda continuam tendo uma tripla jornada em casa e com os filhos. Apesar de em muitos lares a divisão de tarefas estar mais igualitária entre homens e mulheres, são elas que ainda continuam tendo uma carga maior de funções.

Um estudo feito pelo Ibmec (instituição de ensino que se dedica a pesquisas nas áreas de negócios e economia) de São Paulo apontou que mulheres com jornada semanal de 40 horas ou mais fora de casa, trabalham quase três vezes mais em serviços domésticos do que homens, que cumprem a mesma jornada de trabalho. Enquanto eles trabalham, em média, 5 horas semanais fazendo serviços em casa, elas dedicam 18 horas por semana às mesmas tarefas.

O estudo levou em conta dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisou 206,5 mil pessoas com renda familiar média de R$ 1,6 mil e idade entre 46 e 41 anos. A coordenadora da pesquisa, Regina Madalozzo, ressaltou que renda, educação e idade são fatores que explicam as desigualdades entre homens e mulheres ao cumprir jornada em casa.

Quanto maior a renda da mulher, menos horas ela dedica ao trabalho doméstico, pois tem o poder para negociar essas horas. Na comparação por regiões, o Sul é onde os homens dedicam mais tempo aos serviços domésticos. Ele trabalha em casa uma hora a mais do que um homem da região Sudeste, e quase duas horas a mais que o do Centro-Oeste. Essa diferença se explica pela questão cultural, influenciada pela colonização da região.

Arquivo


Com maior participação no mercado de trabalho nos
últimos anos, mulheres não abrem mão do emprego…

… mas tentam arrumar tempo todos os dias para
também cuidar da casa, do marido e dos filhos.

Diferença está sendo reduzida

Para a assessora de Ações Acadêmicas e Projetos Sociais e Relações Interinstitucionais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Sonia Ana Leszczynski, essa diferença entre homens e mulheres está gradativamente sendo reduzida.

?Já existe um grupo de mulheres que divide as tarefas de forma igualitária em casa, pois mostra que as tarefas domésticas não são exclusividades delas. Também, que não precisam de outra mulher (diarista ou doméstica) para fazer isso. Ela divide com o companheiro todas as tarefas que antes somente ela fazia?, falou.

A assessora aposta que as futuras gerações serão diferentes, pois hoje os filhos já compartilham dessa nova realidade dentro de casa.

?A mulher não precisa ter medo de colocar em prática essa nova realidade com medo de que com a divisão vai perder espaço. Pelo contrário, cada um faz a sua parte e todos saem ganhando?, disse.

Na avaliação da presidente da Associação das Mulheres de Negócios de Curitiba (BPW Curitiba), Alba Regina de Leão Buchi, as mulheres acabam desempenhando mais funções, fora e dentro de casa, ?porque tem o poder de fazer?. Apesar disso, ela também defende que a divisão de tarefas no lar precisa aumentar. (RO)

Salário delas ainda é menor

Que a mulher, mesmo ocupando cargos iguais aos dos homens, ainda têm um salário menor é historio, e não é exclusividade nossa. Nos Estados Unidos, as mulheres ganhavam em 2006 em média 30% menos que os homens, percentual muito semelhante ao observado no Brasil. Há alguns anos, esse diferencial era maior: 34% nos EUA (em 1999) e de 32% no Brasil (em 2000).

?Se a redução do diferencial de renda por sexo é um indicador de desenvolvimento, parece que não estamos tão mal em relação à maior economia do mundo?, observa o economista e coordenador do Painel de Conjuntura do ISAE-FGV (Fundação Getúlio Vargas), Robson Gonçalves. Segundo ele, no Paraná os dados do IBGE de 2006 mostram que a diferença de renda na Região Metropolitana de Curitiba é praticamente igual à média nacional: cerca de 30%.

No Estado como um todo, esse diferencial chega a quase 35%, o que mostra que a capital é menos desigual que o interior. Mas em 2000 as mulheres ganhavam cerca de 36% menos que os homens no Paraná, o que colocava o Estado em uma posição pior do que a média nacional.

Para o economista, o principal indicador do avanço feminino no mercado de trabalho é a chamada taxa de atividade, isto é, o percentual de pessoas com 10 anos ou mais de idade que está no mercado trabalhando ou à procura de emprego.

?Em 2000, no Estado como um todo, essa taxa era de 64% para homens e de menos de 37% para as mulheres. Na RM tínhamos 65% e 42%, respectivamente. Mas em 2006, esse quadro já havia se alterado bastante. A taxa de atividade das mulheres subiu para quase 57% na RM?, ponderou. (RO)

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