“Mulher das Cerejeiras” doa sementes da árvore à Prefeitura de Cascavel

Elizabeth Komori, 62, desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1954, aos 10 anos de idade. Ela veio do Japão, com os pais, para iniciar uma nova vida por aqui. Naquele período, a jovenzinha já admirava a coleta minuciosa da semente e o plantio da mudas de cerejeira feita pelo pai, Shigueki Michimori, mas nunca imaginaria que pudesse se tornar herdeira desta mesma vontade de propagar no Brasil ? através desta árvore ? a beleza que é típica do Oriente. Contudo, somente anos mais tarde Elizabeth deu início ao que considera sua sina. "Meu pai morava na capital de São Paulo e não tinha como plantar as sementes, dando a mim ? que morava em uma fazenda próxima a Nova Aurora ? a responsabilidade de fazê-las nascer", explica ela.

Só que na mente de Elizabeth, o local mais apropriado para estas árvores era no centro da cidade. "Preferi plantar no perímetro urbano de Cascavel porque a flor da cerejeira é muito bela e pode tornar a cidade visualmente mais bonita", comenta. A primeira tentativa, então, aconteceu nas imediações da rua Antonina, no bairro Country, e foi satisfatória, fazendo com que a "florista" repensasse a idéia de distribuí-la por toda cidade. "A planta se adaptou muito bem ao clima daqui".

Em 1993, decidiu fazer uma doação de mudas à Prefeitura, com a intenção de tornar as cerejeiras um acréscimo aos cartões postais. "Tratei cada muda até o momento exato de entregá-las, pois a semente precisa ficar cerca de um mês na geladeira antes de ser plantada e o caule deve ter tamanho maior que um dedo para ser transferido definitivamente à terra", conta Elizabeth.

As mudas foram plantadas em alguns pontos estratégicos, como Terminal Rodoviário e Lago Municipal, além das proximidades da Polícia Militar e igrejas. Elizabeth Komori se tornou conhecida por todos como a "mulher das cerejeiras" e sua responsabilidade crescia junto com suas plantas. "Meu pai, quando vinha de São Paulo à Cascavel, pedia para eu levá-lo aos lugares onde estavam plantadas. Ele fazia a poda dos brotos e cuidava delas, que contam um pedaço de nossa história", relembra Elizabeth.

Morando atualmente no Mato Grosso, Elizabeth visita Cascavel uma vez ao ano para ver as árvores. "É como se elas fossem da família. Estão cada ano mais lindas", disse esta semana na Prefeitura, pouco antes de voltar para casa.

Mais doação

A "mulher das cerejeiras" doou, desta vez, cerca de 10 mil sementes à Prefeitura. Seu sonho, explica, é fazer com que os arredores do Lago Municipal sejam forrados pelas flores rosa e roxo. Ela acaba de selecionar e colher pessoalmente as sementes doadas.

Segundo a engenheira agrônoma da Secretaria de Meio Ambiente, Mariana Mori, um pedido especial foi feito ao IAP para que semeiem as mudas da maneira correta, com o objetivo de colocá-las no planejamento da arborização da cidade. "Uma das variedades ? a Cerejeira Himalaia, que tem a flor cor-de-rosa claro e galhos mais compridos ? será distribuída pela região do Lago, enquanto a espécie que tem flor roxa, Okinawa, será plantada pelas ruas de Cascavel", diz Mariana, que já conhece Elizabeth há anos.

De acordo com Mariana, todas as espécies de cerejeiras do Japão adultas que Cascavel possui foram plantadas e cultivadas por dona Elizabeth. "Ela continua a dar seu exemplo mesmo não morando mais aqui. Este ato, certamente, a eterniza", conclui.

O secretário da Cultura de Cascavel, Julio Cesar Fernandes, enaltece o ato da "muher das cerejeiras". ?Trata-se de um exemplo prático de amor às próprias raízes, de valorização aos aspectos da cultura de seu País de origem, por isso ela merece os parabéns por se manter firme nesta iniciativa", diz ele.

A árvore

Foi dentro das malas de viagem que, há algumas décadas, o pai de Elizabeth, Shigueki Michimori, juntamente com outros imigrantes trouxeram algumas sementes de cerejeira ao Brasil. Algumas dessas experiências se adaptaram muito bem ao clima brasileiro e, a partir dos anos 80, seu plantio se espalhou por diversos locais, embelezando muitos cenários regionais.

O florescimento acontece normalmente uma vez ao ano, durante aproximadamente uma semana. Os galhos nus enfrentam o inverno para desabrochar em flor na estação seguinte, entre março e abril. No Japão, o chá de pétalas é utilizado em rituais como casamentos e ocasiões festivas. Na época de seu florescimento, são realizadas as festas chamadas de "hanami" (ver as flores), ao ar livre, debaixo das cerejeiras floridas. A árvore também é símbolo de sorte na cultura oriental. Mais informações sobre a doação pelo telefone (45) 3902-1394 (Meio Ambiente).

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