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Moradores vivem há 20 anos sem luz e água em Curitiba

Quem passa pelo viaduto da BR-116 sobre a BR-376 (Contorno Sul), no sentido Curitiba, quase não percebe que, no terreno entre as vias de retorno e as pistas principais das rodovias, há duas pequenas casas de madeira. Germano Lopes da Silva, 54 anos, e sua mãe, Lucídia Ferreira da Silva, 84, moram no local há mais de 20 anos em construções improvisadas e condições precárias. Localizadas em área de invasão, as casas não têm água encanada nem luz elétrica. “Aqui ainda usamos o lampião e água do poço”, brinca a aposentada.

Seu Germano é de Guarapuava e antes de chegar à capital paranaense rodou o interior do Estado trabalhando como carpinteiro. Ao se estabelecer em Curitiba, não pensou duas vezes antes de construir a primeira casa de madeira à beira da BR-116. “Logo que cheguei aqui comecei a trabalhar com material reciclado e andando pela região vimos esse pedaço de terra por aqui. Não tinha dinheiro pra comprar e nem alugar alguma coisa, acabamos ficando por aqui mesmo”, conta.

Na casa maior, moram mãe e filho. Na menor, funciona a pequena oficina de Seu Germano. “Como eu cato material reciclado, acho muita coisa no lixo e vou juntando. Já tenho algumas bicicletas, brinquedos, panelas velhas, peças de automóveis e mais um monte de objetos”, diz. Com um chimarrão na mão, o catador afirma que gosta de acumular o material para vender apenas quando o preço pelo quilo dos reciclados está em alta nas centrais de reciclagem. ‘Vamos observando quanto estão pagando. Se pagam bem, levo mais. Se não, levo apenas o necessário para ter o dinheirinho do mês”, revela.

Apesar das condições precárias, Dona Lucídia gosta do local. Nascida em Porecatu, na divisa do Paraná com São Paulo, diz que a vida lembra muito o interior. “Às vezes nem acredito que moro na capital e perto de duas estradas movimentadas. Aqui planto minha ervas pros meus chás. Nos fundos do terreno tem bananeira, pé de laranja e uma pequena horta. Temos quase tudo o que precisamos”, comenta.

Tranquilidade

Mesmo morando à beira de duas estradas movimentadas, Dona Lucídia e Seu Germano nunca sofreram acidente. “Só uma vez que uma carreta tombou no retorno, mas nada muito sério. Nem chegou perto de casa”, recorda. Em relação à segurança, Germano disse que apenas uma vez tentaram entrar na casa. “Ainda bem que os cachorros avisaram e o sujeito deu no pé”.

Os dois relatam que nunca tentaram tirá-los do local. “Moro aqui desde que toda essa área era apenas um capinzal. Vi construírem o contorno e toda a região crescer com esse bando de empresas por aí. Nunca tentaram me tirar. E se tentarem, vou fazer jogo duro. Estou aqui, não atrapalho ninguém e levo minha vida muito bem. Somos felizes aqui”, desabafa Seu Germano.