Marketing infantil carece de legislação

Os reflexos negativos do marketing infantil sobre crianças e adolescentes são a tônica do trabalho de alerta que a ONG paulista Instituto Alana faz, desde o ano passado, junto a pais e à sociedade. A presidente da ONG, Ana Lúcia Villela, aponta a obesidade infantil, o desgaste nas relações familiares, o consumismo exagerado, a violência na juventude e a precocidade sexual como alguns dos problemas.

O projeto ?Criança e Consumo? foi iniciado no ano passado. Segundo Ana Lúcia, existem vários estudos que apontam para os efeitos negativos do marketing em crianças e adolescentes. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) revela que as crianças brasileiras são as que mais assistem televisão no mundo todo. Ficam expostas diariamente ao aparelho 4 horas e 51 minutos. Uma pesquisa informal feita pela ONG revelou que elas assistem cerca de 40 mil comerciais num ano e dados da Universidade de Brasília mostram que 89% das propagandas de alimentos se referem a produtos calóricos, quase sem nutrientes – como salgadinhos e refrigerantes. ?Tudo isto acaba refletindo na obesidade infantil?.

Outro grande problema é o lançamento de brinquedos a toda hora. Ana Lúcia diz que as crianças não têm tempo de brincar com o que acabaram de ganhar e já querem outro. Ela diz que isso é prejudicial porque a criança nem chega a fantasiar e a usar a imaginação. ?É no brincar que ela entende a sociedade e aprende a interagir com os outros?, comenta.

Outras propagandas também forçam as crianças a amadurecem mais cedo, como as que vendem maquiagem e outros produtos de beleza. Além disso, os pequenos são alvo de comerciais que deveriam ser dirigidos aos adultos. Pesquisas mostram que 67% da influência que uma pessoa costuma sofrer para optar por determinado carro vem dos filhos e são justamente eles que mais assistem televisão. A preferência fica pelo modelo da moda, simbolizando status.

Ana Lúcia diz que a culpa por esse tipo de comportamento não é só do marketing -pais e sociedade também têm sua parcela. Para ela, uma luz no fim do túnel são os projetos de lei que tramitam no Congresso. A única regulamentação existente é do Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar), enquanto em países como Suécia, Noruega e Bélgica, a publicidade infantil é proibida.

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