Insatisfação

Manifestantes protestam em Curitiba contra os gastos da Copa

Manifestantes fecharam a Rua Cid Campelo, na Vila Barigui, Cidade Industrial, na tarde de ontem. Eles protestaram contra os investimentos feitos para a Copa do Mundo e queriam que os mesmo valores fossem revertidos em obras no Rio Barigui, para evitar enchentes como a do fim de semana. No entanto, nenhuma das pessoas que perderam suas casas e seus objetos no alagamento participavam da manifestação.

Moradores e comerciantes se mostraram contrários ao protesto, que prejudicou o caminho de quem estava apressado para chegar em casa e ver o primeiro jogo da Copa com a família. A população local estava mais interessada em enfeitar fachadas de verde e amarelo, reunir amigos e vizinhos e esperar o início da partida, para esquecer a tristeza das perdas da chuva. Até diziam que pedir mais investimentos para evitar novas enchentes era válido, mas não com aquele tumulto.

O movimento era liderado, entre outras pessoas, por Renato Almeida, 26 anos, que se identificou como assessor de movimentos sociais diversos. Usando frases como “Eu já sabia, não vai ter Copa na periferia”, “Da Copa eu abro mão, quero moradia, saúde e educação”, “Chega de sofrimento, quero o fim do alagamento”, o grupo partiu às 14h30 da frente do Colégio Dario Vellozo, com quase 40 pessoas. Com megafones convocando a população a participar, o grupo caminhou pela Rua Cid Campelo até o cruzamento com a Rua Professor Algacyr Munhoz Mader, onde ficou por cerca de 20 minutos e paralisou quase totalmente o trânsito. Os manifestantes chegaram a fazer um círculo e sentar-se no meio do cruzamento. Neste momento, cerca de 60 pessoas integravam o protesto.

Assalto

Em cima da ponte sobre o Rio Barigui, manifestantes tentaram bloquear a via colocando pneus, que foram retirados pelos próprios líderes do protesto. Os manifestantes fecharam a esquina da Rua João Bettega, desta vez sim, com pneus em chamas e blocos grandes de pedras. Segundo o inspetor Moreira, da Guarda Municipal, motoristas de dois veículos foram assaltados por manifestantes naquela esquina. A Polícia Militar e a Guarda Municipal acompanharam todo o protesto, mas não conseguiram evitar os roubos por causa do congestionamento.

Quando a GM e a PM tentaram retirar pneus e pedras do caminho, ou quando a Rondas Ostensivas Tático Motorizadas (Rotam) chegou com escudos e equipamentos para contenção de tumultos, a situação ficou tensa e pedras foram jogadas contra carros, ônibus e viaturas. Um grupo especial da Guarda também chegou a ser cercado por alguns minutos. O caminhoneiro Ivonei Pinheiro, 33 anos, que passava pelo local com um caminhão bitrem, abastecido com 17 mil litros de gasolina, bateu boca com um dos líderes do protesto e precisou de apoio de policiais para sair do local, com medo do que pudesse acontecer com sua carga. O posto de combustíveis que fica na esquina foi protegido pelos policiais e guardas, e a loja de conveniências chegou a ser fechada para evitar problemas.

Acordo

Motoristas foram impedidos de passar por cima de calçadas e canteiros e muitos ficaram mais de uma hora parados. Concordaram que é legítimo o direito de protestar, mas não bloqueando a passagem. Uma mulher disse que acordou às 4h30 para trabalhar e só queria chegar em casa logo.

Quando o Brasil fez o primeiro gol contra, em favor da Croácia, uma bola de futebol surgiu no meio dos manifestantes e o grupo começou a jogar futebol na esquina. Depois disto, a tenente Larissa, do 23.º Batalhão da Polícia Militar, se aproximou dos líderes para iniciar negociações. Renato Almeida aceitou desbloquear a rua se um representante da prefeitura conversasse com eles.

Tom Vargas, administrador da Regional CIC, da Prefeitura, esteve no local. Minutos antes de o Brasil empatar o placar em 1 x 1, os dois lados entraram em acordo. Na próxima quarta-feira, 10 representantes dos manifestantes e os secretários de Obras e do Meio Ambiente se reúnem para apresentar obras plausíveis para resolver o problema da enchente.

“A Secretaria do Meio Ambiente e a de Obras já estão empenhadas em ver onde é necessário trabalhar para ev,itar novas enchentes como esta. Mas também estamos abertos a conversar com a comunidade e entender melhor o que houve”, analisou Tom.

Pelo País

Protestos foram promovidos em outras cidades e resultaram em confrontos com a polícia. Em São Paulo, a manifestação contra a Copa reuniu cerca de 750 pessoas, 31 foram detidas e uma jornalista da rede americana CNN foi ferida por estilhaços.

No Rio de Janeiro, os mais de mil manifestantes, alguns vestidos de super-heróis, foram dispersados com spray de pimenta e bombas de gás. Quatro foram detidos. Em Belo Horizonte, entre os 300 manifestantes, vândalos depredaram agências bancárias e um carro da polícia. Um fotógrafo foi ferido na cabeça.

Treze dos 500 manifestantes de Porto Alegre, foram detidos, com drogas, pedras e coquetéis molotov. O confronto deixou dois policiais feridos e bancos e lojas foram depredados.

Faixas

Protesto contra a Copa do Mundo, no final da manhã de ontem, na Praça Santos Andrade, reuniu cerca de 20 pessoas, com faixas contra a competição. A motivação para a mobilização seria os gastos da Copa e a falta de transparência da aplicação do dinheiro. O grupo também contestava a chamado “legado da Copa”. Representantes do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) estavam entre os manifestantes.

Aliocha Maurício
O grupo de 20 pessoas carregava faixas e gritava palavras de ordem.