Manifestação por passe livre acaba em confusão

Estudantes secundaristas e universitários de Curitiba reivindicaram ontem pela manhã, em frente à Urbs (localizada na rodoferroviária), a implantação do passe livre no transporte coletivo da cidade. Houve confusão entre os jovens, policiais civis e guardas municipais. Reforços da Polícia Militar e do Centro de Operações Especiais (Cope) foram chamados. Alguns manifestantes cobriram o rosto para evitar identificações. Após o tumulto, os estudantes conseguiram um termo assinado da direção da Urbs se comprometendo em analisar os pedidos do movimento em até 30 dias.

Por volta das 10h, um grupo com 300 estudantes foi até a sede da Urbs e tentou entrar no local. Houve empurra-empurra, o que resultou na quebra de uma das portas de vidro do prédio. A segurança foi reforçada com guardas municipais e policiais militares. "Fomos impedidos de entrar em um espaço público. Começou a confusão e o vidro acabou quebrando. Não foi intencional", explicou Thiago Bagatin, integrante do Movimento Passe Livre, que organizou o protesto. Os funcionários da Urbs deixaram os balcões de atendimento temendo uma invasão dos estudantes. O serviço de venda de crédito ficou paralisado das 10h às 11h30.

Munidos de apitos, gritos de ordem e batuques, os estudantes reivindicavam a implantação do passe livre em Curitiba. Bagatin afirmou que os alunos já fizeram diversos protestos nos últimos anos para conseguir o benefício, mas não obtiveram sucesso. "Apenas dar escola pública não garante que o estudante vai estudar. É preciso garantir o acesso", avaliou. O movimento elaborou uma carta pedindo o passe livre, a redução da passagem, melhora e ampliação da frota de ônibus e processos de licitação transparentes.

Durante o protesto, dois estudantes foram repreendidos por policiais da Delegacia do Adolescente, que estava presente no local, por não obedecerem a ordem de se identificarem. A tentativa de imobilização dos jovens gerou um enorme corre-corre. O vereador André Passos (PT), que estava na Urbs para uma audiência com o diretor de trânsito Gilberto Foltran, defendeu os estudantes no momento da confusão. Nenhuma pessoa foi presa.

Recebimento

O diretor de transporte da Urbs, José Antônio Andreguetto, recebeu a carta com reivindicações do movimento e se comprometeu em dar uma resposta em até 30 dias, prazo fixado pelos manifestantes. Eles exigiram um documento assinado expressando o compromisso, o que foi atendido por Andreguetto. O diretor da Urbs não quis se manifestar sobre as confusões e disse que o órgão vai analisar as reivindicações profundamente para uma resposta oficial.

Andreguetto afirmou que o passe livre para todos os estudantes causaria a elevação da tarifa para os outros usuários do transporte coletivo. "Só existe uma fonte de recursos: a passagem. Qualquer isenção, com certeza, vai causar impacto na tarifa. É preciso muito cuidado quando se fala de isenção", declarou. Andreguetto falou que a simples isenção, sem o estabelecimento de uma receita alternativa, levaria o sistema de transporte à falência. Os estudantes permaneceram na frente da Urbs mesmo após a entrega da pauta de reivindicações. Montaram na calçada uma banda, com direito a bateria e guitarra elétrica. Mas somente o primeiro instrumento foi usado. Ninguém da Urbs queria baixar a guarda para que os estudantes ligassem a guitarra na tomada.

Durante a tarde os estudantes acompanharam na Câmara de Vereadores uma audiência pública que discutia a gratuidade do vale-transporte para líderes comunitários. Fizeram uso da palavra e pediram uma audiência para discutir a situação dos estudantes e o passe escolar. O encontro ficou marcado para 9 de novembro. O protesto pelo passe livre também ocorreu em outras cidades brasileiras.

Prefeitura concede 20 mil benefícios atualmente

A legislação de Curitiba oferece aos estudantes de famílias com renda entre R$ 900 e R$ 1,5 mil, conforme o número de filhos na escola, o direito ao passe escolar, que corresponde a 50% do valor da tarifa de ônibus. Atualmente há 20 mil estudantes que utilizam o passe.

Cada aluno tem direito a adquirir 50 passes por mês ou 100 para dois meses, para usar nos deslocamentos de ida e volta da escola. As regras de concessão do benefício permitem que alunos de qualquer série da rede municipal, estadual, federal e mesmo particular paguem meia tarifa, desde que comprovem a condição de baixa renda. O aluno também precisa morar e estudar em Curitiba, com uma distância mínima de 10 quadras ou um quilômetro entre a casa e a escola. Os alunos cadastrados recebem o cartão transporte estudante para embarcar nos ônibus da Rede Integrada de Transporte (RIT).

Famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 900) têm direito ao benefício se tiverem pelo menos um filho que vá à escola. Para famílias com renda de quatro salários mínimos (R$ 1,2 mil) o benefício pode ser concedido se tiverem pelo menos dois filhos que precisem de deslocamentos. Famílias com mais de dois filhos podem pagar a tarifa com 50% de desconto, se comprovada a renda de até cinco salários (R$ 1,5 mil).

Sesp afasta delegada

Elizangela Wroniski

A delegada Selma Regina Lorega Braga de Moraes, da Delegacia do Adolescente, foi afastada do cargo pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). A nota divulgada pelo governo do Estado afirma que ela cometeu irregularidades durante a manifestação dos estudantes. Além disso, será instaurado um processo disciplinar para a apuração dos fatos.

Thiago Bagatin, integrante do Movimento Passe Livre, disse que a delegada queria conseguir o número da carteira de identidade dos jovens à força.

A nota divulgada pelo governo classificou a ação da delegada de desnecessária, porque a Polícia Militar estava conduzindo a situação de modo adequado, negociando com os estudantes.

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