Litoral ainda sente acidente com navio Vicuña

Quase dois anos após a explosão do navio Vicuña, em 15 de novembro de 2004, no Porto de Paranaguá, trechos do litoral paranaense ainda sentem problemas gerados por resíduos dos mais de 290 mil litros de óleo combustível que vazaram da embarcação. Nos manguezais das ilhas da Cotinga e das Peças, o combustível está preso às rochas, à vegetação e no fundo do mar. Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a melhor solução, por enquanto, é não retirar o óleo, pois o risco do impacto ambiental pode ser maior.

A quarta reportagem da série Raio-X do Litoral mostra como está o meio ambiente no litoral paranaense depois do acidente com o Vicuña, e como o morador da região pode contribuir para diminuir os impactos da ocupação humana. O objetivo da série é retratar a situação em que se encontra o litoral, trazendo ao leitor um retrato de pontos cruciais que devem estar na agenda do próximo governo estadual. A escolha dos temas abordados foi baseada nos depoimentos das pessoas ouvidas pela reportagem. No próximo domingo (24), a série será encerrada com as propostas dos candidatos ao governo do Paraná para sanar os problemas da região.

Após o vazamento foram afetadas seis unidades de conservação, entre elas o Parque Nacional do Superagüi, a Estação Ecológica de Guaraqueçaba, o Parque Estadual da Ilha do Mel, a Estação Ecológica da Ilha do Mel e uma área indígena na Ilha da Cotinga. ?Mas se pode afirmar que o ambiente está basicamente recuperado do acidente com o Vicuña. Mesmo assim ainda existe o registro de grande mortalidade de tartarugas marinhas com o óleo no trato digestivo. Já os rastros de óleo que restam nas ilhas são conseqüência da falta de entendimento entre os responsáveis.? A análise é do diretor do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Marone.

Na opinião do especialista, o Ibama, o IAP e as empresas que fizeram a limpeza (contratadas pelos responsáveis pelo vazamento) deveriam ter trabalhado juntos para retirar os resíduos logo depois do acidente, de forma mais veloz. ?Houve trabalhos individuais, pontuais, mas sem monitoramento global. O problema acabou indo parar na esfera jurídica, o que leva muito tempo para ser resolvido. Por isso não se tomaram medidas eficientes?, diz.

Pesca

Mas para os pescadores da baía de Paranaguá, não são só as tartarugas que estão morrendo. A Federação das Colônias de Pescadores do Paraná relata uma queda de 80% no volume de pescado. Moradores das ilhas atingidas também dizem que criações de ostras estão sofrendo de uma mortalidade anormal. ?No fundo, esses números são apenas chutes baseados no que os pescadores percebem no seu dia-a-dia. A questão é que nunca houve estatísticas pesqueiras no litoral do Paraná, nem antes nem depois do acidente, para saber exatamente qual a perda para o setor?, afirma o biólogo Leandro Ângelo, da ONG Cultimar, responsável por projetos de maricultura no litoral do Estado.

Segundo Ângelo, se realmente houve queda na produção, não é possível afirmar se foi causada pelo Vicuña ou se foi algum outro fator, pois nunca foram feitos estudos nesse sentido. ?Mesmo após o acidente, não existe essa medição. A Emater e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap) já estudaram implantar algo nesse sentido, mas até agora nada de efetivo foi feito?, revela.

Ocupação desordenada é agravante

Certamente o litoral do Paraná não começou a ter problemas com o meio ambiente apenas depois do acidente com o Vicuña. A falta de rede de esgoto, por exemplo, causa um dos maiores transtornos para a região, pois os resíduos sem tratamento são despejados em alguns trechos de praia, que ficam contaminados. A questão é tão importante para os moradores e comerciantes da região que irá ganhar uma reportagem da série, que será publicada amanhã.

Mas para o professor Eduardo Marone, um dos maiores agravantes ambientais no litoral diz respeito à ocupação humana nas áreas costeiras de variabilidade natural. ?Os problemas do ambiente na região estão ligadas ao uso, ou melhor, ao mau uso que as pessoas fazem dele. A ocupação desordenada, a atividade portuária e o saneamento precisam ser tratados de maneira mais séria?, diz o especialista. ?A maioria dos problemas no litoral não é solucionada por conflitos entre as ações municipais, estaduais e federais. Falta integração entre os poderes públicos.?

Na cidade de Matinhos fica um dos melhores exemplos disso: a Avenida Beira-Mar foi construída sobre as dunas da praia. ?As dunas são o reservatório de areia das praias?, explica Marone. O resultado disso é que a cidade é quase sempre atingida por grandes ressacas.

Programa

Dentre as boas ações que estão sendo desenvolvidas no litoral para a proteção ambiental se destaca o Programa de Proteção da Floresta Atlântica, o Pró-Atlântica, do governo do Estado. O programa surgiu em 1997 por causa de uma deficiência que o Estado tinha de levantar recursos financeiros. O Pró-Atlântica foi criado para estruturar as instituições oficiais que protegem a Mata Atlântica. Atualmente o projeto funciona em cooperação com o banco alemão KfW – a instituição financiadora do programa. Entre outras ações, o Pró-Atlântica está reinaugurando o antigo Caminho do Itupava, para atrair ecoturistas e ajudar a conservar a região da Serra do Mar. (DD)

Voltar ao topo