Lagoa do Parado abriga espécie rara de pássaro

Na margem esquerda do Rio Cubatãozinho, no Rio Preto, no interior da Baía de Guaratuba, a Lagoa do Parado é um colírio para os olhos. Uma ?cortina? de algas submerge, enquanto as plantas aquáticas mostram sua floração. Para completar o espetáculo, o céu faz da água da Lagoa do Parado o seu espelho. É uma área baixa, alagada por água doce, porém com um constante e lento ?sobe e desce?, provocado pelas marés.

As margens são formadas por vegetação muito peculiar, habitat de pequenos pássaros. Algumas árvores se sobressaem e chamam a atenção, pois são baixas e retorcidas e portam diversos tipos de bromélias e orquídeas. O local, de difícil acesso, é abundante em peixes e em caxeta, uma madeira leve, explorada para fazer colheres de pau, soquetes de feijão, rolos de macarrão e lápis. Em época de seca, a Lagoa do Parado se divide formando a Lagoa das Onças e a do Baguary.

Aves

Em meados de 1995, foi identificada na Lagoa do Parado uma ave então desconhecida pela ciência: o bicudinho-do-brejo. Além de ser uma espécie nova, o bicudinho é também um gênero novo de pássaro. Vale ressaltar que, de acordo com o secretário-executivo do Conselho do Litoral, José Álvaro Carneiro, há cem anos não se descobria gênero e espécie novos de ave no Brasil.

Por ser de uma espécie que vive em ambientes restritos, a ave foi reconhecida como ameaçada de extinção pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Recentemente, o bicudinho-do-brejo foi incluído no Threatened Birds of the World (pássaros ameaçados do mundo). Editado pela BirdLife International, o livro traz os nomes das aves em extinção no mundo.

O bicudinho-do-brejo, ou Stymphalornis acutirostris, foi descoberto em 1995. Ele é um pássaro muito pequeno, rasteiro, e foi descoberto escondido nos banhados e locais pantanosos da região. Embora pertença à família Formicaridae, ou Papa-formiga, a ave não se enquadra em nenhum outro gênero já descrito, dadas as particularidades de seu longo bico e da sua plumagem cinza-chumbo.

Falta de comunicação

João Ribeiro, 53 anos, mora há 35 na região. Ele e a família vivem sem qualquer meio de comunicação. ?Durante um tempo, até tive celular, mas depois não funcionou mais?, conta João, que gostaria de avisar aos órgãos competentes quando os pescadores praticam irregularidades. Na região, só é legal a pesca com linha. O uso da rede e de outros artefatos é proibido.

?Quando tem pescador por aqui, vou lá e aviso que não pode usar rede. Mas isso é tudo que posso fazer?, diz o morador. João entende a importância de proteger o ecossistema local. ?Se não preservar a lagoa, meus netos não vão nem conhecer peixe?, projeta.

João Ribeiro e sua família vivem da pesca e agricultura de subsistência e, para reforçar a alimentação, criam uma galinha e uma perua no quintal.

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