Jornalista mostra a vida dos que moram na favela

Os moradores de morros e favelas têm mais conhecimento sobre a vida levada pela classe média do que as demais pessoas sabem como é viver na favela, convivendo e fazendo parte da indústria do tráfico de entorpecentes. Essa conclusão foi tirada pelo jornalista Caco Barcellos, que durante quatro anos visitou, conviveu e colheu dados sobre a vida no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. O resultado do trabalho de Barcellos é o livro Abusado, onde o jornalista conta o dia-a-dia de uma favela tendo como centro uma “boca de cocaína” administrada pela terceira geração do Comando Vermelho.

Barcellos esteve ontem em Curitiba divulgando seu livro. “A classe média deve parar de culpar só o poder público, olhar para as situações e ver se também não tem culpa”, afirmou o jornalista.

Barcellos destacou que os moradores do morro conhecem a realidade pois trabalham ou têm parentes que descem o morro para trabalhar. “Normalmente os traficantes têm pai ou mãe que trabalham e ganham pouco. Aí eles optam pelo crime, com medo de seguirem a trajetória de pobreza dos pais. Isso é uma questão que poderia ser resolvida se, por exemplo, as domésticas ganhassem o que merecem. Quem não tem dinheiro para pagar com decência uma doméstica não deveria contratar uma. E não pagar como paga hoje, aumentando ainda mais o problema social”, argumentou Barcellos, destacando que no livro apenas reporta o que acontece no morro, não emitindo opinião.

O jornalista acredita que a imprensa tem que agir da mesma maneira com pessoas pobres e ricas. “Sempre que o envolvido é um ?bacana?, lhe é dado o direito à defesa. Já quando é alguém da favela, isso não acontece como deveria ser”, disse, destacando que para conseguir as informações para escrever Abusado teve que ganhar a confiança dos entrevistados, num processo que não é tão rápido.

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