Itaipu lidera movimento pelo uso racional da água

A Itaipu Binacional reforçou anteontem, mais uma vez, o compromisso de formar uma rede de conscientização em defesa do uso racional da água em toda a região Oeste do Paraná, especialmente na área de abrangência do reservatório da usina. O compromisso foi feito com toda a comunidade dos municípios lindeiros, durante o 1.º Encontro Cultivando Água Boa, no Rafain Palace Hotel. No evento, crianças representaram os municípios lindeiros e as organizações (entidades, sindicatos, escolas, universidades, entre outras) envolvidas no projeto.

“Esse encontro é importante porque, a partir daqui, reforçamos um compromisso efetivo com toda a comunidade de construir um planeta cada vez melhor”, disse o diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek.

“O conceito que se busca é o de que precisamos compreender a necessidade de cultivar água”, afirmou, na abertura do encontro, o diretor de coordenação, Nelton Friedrich. “Na natureza não existe castigo, há conseqüências.”

Participaram do encontro mais de mil pessoas, entre representantes de entidades governamentais, organizações não-governamentais (ONGs) e convidados, entre eles o governador Roberto Requião, além de entidades de classe e da comunidade indígena, prefeitos, secretários de municípios lindeiros, pescadores e agricultores. O encontro teve a presença do teólogo Leonardo Boff, que falou sobre valores humanos e a ação ecológica, e do jornalista Washington Novaes, que abordou o tema gestão ambiental e territorial. O evento começou às 8h e prosseguiu até as 18h.

Modelo

Jorge Samek lembrou que o Paraná serve de modelo de conservação de água para outros estados. Culturalmente, segundo o diretor-geral brasileiro, o Brasil sempre teve tradição de usar mal o que temos em abundância. “Assim foi com a madeira, assim foi com o ouro”, lembrou. “É tempo de reverter esse processo. Não vamos deixar que isso aconteça com a água.” De acordo com Samek, é preciso criar novos paradigmas em relação ao uso da água, que será o bem mais precioso deste século.

Para o teólogo Leonardo Boff, o bem mais escasso no mundo não é o ouro nem o petróleo, mas sim a água doce, a água potável. Boff lembrou que, de toda a água doce existente no mundo, somente 0,7% é acessível ao ser humano. Deste total, 70% vão parar na agroindústria e 20% nas grandes indústrias. Só 10% é destinado ao consumo humano.

Atualmente, quase metade da população do mundo sofre com a escassez da água. Cerca de 80% das doenças registradas em países pobres são decorrentes de problemas de contaminação da água. “A água é um bem fundamental. É ela que vai definir o futuro da humanidade”, acrescentou Boff. Por isso, segundo o teólogo, a Sede Zero deve ser incluída como prioridade no governo federal, a exemplo da campanha Fome Zero.

Questão política

Para Washington Novaes, a água tem de ser tratada do ponto de vista político. A população tem de ter acesso às informações sobre o problema da escassez da água e exigir do governo uma política para reverter esse quadro. “Temos de mudar o conceito de democracia, que hoje é representativa, para ter de fato uma democracia participativa”, acrescentou.

Segundo o jornalista, não se trata apenas de proteger o meio ambiente, mas de encontrar formatos institucionais/legais para enfrentar limites já superados ou próximos disso e que ameaçam a vida. Existem hoje no mundo 2,5 bilhões de pessoas sem acesso a formas adequadas de energia e a demanda mundial cresce 2,5% ao ano.

Se todas forem atendidas nos formatos atuais, as emissões poderão crescer muito, pois hoje a matriz energética baseia-se fundamentalmente no petróleo (45%), carvão mineral (25%) e gás natural (16%). De acordo com relatórios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Academia Nacional de Ciências dos EUA, o consumo de recursos já está mais de 20% além da capacidade de reposição da biosfera e o déficit aumenta cerca de 2,5% ao ano.

Hoje, são utilizados 13,7 bilhões de hectares para suprir as necessidades de carnes, grãos e derivados, pescado, água e energia. A disponibilidade efetiva é de 11,4 bilhões de hectares, ou 1,9 hectare por pessoa (contra uso efetivo de 2,3 hectares por pessoa). Se o padrão de utilização/consumo dos países ndustrializados fosse estendido a todos os habitantes da Terra, seriam necessários mais dois planetas.

Sanepar prepara conferência nacional

A Sanepar está participando das atividades preparatórias para a 1.ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, a ser realizada em novembro, em Brasília. O objetivo da conferência é promover o debate nacional sobre o ambiente e mobilizar a participação popular na definição de diretrizes para a consolidação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). No Paraná, as atividades estaduais são coordenadas pelas secretarias de Meio Ambiente (Sema), da Agricultura (Seab) e de Educação (Seed). As entidades coordenadoras federais são o Ibama, Incra e Funai.

Com o slogan “Vamos cuidar do Brasil”, a conferência tem a fase preparatória nos estados, com a identificação das entidades participantes, eleição dos delegados estaduais e elaboração do documento com as propostas de cada unidade da federação. Podem participar instituições públicas e privadas, ONGs, associações de moradores e demais entidades representantes da sociedade civil.

Em paralelo à 1.ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, haverá a Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, que tem por objetivo mobilizar os jovens brasileiros para o debate sobre as políticas ambientais, identificar uma nova geração preocupada com a preservação dos recursos naturais e elaborar diretrizes para um Brasil sustentável.

“A Sanepar está contribuindo nesse fórum nacional porque temos a responsabilidade social de discutir assuntos como recursos hídricos, produção e consumo sustentáveis, biodiversidade, inclusão social e ambiente”, explica a diretora de meio ambiente e ação social da Sanepar, Maria Arlete Rosa.

Ela afirma, ainda, que as atividades do saneamento básico têm uma interface muito grande com as questões ambientais, educação e inserção da população menos favorecida aos benefícios de infra-estrutura social. “Por isso, vamos contribuir para o debate e dar apoio a propostas que possam promover o uso sustentável dos recursos naturais”, disse.

Voltar ao topo