Iniciativas salvam vidas indígenas

Os problemas dos povos indígenas começaram quando o português Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil. Aos poucos a terra foi sendo tomada e os nativos cada vez mais suprimidos. Ficaram sem a sua cultura, sem a caça, a pesca e o espaço para praticar a agricultura. Em muitos lugares do Brasil as aldeias viraram favelas rurais, lugar de fome e doenças. Os problemas são muitos, mas é verdade também que no meio disso tudo existem pontos positivos.

No Paraná, a atenção dada à saúde do índio vem servindo de exemplo. A atuação de equipes de saúde vem conseguindo reduzir a mortalidade infantil e acabar com problemas como a desnutrição e a diarréia. Hoje, 19 de abril, é um dia dedicado para a reflexão da situação dos povos indígenas.

Quando o navegador português chegou ao Brasil, moravam aqui mais de 2 milhões de índios. Com o tempo, a população foi sendo drasticamente reduzida, e hoje, no Paraná, vivem apenas 12.200 índios. Boa parte deles tem suas terras demarcadas e nelas existem postos de saúde com uma equipe multidisciplinar com médicos, odontólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes indígenas de saúde (AIS) e agentes de saneamento.

Essa estrutura, formada em 1999, quando a saúde do índio passou a ser coordenada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e não mais pela Fundação Nacional do Índio (Funai), vem mudando a qualidade de vida nas aldeias. Os médicos fazem visitas semanais e o restante da equipe se encarrega de acompanhar o tratamento dos pacientes, lembrar os índios das consultas e do uso correto dos medicamentos, além de deixar em dia a vacinação das crianças.

Um dos efeitos do trabalho da equipe multidisplinar foi a redução da incidência da diarréia e das verminoses nas aldeias. Os agentes de saneamento tratam a água consumida por todos. O AIS também tem uma importância significativa. Ele ajuda a traduzir as orientações dos médicos, faz o cadastro das famílias e visita os doentes, cuidando para que a medicação seja tomada de modo adequado. Ao todo são 41 postos de saúde no estado. As tribos que não vivem em terras demarcadas não contam com toda essa infra-estrutura, mas são atendidas nos postos indígenas mais próximos ou nas unidades municipais.

Quando as doenças são de média e alta complexidade, são enviados para hospitais de referência, geralmente em Curitiba. Na capital ficam hospedados na Casa de Saúde do Índio (Casai). Segundo a chefe-substituta do Distrito Sanitário Especial Indígena Litoral Sul, Rosa Lilir Fragoso, a mortalidade infantil também vem diminuindo. Em 2003, a cada mil nascidos vivos, 25,36 morriam e, em 2004, o índice baixou para 20,83. Para Rosa, os números são reflexo do acompanhamento dado às gestantes indígenas. Mas mesmo com a redução, os números ainda estão altos se comparados aos índices alcançados pelo Estado. Em 2003, havia 16,46 mortes para mil nascidos vivos; no ano seguinte, este valor diminuiu para 15,41; já em 2005, o índice preliminar está em 14,4.

De acordo com Rosa, também houve avanços em relação à desnutrição. "A situação deixou de ser preocupante no Estado", afirma. A Funasa fez parcerias com a Pastoral da Criança e as crianças que estão abaixo do peso recebem a farinha multimistura, um suplemento alimentar. As equipes de saúde também estimulam as adolescentes a terem filhos mais tarde e incentivam o uso de métodos contraceptivos.

Falta de moradia e alimentação precária preocupam

Apesar de os cuidados com a saúde do povos indígenas ter avançado nos últimos anos, eles ainda enfrentam outros problemas como a falta de moradia e a alimentação precária, que acabam facilitando o aparecimento de doenças. Um exemplo é a aldeia Karuguá, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá algumas casas são feitas de pau-a-pique e outras de pedaços de madeira, lembrando uma favela rural. As construções rudimentares são geladas. Um fogo de chão serve para aquecer o ambiente e a fumaça é inalada com freqüência. Os dois fatores facilitam o surgimento de doenças respiratórias. Em algumas aldeias do Estado, o governo liberou recursos para a construção de moradias e desde 2003 foram investidos R$ 14,5 milhões. Mas a verba não pode chegar até a aldeia Karuguá porque ela ainda não foi demarcada.

A alimentação é outro problema. Os índios estão vivendo numa área considerada de proteção ambiental e não podem derrubar árvores para plantar e nem criar animais. Vivem do programa federal Bolsa Família e do artesanato. Eles também já gravaram um CD com as músicas que ainda são cantadas em guarani na tribo.

Além disso, nem a Funasa  nem a Funai podem levar melhorias até o local. Precariamente funciona um posto de saúde que atende as 54 pessoas, entre elas 17 crianças. Mas, mesmo com todos esses problemas, a enfermeira, Cleonice Pacheco diz que a tribo é saudável porque lá só se consome produtos naturais. Na aldeia não entram alimentos industrializados, cheios de conservantes e corantes. O programa de distribuição de leite do governo estadual também ajuda na alimentação e as crianças costumam mamar no peito até os quatro anos de idade.

Na aldeia, no momento, não moram adolescentes, por isto não há casos de gravidez precoce. Segundo Cleonice, existe um cuidado especial neste sentido, mas os métodos contraceptivos só são fornecidos para quem o cacique da tribo autorizar. "Geralmente mulheres com quatro ou cinco filhos recebem os métodos contraceptivos", explica.

Para ela, a atitude pode ser vista de duas maneiras. O nascimento de muitas crianças preocupa pela situação precária em que vivem, mas por outro lado garante a sobrevivência do grupo. (EW)

Voltar ao topo