Infra-estrutura precária atrapalha litoral

Falta de infra-estrutura, má qualidade da água e problemas de saneamento básico. Veranistas, especialistas, comerciantes e até prefeitos apontam esses três problemas como os principais do litoral paranaense. Mas se já se sabem os problemas, o que se faz para solucioná-los?

Para o engenheiro Guilherme Lindroth, que foi assessor para assuntos do litoral do governo do Estado na década de 1980, ?estamos vivendo uma crise de má vontade e incompetência?. Ele defende uma radical mudança política em que o Estado passe a intervir mais nas decisões tomadas pelos municípios praianos. ?Há cidades em que a população flutuante (veranistas) chega a ser 10 vezes maior que a fixa. E são visitantes do Estado inteiro. Nada mais justo que o governo tenha responsabilidades maiores?, comentou. O engenheiro acredita também que é preciso dar voz ativa a essa população flutuante, para que possam defender seus direitos, uma vez que são a principal fonte de arrecadação dos municípios.

Outro problema apontado por Lindroth é a falta de atrações para levar a população flutuante ao litoral fora da temporada, o que impede o desenvolvimento das cidades. ?Faltam investimentos em estrutura em geral, nas pontes, nas estradas e, principalmente, no saneamento básico. Talvez, em um curto prazo, fique impossível passar as férias na praia?, opina o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Álvaro José Cabrini.

E é justamente a falta de saneamento básico, que compromete a qualidade da água, que tem mais irritado os veranistas. ?Tem lugar que cheira a esgoto. A limpeza da praia não funciona, pois tem sujeira desde o ano novo. O povo é mal-educado, mas falta mobilização política?, reclama a advogada Maria do Rosário Antunes, que passa férias em Caiobá. Ela, o marido e os quatro filhos tiveram problemas de saúde por entrarem em contato com a água contaminada. ?Famílias inteiras, como aconteceu com a nossa, têm tido problemas de diarréia e vômito?, explicou. ?Agora que o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) está divulgando, mas já nadamos no meio da sujeira há tempos?, comentou a curitibana Alessandra Vargas, que todo o verão desce para Matinhos. ?Meu namorado é surfista, não consigo impedi-lo de entrar no mar, mas ele já ficou de cama por ter engolido essa água?, comentou a estudante curitibana Fernanda Frare.

Para a arquiteta Cinthia de Freitas, cujos três filhos também tiveram problemas de saúde, falta fiscalização nos imóveis, pois muitos não estão ligados à rede de esgoto e jogam seus dejetos direto no rio. ?Se começarem a multar, eles vão ter de se adequar?, sugere.

Os veranistas também reclamam do descaso com a praia fora da temporada. ?Isso aqui, no inverno, é uma cidade fantasma. Não tem comércio, não tem gente, não existe limpeza das ruas, cresce mato, nada funciona?, revelou a procuradora da Fazenda, Daniela Grillo.

Ressaca: preocupação fora da temporada

Outro problema que deixa os freqüentadores de Matinhos temerosos, não no verão, mas principalmente nos meses de agosto e setembro, é o risco de destruição da orla por causa das ressacas. Nos últimos anos, várias obras de contenção das águas foram tentadas, no entanto, sem sucesso.

O engenheiro Guilherme Lindroth explica que o maior agente contra o avanço das marés é a areia. Mas ressalta que ela deve ser reposta naturalmente pelo mar. Para isso, é preciso criar condições favoráveis.

É de Lindroth o projeto dos gabiões, emaranhados de pedras que formam uma espécie de muro com a finalidade de proteção e dissipação de energia, favorecendo a deposição de areia. Instalados na década de 1970 nas praias de Caiobá, os gabiões são indicados como uma das melhores alternativas para conter o avanço das águas. Até hoje eles podem ser vistos na Praia Brava, o que indica uma situação preocupante, já que, segundo o engenheiro, eles deveriam estar cobertos por areia. O problema é que esses gabiões precisam de manutenção constante. O que, segundo o engenheiro, não vem acontecendo. Além disso, ele alega que ocorreu uma série de negligências, como a abertura de novos canais pluviais para a praia, aumentando ainda mais o risco.

O prefeito de Matinhos, Francisco dos Santos, explicou que obras de contenção estão no plano de recuperação da orla, no qual o governo estadual se comprometeu a participar. Segundo o prefeito, as obras começarão em abril. O diretor do Departamento de Urbanismo da Prefeitura, Maurício Piazetta, explicou que uma das alternativas que está sendo estudada é a utilização de bolsas de concreto para a contenção da orla.

Enquanto isso, tramita na Assembléia Legislativa um projeto do deputado Cleiton Kielse, para que o Porto de Paranaguá atue na recuperação da orla do litoral paranaense. Uma contribuição inicial do porto seria utilizar a areia retirada pelas dragas para fazer a engorda artificial das praias mais atingidas pelas ressacas, destacou Piazetta. (RP)

Prefeitura reconhece problemas

O prefeito de Matinhos, Francisco dos Santos, também reconhece esses problemas. Diz que o saneamento básico é o principal problema da cidade hoje e explica a falta de investimentos: ?Temos que investir nos serviços básicos para nossa população fixa, como saúde e educação. Há ainda os gastos com manutenção e folha de pagamento. Nos sobra muito pouco para investir no turismo?, lamenta.

?Temos uma população de 35 mil pessoas, no verão, chegamos a picos de 500 mil. Não há cidade que comporte essa discrepância?, comentou. Por isso, o prefeito vê a necessidade do apoio do governo do Estado e da iniciativa privada.

Francisco Santos explicou que é só com esses apoios que a Prefeitura consegue realizar obras realmente significantes para melhorar a qualidade do turismo em Matinhos, como a recuperação da orla, prevista para iniciar após a temporada, e a Estação de Tratamento de Esgoto, investimento de R$ 17,5 milhões, prometida para julho e que possibilitará o atendimento de 107 mil pessoas. (RP)

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