Um acampamento de trabalhadores rurais sem terra às margens da BR-369, entre Cascavel e Corbélia, no oeste do Paraná, foi invadido na madrugada de ontem por um grupo de homens armados. Eles chegaram ao local, denominado acampamento Primeiros Passos, em três tratores e um caminhão.
Dez pessoas foram presas em flagrante e indiciadas por formação de quadrilha e exercício arbitrário das próprias razões (fazer justiça pelas próprias mãos).
O local, que é parte da Fazenda Bom Sucesso e de propriedade de Orlando Carneiro, é uma área ocupada por integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) desde outubro de 2005.
Cerca de 150 famílias vivem no acampamento. Após a invasão, os sem terra, em protesto, fecharam a BR-369, causando um grande congestionamento. A estrada só foi liberada por volta das 9h, após negociações entre os acampados e a polícia.
De acordo com Joaquim Ribeiro, membro da coordenação nacional do MLST e que mora na região, o ataque começou por volta das 4h. ?Eram pessoas armadas em cima de tratores, atirando em quem se aproximava?, conta. Os tratores destruíram plantações de mandioca, feijão, milho e hortaliças. Uma retro-escavadeira também foi usada para destruir dois barracões: um funcionava a escola e no outro a igreja.
Ribeiro conta, ainda, que os primeiros policiais militares que chegaram foram recebidos com tiros. Mas, após a chegada de reforços, a polícia ainda conseguiu prender 10 pessoas. ?Eles (os policiais) só não conseguiram apreender armas, apenas munição?.
Segundo a delegada Paula Martins, que cuida do caso, os presos ainda estão sendo ouvidos e permanecerão detidos, ?à disposição da Justiça?. O capitão da Polícia Militar de Cascavel, Rovane Venturin, disse que algumas pessoas foram identificadas como funcionários da fazenda. ?Acreditamos que os outros são contratados por funcionários ou pelos proprietários da fazenda?, disse.
O coordenador do movimento cobra punições severas aos acusados. ?Se soltá-los, eles vão fazer de novo?, diz. O clima no acampamento, segundo ele, ?é bastante preocupante?. Ribeiro acredita que apenas com intervenção da Polícia Federal (PF) a região que tem sofrido com conflitos violentos entre milícias e sem-terra terá mais tranqüilidade. ?Há um sério risco de acontecerem mais mortes aqui?, diz.