Greve põe em risco pacientes do Hospital de Clínicas

A greve dos servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) está colocando em risco a vida dos pacientes do Hospital de Clínicas (HC). Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, 14 pessoas estavam internadas ontem sob os cuidados de apenas quatro servidores, cinco a menos do que o normal. Além disso, 16 cirurgias eletivas tiveram que ser canceladas. Outro setor prejudicado foi a central de agendamento de consultas.

Alguns pacientes estavam esperando a cirurgia há mais de seis meses. Agora terão que remarcar e, provavelmente, esperar outros seis meses. Além disso, todos os exames terão que ser refeitos. Ontem foram feitas só nove cirurgias. ?Nós priorizamos os casos mais urgentes, como as pessoas que estavam com tumores?, explicou a diretora de assistência do HC, Mariangela Honório Pedroso.

A situação dos pacientes internados na UTI também era delicada. Apenas quatro servidores tomavam conta. O normal são nove. Durante a tarde de ontem, três pacientes precisavam de leito na unidade, mas os atendentes não queriam recebê-los com medo de não dar conta de prestar o atendimento necessário.

A central de marcação de consultas também estava lotada. Dos 14 atendentes, apenas oito estavam trabalhando. Os pacientes que vão se consultar pela primeira vez precisam confirmar o procedimento e corriam o risco de não conseguir confirmá-lo antes do horário previsto para o atendimento. Normalmente, o tempo de espera é duas horas. Maria do Pilar, 56 anos, disse que estava na fila há três horas e ainda tinha cerca de 50 pessoas à sua frente. Ela precisava garantir a reconsulta. ?É um problema ter que esperar tanto, sem almoçar ainda?, reclamou. Mariangela diz que marcou uma reunião com o sindicato para hoje para resolver o problema.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (Sinditest), José Carlos Assunção Belotto, disse que eles estão organizando uma greve responsável e os setores essenciais não serão prejudicados. Afirmou que desconhecia os problemas no HC e que a comissão de ética iria analisar a situação hoje. ?A adesão dos servidores será gradual?, reforçou.

De acordo com o sindicalista, na UFPR o restaurante universitário deve parar hoje, deixando de servir seis mil refeições diárias. Os demais setores, como biblioteca e laboratórios, devem ir paralisando gradativamente. A vice-reitora da universidade, Márcia Mendonça, disse ontem que os grevistas ainda estão se mobilizando e nenhum serviço havia sido prejudicado. Para ela, a pauta de reivindicações é justa e acredita que os servidores serão responsáveis, não paralisando os serviços essenciais.

Reivindicações envolvem PAC e Emenda 3

Cintia Végas

Foto: Lucimar do Carmo

José: ?Veto mantido?.

Os servidores aderiram à paralisação nacional por tempo indeterminado promovida pela Federação de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra) por motivos diversos. Entretanto, as principais reivindicações da categoria estão relacionadas a medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e à Emenda 3.

De acordo com José Carlos, o PAC tem um Projeto de Lei Parlamentar (PLP), n.º 1, que limita o crescimento da folha de pagamento do governo federal em 1,5% ao ano. Isso significa congelamento do salário dos servidores até 2016 e não realização de novos concursos públicos para reposição de vagas.

Já a Emeda 3, que faz parte do projeto que cria a Super Receita (união entre as Receitas Federal e Previdenciária), prevê a contratação de pessoas jurídicas e ameaça diversos direitos dos trabalhadores, como férias e licença maternidade. ?A Emenda 3 compromete os trabalhadores de forma geral. Ela foi vetada pelo presidente e queremos que este veto seja mantido?, diz.

Outra crítica dos servidores é quanto a um estudo realizado pelo Grupo de Trabalho Interministerial que prevê a transformação dos hospitais universitários em fundações estatais. Como fundações, os hospitais ficam desvinculados das instituições de ensino e seus trabalhadores deixarão de ser concursados e estatutários, passando a ser contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

?Os hospitais universitários deixam de ser 100% públicos e passam a abrir vagas para convênios. Não queremos que isto aconteça?, declarou José. A decisão de greve foi tomada por 120 delegados, que representam cinqüenta universidades brasileiras, em plenária realizada pela Federação de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra) nos dias 4 e 5 de maio.

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