Golpe do título protestado ainda é muito comum

Receber um telefonema e ser informado que tem títulos protestados em seu nome que precisam ser pagos com urgência. Muitos paranaenses estão sendo alvo de um golpe aplicado em todo o Brasil e já conhecido da polícia.

Os criminosos citam cartórios de protestos para parecer que a cobrança é verdadeira. Quando a pessoa retorna para o telefone deixado como contato, começa a negociar com criminosos o pagamento da dívida antes que o nome fique “sujo”.

Uma média de duas ou três pessoas por dia procuram a Delegacia de Estelionato de Curitiba para denunciar o crime e fazer boletim de ocorrência. O golpista, que se passa por um funcionário de uma empresa de cobrança ou por um empregado de um tabelionato, comunica o cartório onde está o título protestado, o nome do tabelião e o endereço correto.

Mas fornece um número de telefone falso para retorno. Neste momento, a vítima entra em desespero, entra em contato novamente e fala com os criminosos. Alguns golpistas ainda tiram informações sobre os protestos em editais publicados em jornais e ligam para o alvo já sabendo os dados pessoais e o valor devido.

Na semana passada, o empresário Sidney Matias recebeu uma ligação como esta, informando que a empresa dele teria seis títulos protestados, cada um com o valor de R$ 396,70.

O criminoso pediu diversos dados da empresa e deixou o telefone falso para retorno. O golpista também deixou o número de uma conta corrente para que o dinheiro fosse depositado e a situação se resolvesse prontamente.

“Eu estranhei, mas ainda tentei retornar para o número, mas caía a ligação. Foi quando resolvi ligar no cartório citado. Me informaram que outras pessoas já tinham ligado para lá e que isto era um golpe”, comenta.

A reportagem consultou cartórios de Curitiba que confirmaram as consultas informais sobre títulos protestados depois de receberem ligações de cobrança. Um funcionário de um cartório, que pediu para não ser identificado e nem citar o local, contou que a procura é bastante frequente. “A gente diz que é golpe”, afirmou.

De acordo com a Delegacia de Estelionatos, já havia registros deste golpe, mas desde o início deste ano a quantidade de pessoas lesadas vem aumentando. “Tem gente que cai no golpe pela ansiedade de limpar o nome e se ver livre da situação”, explica o superintendente da delegacia, Altair Ferreira. “Não façam nada pelo telefone”, orienta.

A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR) alerta que os cartórios não fazem este tipo de ligação. “Os tabelionatos de protestos não ligam. Somente mandam intimação. Caso isto não dê certo, aí a comunicação acontece em edital em jornal de grande circulação. Não existe pagamento em conta corrente. O pagamento acontece nos próprios cartórios. Alguns maiores emitem boletos bancários que são pagos em postos dos bancos dentro dos próprios cartórios”, esclarece o presidente da entidade, Rogério Portugal Bacellar.

De qualquer maneira, ele aconselha as pessoas que receberam estas ligações a consultarem os cartórios de protesto para colocar fim na dúvida. Segundo Ferreira, é complicado chegar até os golpistas porque eles utilizam o serviço “Siga Me” das operadoras de celulares, que desviam as ligações para os aparelhos de telefonia móvel.

Com documentos falsos, alugam linhas de telefones fixos e salas comerciais, que ficam fechadas. “A polícia faz o rastreamento e chega em salas alugadas usadas apenas para colocar a linha fixa de telefone”, esclarece.