Gases poluentes podem ser aproveitados

Foto: Aliocha Maurício/O Estado

No aterro da Caximba, quantidade de lixo orgânico é enorme.

O problema de mau cheiro nos entornos das estações de tratamento de esgoto e dos aterros sanitários é questão que incomoda a população e preocupa os órgãos competentes. Porém, mais do que resolver o odor, estudiosos sugerem o aproveitamento dos gases que o causam para uso combustível, o que seria um favor também ao meio ambiente, uma vez que alguns gases produzidos com a decomposição do lixo orgânico são poluentes. Para isso, no entanto, são necessários pesquisa e investimento, o que ainda é estudado pelas companhias de saneamento.

Quem mora perto das estações geralmente reclama: por mais que haja esforço para tratar os gases liberados da decomposição do lixo orgânico, o cheiro incomoda. "O problema é que a cidade acaba engolindo os empreendimentos", ressalta o professor do departamento de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Miguel Mansur. Quando projetadas, as estações são em geral instaladas longe de grandes concentrações urbanas, mas a expansão dos loteamentos e moradias acaba invadindo o espaço. "Restam apenas as medidas corretivas, de gerenciamento dos resíduos gerados pelo tratamento", afirma. Uma das formas de se fazer isso, diminuindo o odor que sai das estações, é pelo uso de reatores anaeróbios. "É como se fosse um grande fermentador. Trata-se de um processo biológico, feito pelos próprios microorganismos gerados na decomposição", explica o professor. Para isso, as unidades são cobertas e os gases coletados, queimados. "Isso indica que são excelentes combustíveis". O problema é que, no Brasil, nem todas as estações de tratamento são preparadas para esse processo. "E quanto mais se encarece o processo de tratamento, menos pessoas são contempladas. Entre investir para amenizar o odor e dar tratamento de esgoto à parcela da população que ainda não é atendida, ficamos com a segunda opção", equipara. Segundo Miguel Mansur, pelo menos metade da população brasileira ainda carece deste serviço. Outro fator que pesa, porém, é que os gases que surgem nas estações de tratamento, especialmente o sulfídrico – e o mesmo vale para os aterros sanitários – são também poluentes. Seu reaproveitamento seria também um favor ao meio ambiente.

De acordo com a diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, no Paraná já existe estudo como tentativa de viabilizar o uso dos gases para este fim. "É a utilização como crédito de carbono", explica, conforme contemplado no Protocolo de Kyoto. "Mas não há no Protocolo de Kyoto o termo para usar crédito de carbono na área de saneamento. Estamos elaborando termos de referência para pleitear a utilização do gás das estações e incluí-lo no protocolo", ressalta a diretora. Com os créditos, seria viável às empresas de saneamento aplicar tecnologia e capturar o gás para vendê-lo ou usá-lo em abastecimento próprio. "Seria também uma melhoria tecnológica para garantir o seqüestro de carbono". Atualmente, a Sanepar utiliza cloro em suas estações de tratamento para diminuir a concentração dos gases que dão origem ao cheiro de esgoto nas proximidades. O processo ameniza, mas nem sempre dá conta de eliminar o problema.

Preocupação com odor é recente

A preocupação com os cheiros liberados nas proximidades de indústrias ou estações de tratamento de esgoto no Brasil é recente. Inclusive, o Paraná foi o primeiro estado do País a legislar sobre o assunto, exigindo a medição da concentração odorante nos entornos de fontes pontuais, como chaminés. Quem destaca é o professor Henrique de Melo Lisboa, do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "A unidade de odor consiste em quantas vezes um determinado cheiro está acima de seu limite de percepção", explica. Isso implica dizer que o que é de bom senso para o nariz tem formas técnicas de ser aferido. Essas formas consistem em diversos processos. "Um deles é fazer uma enquete com a comunidade, entrevistando a vizinhança e trabalhadores da própria empresa para investigar a fonte e a intensidade do odor." A maneira de identificar tecnicamente essa intensidade é pelo uso do butanol, que permite chegar a uma escala de referência do cheiro. Parte-se, então, para as análises físico-químicas, detectando as substâncias químicas que compõem um certo odor. (LM)

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