Final feliz na maioria dos casos de desaparecimento

Durante três anos a diarista Carla Maria Gonçalves viveu momentos de desespero, sem ter notícias do filho Tiago Gonçalves, que, na época tinha 12 anos, e desapareceu quando saiu para ir à escola. Cada informação sobre o menino era conferida pessoalmente pela mãe, que confessa ter ido a lugares onde nem a polícia queria entrar. O drama de Carla terminou depois que Tiago viu a foto dele estampada em um cartaz na Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba, e resolveu voltar para casa.

"Quando ele voltou, foi uma alegria enorme", diz Carla, que afirma que o menino queria viver uma "aventura" e por isso decidiu sair sem dar notícias. Nesse período ele viveu pelas ruas e encontrou abrigo e emprego em um parque de diversões. "Mas apesar disso, hoje ele afirma que não existe lugar melhor que a casa da gente", conta. A história da Carla é parecida com a de muitas mães que vivem o drama de ter os filhos desaparecidos no Paraná. No período de 1996 a 2005, foram 758 casos de crianças desaparecidas, dos quais 98% foram resolvidos pelo Serviço de Investigações de Crianças Desaparecidas (Sicride).

O órgão, que foi criado há cerca de dez anos, funciona como uma delegacia especializada e tem como função centralizar o registro de ocorrências sobre crianças desaparecidas, além de investigar os fatos.

A delegada do Sicride, Márcia Tavares dos Santos, comenta que o Paraná é um dos únicos estados que possui uma unidade policial com estrutura própria para o atendimento a crianças desaparecidas, com plantão 24 horas. Desde a criação do Sicride, apenas oito casos continuam sem solução – alguns anteriores a 96.

Em cerca de 70% dos casos de desaparecimento, comenta Márcia, as crianças fogem de casa. "Além de encontrar as crianças, nós também fazemos um levantamento para saber os motivos dessa fuga, se há conflitos familiares, envolvemos órgãos como o Conselho Tutelar e o Juizado Criminal para resolver a questão", explicou. A delegacia também identifica as regiões com maior número de casos e promove palestras para a comunidade visando discutir o assunto e trabalhar na prevenção das ocorrências.

Modelo

O sistema de investigação do Paraná é considerado modelo dentro do País, e já está servindo de exemplo para a criação de entidades semelhantes em outros estados, diz o coordenador da Rede Nacional de Identificação e Localização de Crianças Desaparecidas (ReDesap), Alexandre Reis. A entidade, criada há dois anos, está ligada à Secretaria Nacional de Direitos Humanos, e pretende promover uma integração entre os estados para que as ações sejam unificadas e os resultados mais eficientes.

De acordo com Reis, uma das grandes dificuldades hoje é saber o número exato de crianças que desaparecem no País. As estimativas apontam para 40 mil casos por ano, sendo que 80% são resolvidos rapidamente. No entanto, Reis acredita que esses números possam ser maiores e somente com a integração entre os estados será possível melhorar esses resultados. "Estamos fazendo um levantamento nacional, com o apoio do Ministério da Justiça, e até o mês de julho deveremos ter uma resposta, e a partir daí, definir as formas de ação", finalizou.

Esperança de achar dois filhos

Mas o drama de ter um filho desaparecido parece estar longe de terminar para o casal Vanderlei Botzan e Vera Lúcia da Silva. Em agosto de 2003, dois dos cinco filhos deles desapareceram em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Alex da Silva Botzan, de 10 anos, e Cláudio da Silva, 11 anos, saíram de casa por volta das 9h30 e avisaram um tio que iriam brincar com um colega em uma propriedade próxima à residência. Cerca de 15 minutos depois, Vanderlei foi avisado sobre a saída dos filhos e, em seguida, foi procurá-los, mas não encontrou.

"Eu fui atrás deles porque não queria que eles fossem, pois fazia frio naquele dia. Mas fiquei sabendo que nem chegaram na casa do tal amigo", disse Vanderlei. Desde o dia do desaparecimento, em 24 de agosto, o casal recebeu apenas trotes sobre o paradeiro dos filhos. Vera Lúcia afirma que não existiam motivos para as crianças saírem de casa, e ela acredita na possibilidade deles terem sido atraídos por algum presente. "Eles gostavam muito de cavalos, e dias antes haviam comentado que iriam ganhar o animal de um amigo. Mas nem dei bola para a afirmação, pois pensei que fosse coisa de criança", lembra.

O casal reclama que, quando avisou a polícia, eles mandaram esperar 24 horas para registrar a ocorrência. Além disso, acreditam que, se mais fotos das crianças fossem espalhadas pelo Brasil, poderiam já ter encontrado os filhos. "Eu sempre procuro o rosto deles nesses cartazes que espalham pela cidade, mas eles nunca estão entre as crianças", diz Vera, que apesar da falta de pistas, tem esperança de encontrar os filhos. Quem tiver alguma informação pode entrar em contato com o casal pelo telefone (41) 9126-1526. (RO) 

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