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Família se une para produzir hortifrutigranjeiros orgânicos

Se o sobrenome Escher é conhecido no mundo inteiro por causa do artista gráfico holandês, mestre do ilusionismo, na Grande Curitiba ele é referência em agricultura orgânica. De origem alemã, a família Escher deixou a cidade de Eneas Marques, no sudoeste do Paraná e a cerca de 20 quilômetros de Francisco Beltrão, para se estabelecer em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. No sítio de 20 hectares, a 35 quilômetros da capital, eles produzem hortifrutigranjeiros orgânicos, além de outros produtos, como pães, geleias, leite, iogurte e molhos. A comercialização é feita em três feiras da capital.

Em Eneias Marques, o casal Adelmo e Maria Salete e seus três filhos trabalhavam com agricultura tradicional e produção de grãos. Há 13 anos, eles decidiram migrar para Campo Magro para cultivar suas hortaliças e frutas e vendê-las a um público quatro vezes maior do que havia na região onde moravam. “Tínhamos vontade de trabalhar com orgânicos, mas lá não havia mercado consumidor”, conta Luciano, 28, um dos filhos do casal.

No ano passado, a família inaugurou o barracão de 200 metros quadrados voltado ao beneficiamento de leite e à fabricação de pães, geleias e molhos de tomate. Segundo Luciano, o galpão só começou a funcionar depois de muita espera para regularizar o espaço e obter a licença do governo. “As regras para o pequeno produtor são as mesmas que valem para o grande produtor”, lamenta. O maquinário foi adquirido através de financiamento junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Hoje, ele, o irmão Juliano, 24, e o pai, 58, cuidam principalmente do plantio e da colheita dos vegetais.

Felipe Rosa
Há 13 anos, eles decidiram migrar para Campo Magro para cultivar hortaliças e frutas.

Enquanto a mãe, de 54 anos, administra a produção de leite e derivados, as geleias e os molhos. O casal ainda tem uma filha, que mora na capital.

Orgânicos acessíveis

Os alimentos são embalados com o rótulo Escher Orgânicos, já que são livres de produtos químicos, como agrotóxicos e hormônios. “Os alimentos orgânicos são comercializados há mais de 20 anos, mas há cinco o número de consumidores vem aumentando. A movimentação nas feiras cresceu 40%”, afirma Luciano.

O agricultor atribui essa expansão à maior conscientização dos consumidores quanto à preservação do meio ambiente e à busca por qualidade de vida. “Quando viemos para cá eram apenas três feiras especializadas, hoje são mais de 15”, conta Luciano, que desmistifica a diferença de preço entre os alimentos tradicionais.

“Caros são aqueles produtos vendidos em mercado. Mas nas feiras, quando não existe o atravessador, são tão acessíveis ou até mais baratos que os comuns. Eu chego a vender um pé de alface grande a R$ 1,20. Não acho que é mais difícil trabalhar com orgânico. Eu penso nos benefícios que isso traz para o solo, para o meio ambiente, a água e a saúde da população”, defende Luciano, que se formou em Desenvolvimento Rural e Gestão de Agroindústria, no Rio Grande do Sul. Sua noiva é de Cascavel e cursa Nutrição. Depois do casamento, ele planeja abrir um café para vender os alimentos.

Rotina começa cedo

Três dias da semana, a rotina é a mesma para a família Escher. O dia começ,a cedo: às 4h30, eles levantam da cama e passam a encher o caminhão com os alimentos, todos certificados. Às terças e quartas, seguem para a feira na Praça do Expedicionário e aossábados, participam da feira do Passeio Público e no Jardim Botânico.

Nessa mais de uma década de trabalho árduo, a família já passou por inconvenientes. “No começo, tínhamos uma Kombi. Certo dia, ela já estava cheia e quebrou no meio do caminho. Felizmente um vizinho emprestou um caminhão e nos cobrou o frete depois”, lembra. O trabalho braçal do campo já pôs em risco a saúde de três membros da família. Maria Salete teve que operar da coluna. Luciano e o pai tiveram problema no joelho.

Uma das piores adversidades é trazida pelo frio intenso e as geadas, que assolam as plantações e põem todo o trabalho a perder. Na semana da neve, as alfaces queimaram todas, mas a produção não foi perdida. “Nós tivemos que cortar as folhas queimadas e vendê-las mais barato. Foi a pior geada que já peguei na vida”, disse Luciano. Os transtornos, porém, não são nada perto do sossego e da qualidade de vida do campo, como o silêncio e a bela vista para o Morro da Palha.

Felipe Rosa
Luciano: quando não existe atravessador, são até mais baratos que produtos comuns.