Transtorno

Falta de enfermeiros suspende transplantes no HC

Apesar de muito aguardada, a contratação de enfermeiros efetivos para o setor de Transplante de Medula Óssea (TMO) do Hospital de Clínicas está se tornando um transtorno para quem espera os transplantes. Diversos procedimentos que estavam programados para esta semana estão sendo adiados devido à redução no quadro de enfermeiros no setor. Isso porque parte dos profissionais temporários que atuavam no hospital, preenchendo a demanda até a convocação dos aprovados em concurso recente, estão abandonando seus postos de trabalho, segundo a direção do hospital.

De acordo com a diretora-geral da instituição, Heda Amarante, nesta terça-feira (18), quando os procedimentos começaram a ser suspensos, somente três dos dez enfermeiros do período da tarde estavam trabalhando. “São atitudes individuais e isoladas, mas para garantir a segurança dos pacientes que já estão internados, decidimos pela suspensão dos transplantes até sabermos quais os profissionais com os quais podemos contar. Quando tivermos a escala completa, os procedimentos serão retomados”, garante. Dos 23 leitos disponíveis no setor de TMO, 18 estão ocupados.

Atualmente, o hospital conta com 51 profissionais temporários, enfermeiros e técnicos em enfermagem, que iniciaram suas atividades em 2009, quando uma sentença judicial autorizou a instituição a convocá-los para suprir a demanda até a realização do concurso, que só aconteceu em agosto deste ano. “Todos eles têm o direito de ficar até dezembro deste ano, de acordo com essa sentença, mas para garantir a permanência em nosso quadro de funcionários, alguns deles fizeram o concurso, passaram e estão sendo chamados, mas somente esses continuarão”, explica Heda.

No entanto, os funcionários temporários reclamam que não houve aproveitamento da experiência deles na contratação dos efetivos, como teria sido prometido pela direção do hospital. “Falaram para a gente que além desse concurso, que era para enfermeiro, mas sem especificar o setor, seria feito outro, destinado à equipe do TMO, no qual poderíamos usar a experiência como título. Muita gente nem se inscreveu nesse primeiro concurso porque haveria o outro em outubro, mas até agora não marcaram nada”, conta uma enfermeira que não quis se identificar.

Heda afirma que realmente o hospital pensava em beneficiar de alguma forma os funcionários que estão trabalhando temporariamente no concurso, mas isso não foi possível por meios legais. “A contratação de funcionários efetivos gerou expectativa em todo mundo, nós mesmos gostaríamos de continuar com os profissionais que já estão treinados e achávamos que poderíamos fazer outro concurso destinado ao TMO, mas tivemos que aproveitar os aprovados nesta outra seleção, que já estava aberta. E só soubemos disso depois de encerradas as inscrições”.

Além de perderem o emprego, os enfermeiros temporários também estão preocupados com as condições dos pacientes do setor. “O trabalho no TMO é muito específico e leva pelo menos seis meses até que o enfermeiro possa ficar sozinho com o paciente. E a gente sabe que ter profissionais não treinados é a mesma coisa que não ter”, opina a enfermeira.

No entanto, a diretora-geral do HC garante que não há motivos para preocupações como essa. “Os novos integrantes da equipe de TMO só atuarão sozinhos dentro de alguns meses, depois de treinados, mas tenho certeza que esse processo não será tão prolongado porque são profissionais com curso superior e experiência. Enquanto isso, eles serão supervisionados por quem já está trabalhando há mais tempo”.

Reagendamento

De acordo com Heda, a previsão é de que haja apenas uma semana de atraso no cronograma dos procedimentos agendados. “Realizamos no máximo um transplante por dia, portanto, apenas três ou quatro deles tiveram que ser transferidos, sendo que nenhum desses pacientes corre risco ,com esse adiamento”, explica. No entanto, as famílias que estão tendo que esperar mais pelo procedimento discordam da médica.

É o caso da família de Suelen Cristina Leite, de 21 anos. Há um ano e sete meses, a jovem faz tratamento com quimioterapia para conter uma leucemia aguda. Após a desistência de dois possíveis doadores no ano passado, a família encontrou outro neste ano. O transplante seria feito na próxima sexta-feira (29), mas o internamento de Suelen aconteceria nesta sexta-feira (21). “Já tivemos muitas dificuldades para encontrar alguém que pudesse doar para ela e agora estamos com medo que essa pessoa desista como aconteceu com as outras”, conta a mãe de Suelen, Francisca Leite da Silva.

Ela ainda relata que fez contato com a ouvidoria do hospital para saber qual a data da realização do transplante de sua filha após o adiamento, mas não recebeu retorno. “A única informação que me passaram era que o transplante tinha sido cancelado por falta de enfermeiros no setor, mas eu acho que uma briga trabalhista não pode prejudicar a saúde da minha filha. É uma vida que está em jogo e que depende de outra, que se propôs a ajudar”.