Exigência de etiqueta divide feirantes e consumidores

Boa parte dos produtos vendidos na feira de hortifrutigranjeiros de Irati está recebendo etiquetas de identificação, que contêm, além do nome do fabricante, a composição e data de validade. Em função dessa exigência da Vigilância Sanitária do município, alguns produtos, como leite in natura e frango, não puderam mais ser vendidos na feira. A nova postura dividiu a opinião de feirantes e consumidores.

A feira é realizada três vezes por semana e, para muitos produtores, é a principal forma de escoar a produção. O produtor Simão Perek deixou de vender leite para a cooperativa porque o valor pago pelo litro do produto – cerca de R$ 0,40 – não cobria os custos. Então passou a comercializar o leite quase que exclusivamente na feira, atingindo uma venda média de 100 litros por dia. Mas com a exigência da Vigilância, o produto só poderia ser oferecido depois de passar por um processo de pasteurização. Perek diz que não teve como manter a atividade e vendeu quatro das seis vacas da propriedade. “As pessoas que vinham comprar aqui já estavam acostumadas com o produto”, lamenta.

Já o produtor Mieceslau Teleginski optou por vender o leite direto para o consumidor, sem expor na feira. Ele conta que vendia uma média de 80 litros do produto, e agora está transformando o leite em derivados, como requeijão e manteiga. Teleginski defende que poderia haver uma fiscalização dentro da propriedade e, dessa forma, seria garantida para o consumidor a qualidade do produto. “Tem gente que é acostumada a comprar o leite para fazer coalhada, e com leite pasteurizado isso não é possível”, cita.

O coordenador da Vigilância Sanitária de Irati, Aroldo Skubisk, explica que a exigência surgiu para garantir a qualidade dos produtos para os consumidores. Ele diz que a etiqueta só é obrigatória para os produtos que são embalados ou sofrem manipulação, excluindo-se os vendidos a granel. “Em caso de problemas, o consumidor tem como identificar o produtor e fazer a reclamação”, aponta. Os produtos de origem animal, diz o coordenador, precisam ser registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que sejam identificados em sua origem.

Na avaliação do produtor Raimundo Gnatkowski, as novas exigências serão aceitas gradativamente pelos feirantes e consumidores. “Vamos conseguir nos adaptar”, acredita. Para ele, a feira continua mantendo sua característica e ofertando produtos exclusivos, que não são encontrados nos supermercados, como o pão caseiro feito no forno de lenha ou na brasa, limão caipira e batata sem lavar.

O presidente da Associação dos Hortifrutigranjeiros de Irati, Irineu Lukavy, destaca que a exigência das etiquetas não atingiu a todos os cerca de vinte associados, pois muitos trabalham apenas com frutas e verduras. Além disso, salienta que o custo da confecção das etiquetas – cerca de R$ 50 o milheiro – não impactou o custo final do produtos.

Variedade

A variedade e qualidade são os atrativos que fazem a administradora Deise Silveira visitar a feira todos os sábados. Ela comenta que a etiqueta dos produtos beneficiou os consumidores, que podem identificar quem fabrica. O casal Inês e Carmo Bora Inocêncio também vão à feira atraídos pela qualidade. Para eles, a etiqueta serve como um cartão de visitas. “Se gostar do produto, vejo quem é o produtor, e volto na próxima semana para levar mais”, fala Inês.

Para o aposentado Gabriel Klosowski, não havia necessidade de colocar as etiquetas. Freguês da feira há mais de dez anos, ele diz que não tinha o que reclamar dos produtos. Mas agora reclama da retirada do leite, que era um dos itens mais procurados por ele. “A gente sempre soube da procedência, não precisava tirar”, protesta.

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