Ex-prefeita de Agudos do Sul é acusada de aplicar golpe

Luciria da Trindade Cruz tem 71 anos. A vida toda trabalhou na roça, na localidade de Taquara Lisa, em Agudos do Sul, a 70 quilômetros de Curitiba. Viúva e adoentada, passa a maior parte do tempo cuidando de uma hortinha, ao lado da casa simples de madeira desgastada, e alimentado o cachorro e as criações. Depois da morte do marido, há seis anos, a vida ficou mais difícil. Os filhos moram longe e quando precisa de alguma ajuda, recorre aos vizinhos.

Desde fevereiro deste ano, dona Luciria não consegue dormir direito, nervosa com o desconto de R$ 103 de sua aposentadoria. O dinheiro faz falta, porque ela precisa comprar vários remédios. Naquele mês, ao ir ao banco buscar o benefício pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ela se surpreendeu com o numerário inferior ao que estava acostumada a receber. Perguntou ao caixa e ao gerente, mas não souberam lhe informar a procedência do desconto. Procurou então o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região e pediu ajuda. Apura de um lado, busca de outro, e eis que descobriram que ela estava pagando um colchão magnético, último tipo, comprado em 36 prestações de R$ 103, descontadas diretamente de sua conta bancária.

Irritada, a anciã procurou a delegacia. Nunca quis comprar um colchão, muito menos um tão caro. Tinha certeza que estava sendo roubada. Só depois de registrar a queixa que originou a instauração do inquérito policial número 003/08, é que soube que havia sido vítima de um golpe. A ex-prefeita da cidade, Luciane Maira Teixeira, 40, procurou-a em dezembro do ano passado, oferecendo-se para ajudar a instalar a luz rural na casa dela, porque assim pagaria uma taxa menor de energia elétrica. Luciria agradeceu e assinou toda a papelada que Luciane lhe mostrou, certa de que iria se beneficiar. No entanto, com aquela documentação foi comprado em seu nome o tal colchão, da empresa Magnolife, situada em Colombo, pelo valor de R$ 2.315,84. O financiamento foi feito pelo Banco Industrial.

Revolta

Com jeito humilde, de chapéu de palha e chinelo de dedo, Luciria não esconde sua revolta. ?A ex-prefeita se aproveitou da minha ignorância. Usou meu nome para fazer a compra para ela?, declarou. ?Eu achava que ela era honesta e boa pessoa, mas me enganei?. Ainda segundo a anciã, quando o caso chegou ao conhecimento da polícia, Luciane tentou dar um jeito na situação, pagando para ela as duas prestações já descontadas de sua aposentadoria, assegurando que ela não iria ter prejuízo e pedindo que a queixa fosse retirada.

?Agora não volto mais atrás. Já dei trabalho para muita gente até descobrir o que estava acontecendo. Vou até o fim?, assegurou a lavradora, dizendo-se envergonhada pela atitude de Luciane, uma mulher a quem confiava.

Diversas denúncias

A história de dona Luciria Cruz trouxe à baila uma série de denúncias contra a ex-prefeita de Agudos do Sul, cujo mandato foi de 2001 a 2004, e que agora pretende se reeleger. Luciane Maira Teixeira, 40 anos, filiada do PMDB, tem uma pequena coleção de inquéritos na delegacia local e em 25 de março passado teve sua prisão preventiva solicitada pelo delegado José Mário Franco, mas até agora não decretada.

O pedido de prisão foi feito porque, além de não comparecer às audiências para dar as devidas explicações aos casos, ela também – de acordo com o delegado -afrontava e ameaçava os policiais, dizendo ser amiga do governador Roberto Requião e da juíza da Fazenda Rio Grande (sede da Comarca), sendo protegida pela Justiça e politicamente.

Dentre as acusações que lhe são feitas estão falsificação de documento público do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) -fornecido para Nereu José da Silva, permitindo queimar uma vegetação em área de preservação.

O atual prefeito José Pires de Oliveira não quer se pronunciar sobre sua antecessora, para não parecer que está em embate político. Mas apresenta um documento mostrando que na gestão anterior não foram efetuados os pagamentos de água e luz dos 32 prédios públicos do município. A dívida teve que ser renegociada. (MC)

Defesa sem apresentar provas

Luciane Maira Teixeira, mãe de três filhos, separada do marido, vive e respira política. Filha de um ex-prefeito da mesma Agudos do Sul – eleito várias vezes -, já foi casada com o presidente da Câmara Municipal. Reside ao lado dos dois prédios públicos (Prefeitura e Câmara) e faz de sua casa um local de assistencialismo. Benzedeira, ?corta as bichas? da criançada, arruma transporte para hospital e providencia remédios. ?Meu negócio é ajudar o povo?, garante. ?Eu já sabia que iriam me aprontar. Isso tudo é armação política?, assegura. Como uma metralhadora giratória enumera benesses que faz ao ?povo? e acusa desde o atual prefeito até o escrivão da delegacia, de ?armar? contra ela. ?Na pesquisa de intensão de votos eu apareci com 60% e isso apavorou os adversários?, revela.

A ex-prefeita desmente todas as acusações, com informações confusas, mas não comprova nada. Diz que as vítimas que figuram nos inquéritos foram ?pagas? pelos adversários, para prejudicá-la. Depois de comparecer na redação de O Estado do Paraná, dizendo que iria se defender e voltaria documentada, Luciane não atendeu mais aos telefonemas e não cumpriu com sua promessa. (MC)

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