Entidades do Paraná vão processar Requião por conflito rural

As entidades classistas de Cascavel, no Paraná, decidiram mover uma ação coletiva de improbidade administrativa e prevaricação contra o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), pelo conflito agrário na fazenda experimental da Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, que resultou em dois mortos no último domingo, e pelo não-cumprimento das ordens judiciais de reintegração de posse. A decisão foi tomada durante um encontro realizado ontem no auditório da Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic).

O encontro reuniu as principais lideranças do setor produtivo e ligadas à agricultura para debater o conflito agrário no oeste paranaense. No final, os presentes acataram a sugestão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de mover as duas ações contra a pessoa física de Requião e não contra o governo do Estado. Neste ano, Requião já sofreu ação semelhante, quando a Justiça estabeleceu multa diária pessoal, de R$ 2 mil, caso o governador não autorizasse, dentro do prazo estabelecido, a reintegração de posse na Syngenta.

Na ocasião, os sem-terra saíram pacificamente do local para evitar o prejuízo a Requião. "Com as ações, pretende-se responsabilizar o governador pelos danos ao patrimônio praticado por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Via Campesina e também pelo não-cumprimento das ordens de reintegração de posse", disse o advogado e presidente da OAB-Subseção de Cascavel, Luciano Braga Cortês.

De acordo com levantamento da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o Paraná tem atualmente 86 propriedades rurais ocupadas pelos movimentos sociais. "Todas têm mandados de reintegração de posse, mas sem o cumprimento por parte do governo", disse Tarcísio Barbosa de Sousa, coordenador fundiário da Faep. As mais duras críticas contra o governador durante o encontro de ontem partiram justamente de Sousa.

Ele acusou Requião de liderar os sem-terra no Estado. "Quem lidera todos os desmandos do campo hoje e o responsável pelas mortes ocorridas na Syngenta se chama Roberto Requião", acusou Tarcísio. Ele afirmou que não existe mais espaço para reforma agrária no Paraná. "O Paraná é um Estado produtivo e não há áreas disponíveis para a reforma agrária", destacou.

Incra

O coordenador da Faep também acusou o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de conivência com a atual situação. O presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO), Alessandro Meneghel, fez um discurso mais comedido. "Lamentamos as mortes ocorridas. Ninguém quer a guerra no campo, mas também não podemos ficar de braços cruzados diante das invasões de terra e os desrespeitos às leis", afirmou Meneghel.

Além das ações, que vão ser preparadas pela OAB, as entidades aprovaram uma moção de repúdio ao governador paranaense. Amanhã a Via Campesina e os movimentos sociais de todo Paraná realizam um ato ecumênico e político de 7º dia da morte do líder do MST e da Via Campesina, Valmir Mota de Oliveira, que aconteceu no domingo. Além dele, o segurança Fábio Ferreira morreu durante o confronte na reocupação da fazenda Syngenta pelos trabalhadores rurais.

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