Economia é o melhor negócio

É recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que o poder público invista em programas de boa alimentação. Foi a partir daí que surgiu em Curitiba um conjunto de medidas voltado à questão, um dos mais completos do País. A começar pelo programa Armazém da Família, uma espécie de mercado que proporciona a quem ganha até três salários mínimos comprar em média 30% mais barato que nos estabelecimentos particulares. ?Para isso, temos um fundo com R$ 17 milhões usado pelo município para a compra de 155 itens, entre alimentos de primeira necessidade, higiene pessoal e limpeza, os quais são repassados ao consumidor a preços mais acessíveis?, explica o secretário municipal de Abastecimento, Norberto Ortigara.

Isso é possível porque a Prefeitura vende sem impostos e banca todo o custo pessoal e operacional das 22 lojas fixas e dois ônibus biarticulados utilizados para levar as mercadorias a determinados locais da cidade. Hoje, são 170 mil famílias cadastradas no programa, que fechou 2006 com cerca de 100 mil atendimentos/mês – cinco vezes o número atingido no ano anterior. ?A população, que é consultada periodicamente nos bairros, diz que é por causa da melhora na qualidade e nos preços?, atribui Ortigara. Os consumidores ditaram as marcas que gostariam de encontrar. ?Com a garantia de que se paga em dia, os grandes fornecedores vieram, o que gerou também mais concorrência?, explica. E apesar de não ser o objetivo do programa competir com os supermercados particulares, o secretário garante que preços melhores asseguram a prática de valores justos entre os estabelecimentos próximos, o que beneficia ainda mais o consumidor. ?Essas possibilidades fazem render o orçamento familiar?, garante Ortigara, que estima uma economia total de R$ 27 milhões às famílias que se utilizaram do programa nos últimos dois anos, como a da dona-de-casa Luzia dos Santos. ?O que economizo aqui sobra para comprar carne, frutas e verduras no mercado?, exemplifica. Compra do mesmo tamanho, antigamente, não saía por menos de R$ 200. Na mesma linha dos armazéns, a Prefeitura mantém sacolões populares, estabelecimentos permissionados a pequenos comerciantes que vendem ao preço máximo de R$ 0,89, estabelecido pelo poder público. São dez em toda a cidade. Só que, para esses, não há limite de renda e nem é exigido cadastro dos usuários. Há ainda o Disque Economia, serviço que fornece tabela de preços nos principais mercados da cidade pelo telefone (41) 3262-6564 ou pelo site da Prefeitura: www.curitiba.pr.gov.br. São 268 itens pesquisados diariamente. O serviço, entretanto, ainda é usado de forma tímida: 2006 fechou com 15.630 consultas à página na internet e 3.350 telefonemas, números que a Prefeitura pretende fazer crescer este ano. E, para complementar, ainda dá para fazer um curso de educação financeira gratuitamente e administrar melhor o orçamento. ?Aprendendo para onde vai o dinheiro, qualquer pessoa consegue economizar?, garante o secretário.

Internet pode auxiliar muitos consumidores

Foto: João de Noronha/O Estado
Roberto: ?Variação?.

A tecnologia também dá uma mãozinha para economizar tempo e dinheiro. Já faz tempo que as empresas se adaptaram às formas de comunicação que permitem a seus funcionários contatar-se de forma mais fácil e barata, mas o aperfeiçoamento e disseminação dos meios que viabilizaram isso fazem também com que, hoje, o consumidor final tenha acesso a uma série de regalias. É o caso da tecnologia Voip (ou voz através de protocolo internet), que, por meio da rede mundial de computadores, permite a quem estiver conectado conversar com outra pessoa sob a mesma condição.

Nelson Wedderhoff, responsável pela área de gestão estratégica do grupo Sigmafone, que atua com soluções em telecomunicações em todo o Estado do Paraná e na região Sul, explica que há cerca de vinte anos as empresas já se utilizavam de redes de transmissão de dados para interligar suas filiais. ?A diferença hoje é que os meios são mais eficientes e elas puderam intensificar a troca de informações através da tecnologia digital?, afirma. Dentro desse ?pacote? de possibilidades, quem se adaptou passou a poupar tempo e dinheiro.

Somente a tecnologia Voip – utilizada por mais da metade da clientela do grupo, que atende principalmente a médias e grandes empresas – tem proporcionado economia de 30% a 60% àqueles que se adequaram. ?Varia de acordo com as demandas e características de cada uma, mas as que têm filiais espalhadas pelo País têm maior potencial de economia?, acrescenta Roberto Fofano, responsável pela gestão comercial.

Testado e aprovado entre empresas, o benefício passa a fazer parte do dia-a-dia de consumidores comuns. A administradora Valéria Marucchi, que há um ano mudou-se de Maringá, noroeste do Estado, para Minas Gerais, conversa com a família diariamente por cerca de vinte minutos. Tudo pela internet, com som e imagem. ?Se não fosse assim, a conta telefônica seria impagável?, garante.

Remédios também podem custar menos

Também existe alternativa para comprar medicamentos a preços mais acessíveis. Uma delas é a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Instituto dos Consumidores de Remédios (ICR), que atua em Curitiba. A idéia de criar a organização, que partiu do médico Manuel Ruedas junto com outros profissionais de saúde, nasceu da necessidade de baratear o tratamento para pacientes que tinham dificuldade em lidar com a doença por conta dos custos envolvidos.

Para isso, eles se uniram e montaram uma farmácia, a qual é sustentada pela Oscip e pelos quase 70 mil associados que fazem uso de seus serviços, que hoje tem duas sedes na capital. Cada família paga uma anuidade de R$ 12 e pode comprar qualquer um dos cerca de 32 mil itens vendidos. O preço é o de custo, abaixo do preço mínimo estabelecido pela tabela ABCFarma, utilizada como parâmetro do governo federal para indicar o menor e o maior valor que podem ser cobrados pelas farmácias por cada medicamento. ?Isso é possível porque vendemos para associados?, afirma o médico. Além disso, lembra, qualquer remédio pode ser encontrado na farmácia, desde os de Curva A, amplamente comercializados, até os de Curva D, vendidos sob encomenda. ?Vamos atrás de qualquer medicação?, garante Ruedas. Para informações, o telefone é o (41) 3015-6615.

Além de iniciativas como essa, que partem da sociedade civil organizada, o governo federal mantém ainda o programa Farmácia Popular, que, embora conhecido por muita gente, ainda gera dúvidas. ?O único requisito para comprar é apresentar uma receita médica atualizada?, informa a farmacêutica responsável pela sede em Curitiba, Alba Valéria Bittencourt. Ela conta que ainda há quem pense que somente receituários do Sistema Único de Saúde (SUS) valem – o que não é verdade. ?Tanto que hoje atendemos mais pessoas que utilizam convênios?, afirma.

Na Farmácia Popular, os medicamentos custam até 90% menos que nos estabelecimentos particulares. Dentre os mais comprados em Curitiba está a Sinvastatina 20 mg, usada para baixar o colesterol. É vendida a R$ 11,40 pelo programa; nas farmácias, não sai por menos de R$ 35. O segundo mais vendido, Omeprazol 20 mg com 14 cápsulas, utilizado contra acidez gástrica, custa na Farmácia Popular R$ 3,22, enquanto no comércio comum, no mínimo R$ 10.

O aposentado João Pereira, que depende de medicamentos de uso contínuo para hipertensão, garante que economiza. ?É bem mais em conta?, atesta.

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