Desrespeito ao CTB continua rotina na capital

Pesquisa divulgada pela Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) indica que 76% dos motoristas da cidade ? que concentra uma frota de cerca de 800 mil veículos ? nunca foram multados, 15% receberam uma multa, e outros 9% cometeram duas ou mais infrações. Esses números indicariam que a grande maioria dos motoristas da capital respeita as leis de trânsito. Não é isso que se percebe, porém, no dia-a-dia das ruas e avenidas curitibanas.

Em apenas uma manhã, O Estado flagrou muitos abusos e desrespeito geral ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB) na capital. O amarelo do semáforo é para a maioria motoristas um alerta para acelerar ainda mais. E se o sinal estiver vermelho, nada impede que o carro avance, cortando a frente de outros veículos. As faixas de pedestres também não são respeitadas, assim como as placas de sinalização que indicam os cruzamentos proibidos.

Nem a presença de um guarda de trânsito, entre as avenidas Mariano Torres e Sete de Setembro, foi suficiente para evitar os abusos dos motoristas. Muitos insistem em cruzar a via de forma irregular, colocando em risco a sua e a vida de outras pessoas. O cinto de segurança é apenas um opcional do veículo para alguns motoristas, assim como a obrigatoriedade de transportar as crianças no banco traseiro do carro. Motociclistas não usam capacete, e os pedestres têm que disputar as calçadas com veículos estacionados irregularmente.

Para o consultor de trânsito e mestre em Educação Luiz Arthur Montes Ribeiro, essa é a realidade de Curitiba e de outras grandes cidades brasileiras. Ele discorda dos dados apresentados pela Urbs, e afirma que a capital está longe ser um exemplo para o trânsito. “Ter um baixo índice de infrações não significa que temos bons motoristas. Muitos podem ter tido a sorte de não ser flagrados”, afirma Ribeiro. Segundo ele, os motoristas da capital não possuem espírito urbanista, e são muito agressivos ao dirigir. “É difícil ver alguém que dá a vez quando outro motorista quer sair de uma garagem ou estacionar em via movimentada”, disse.

Mortes

De acordo com dados da Urbs, entre dezembro de 1996 e dezembro de 2002, a frota de veículos em Curitiba passou de 566.967 para 761.582 ? um crescimento de 34,32%. Nesse período, o número de mortes no local do acidente diminuiu de 124 para 78. Isso equivale a dizer que o índice de mortes por acidentes de trânsito por 10 mil veículos caiu de 2,19 em 1996 para 1,02 em 2002, uma queda de 53,2%. Além da diminuição do número de mortes, houve queda geral de 23,6% do número de acidentes; de 26,2% do número de feridos; e de 41,5% do número de atropelamentos. Isso se deve, segundo ao órgão, a uma série de ações implementadas para reduzir a velocidade nas vias públicas.

Para Luiz Arthur Montes Ribeiro, esses números são questionáveis, pois existe uma única forma de peritagem dos números. “Nesses dados são considerados apenas os óbitos no local, desconsiderando as vítimas nos hospitais ou que morreram em casa em decorrência do acidente”, afirmou. Ele comenta ainda que o consumo de álcool continua sendo uma das principais causas das mortes no trânsito, e que os bares e casas noturnas deveriam rever a cobrança de consumação mínima.

No quinto ano da implantação do CTB, o consultor comenta que houve pontos negativos e positivos nesse período. “Um dos avanços foi que as pessoas perceberam que o código existe e que podem ser penalizadas”, disse. Além disso, o uso do cinto de segurança pelos motoristas aumentou, as cidades ficaram mais sinalizadas e os condutores estão melhor preparados para o trânsito.

“Porém ainda existe muita negligência pelo poder público em admitir uma frota imprópria nas ruas, das construtoras não respeitarem as calçadas deixando os pedestres sem opção de via, e da falta de investimento em educação”, finalizou.

Alta velocidade

Transitar em velocidade superior à máxima permitida em determinada via é a principal causa de infrações cometidas em Curitiba. De janeiro a maio deste ano, 127.735 motoristas foram multados por exceder em 50% o limite estabelecido. Estacionar o veículo em desacordo com a regulamentação gerou multa para 22.026 motoristas. 8.332 motoristas foram flagrados por avançar o sinal vermelho.

Motociclistas apóiam projeto na Câmara

Está em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba um projeto, do vereador Luiz Felipe Braga Cortes (PMDB), que visa instituir equipamentos de segurança para o estacionamento de motos nas ruas de Curitiba. Segundo o vereador, o projeto foi criado à pedido de motoboys e motociclistas da cidade.

A idéia é de que sejam instaladas barras de aço junto ao solo ou qualquer outro dispositivo de segurança para que as motos possam ser fixadas com correntes. “Hoje, os motoqueiros só prendem as rodas das motos com correntes. É muito comum os ladrões chegarem, levantarem as motos, as colocarem em caminhonetes e irem embora”, afirma Luiz Felipe.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores, Condutores de Veículos, Motonetas, Motocicletas e Similares de Curitiba e Região Metropolitana, Tito Mori, por dia pelo menos uma motocicleta é roubada na capital paranaense. Geralmente, as motos não tem seguro e são o principal instrumento de trabalho de seus condutores. “Os seguros de motos costumam ser caros e a maioria dos motociclistas opta em não fazer. Todos temem ser roubados e aprovam o projeto. A colocação dos equipamentos é uma coisa simples e que vai resolver os problemas de muita gente”, diz.

São associados ao Sindicato cerca de 45 mil pessoas ? 14 mil delas só em Curitiba e região metropolitana. (Cintia Végas)

PR tem proposta para inspeção veicular

O diretor-geral do Departamento de Trânsito do Paraná, Marcelo Almeida, participa hoje, em Brasília, da reunião semanal do Grupo de Trabalho Interministerial sobre Inspeção Veicular. Formado por representantes dos ministérios das Cidades, Transportes, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o grupo tem como meta iniciar a implantação nacional dos sistemas de Inspeção Técnica Veicular (ITV) e de Identificação Automática de Veículos (IAV) a partir do ano que vem.Durante a reunião, Almeida vai defender a “tropicalização” dos modelos de inspeção veicular existentes no mundo. “Temos uma frota mais antiga que a média mundial, somos um país de grandes diferenças e o principal fator de risco de acidentes no Brasil não é o veículo, mas a via ou o motorista. Esse diagnóstico precisa orientar os sistemas de ITV e IAV que serão adotados no país. Não podemos, simplesmente, copiar o que é feito na Europa ou nos EUA”, alerta.

Antiga

A frota brasileira é de, aproximadamente, 30,7 milhões de veículos. Desse total, 50% têm mais de dez anos de uso, sendo que a idade média da frota paranaense é de 12,2 anos. A maior parte da frota (80,3%) é formada por automóveis, seguidos dos utilitários (11,8%), caminhões (6,7%) e ônibus (1,1%). Geograficamente, 56,52% da frota brasileira estão na região Sudeste, 21,45% no Sul, 11,49% no Nordeste, 7,88% no Centro-Oeste e 2,85% no Norte.

“Os dados estatísticos já revelam situações de conflito, como a concentração da frota na região Sudeste e o fato de 35% da frota de caminhões e ônibus ter mais de dez anos de uso”, observa o diretor-geral do Detran-PR.

“Também é essencial para a definição dos sistemas, que o governo federal defina se a inspeção veicular começará a ser feita somente pela frota pública, própria e permissionada, ou se já incluirá a frota particular, o que exigirá maior mobilização de forças”, completa Marcelo Almeida.

 

Placas de aviso de radar não são mais obrigatórias

Desde segunda-feira não é mais obrigatória a presença de placas de sinalização, alertando os motoristas sobre a existência de radares nas ruas. É necessária apenas a indicação da velocidade máxima permitida no local. A decisão do governo federal foi concretizada através da deliberação 38 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada segunda-feira no Diário Oficial da União. A Urbs – empresa que gerencia o transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana – garantiu, através de assessoria de imprensa, que não irá retirar as sinalizações já instaladas nas vias públicas da capital. “Não muda nada em Curitiba. Os locais de lombada e radar continuam sinalizados, assim como os próximos a serem instalados. A posição da diretoria da Urbs é que ninguém caia em ?pegadinhas?, informou a assessoria.

Também está suspensa a proibição de contratar empresas por produtividade, ou seja, as prefeituras poderão remunerar empresas que instalam radares de acordo com o número de multas aplicadas. Em Curitiba, os contratos eram feitos dessa maneira – por produtividade -, mas foram revogados no ano passado, e os novos contratos passaram a ser por manutenção. “O pagamento para as empresas que instalam os radares vão continuar sendo por manutenção. É um contrato fixo”, informou a assessoria de imprensa da Urbs.

Intenção

O presidente do Contran, Ailton Brasiliense Pires, já havia manifestado a intenção de eliminar as placas de advertência e acabar com o que chamava de ingerência sobre os contratos. Em janeiro, disse que não via sentido nas placas informando sobre os radares. Pires queria, porém, esperar uma reunião do Contran para tomar uma decisão baseada no consenso. Não foi possível, alega, porque nem todos os conselheiros foram indicados pelos ministérios competentes.

Desde outubro do ano passado, as vias fiscalizadas por radar precisavam ser sinalizadas com dois tipos de placa: uma com a velocidade máxima permitida e outra, considerada educativa, sobre a presença do equipamento.

Com a revogação da resolução 141, que vigorou até domingo, a distância entre o radar e a placa de limite de velocidade em vias urbanas, com velocidade máxima permitida menor que 80 km/hora passou para 100 metros a 300 metros. Até então, a distância era de 100 metros (60 km/h a 70 km/h), 70 metros (50 km/h) e 50 metros (40 km/h). Já a velocidade máxima igual ou acima de 80 km/h passou de 300 metros para 400 metros a 500 metros.

O poder público tem 180 dias, segundo a deliberação, para elaborar os estudos técnicos e disponibilizá-los ao público. Em abril venceu prazo semelhante criado na resolução 141, mas Pires adiou esse limite por 90 dias. O novo prazo venceria amanhã.

Temor

O presidente do Conselho Estadual do Trânsito (Cetran), advogado Marcelo José Araújo, vê com temor o fim da obrigatoriedade de sinalização de radares. “A questão é se a autoridade vai aplicar bem ou não esta decisão”, apontou. Segundo ele, existe “tendência quase natural de que as multas aumentem”. De janeiro a maio deste ano, a Diretran emitiu 127.735 notificações por excesso de velocidade. O contraponto, lembra o advogado, é que independentemente de avisos, os motoristas passarão a ter obrigação de obedecer a velocidade máxima permitida. (Lyrian Saiki)

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