Desmistificando os estigmas da adoção

Apesar dos estigmas que ainda existem em torno da adoção, quem lida de perto com o assunto garante que é preciso desmistificar o tema para incentivar mais casais a partirem para o processo – e em busca de crianças que não necessariamente bebês ou do sexo feminino, como a maioria pretende. Hoje, no Paraná, 481 crianças vivem em abrigos esperando por uma nova família, a maior parte maiores de nove anos e muitas em grupo de irmãos. Apesar de ser uma oferta que se mantém em patamar estável, ainda é preciso um trabalho social para promover o entendimento da adoção como um direito da criança e um serviço à sociedade.

Com objetivo de fornecer informações e incentivar as famílias, a organização não-governamental Recriar Família e Adoção, que presta assistência a quem pretende adotar uma criança, apresentou ontem os trâmites jurídicos, sociais e psicológicos dessa decisão durante a III Jornada sobre Família e Adoção. Do ponto de vista da lei, explica a coordenadora do evento, Ana Paula Lopes da Costa, o objetivo é explicitar que a demora muitas vezes reclamada pelo casal faz parte da decisão judicial de proporcionar um lar definitivo à criança. ?A intenção principal é tirar a criança do abrigo, reintegrando-a à família biológica ou colocando-a em uma nova; é preciso entender, no entanto, que o juiz tem de preparar essa família para receber a criança e ter certeza de que existe uma estrutura para isso?, afirma. Além do levantamento documental e os cursos a serem feitos pelo casal, as visitas de assistentes sociais durante a guarda provisória são constantes para fornecer ao juiz informações que dêem consistência à decisão.

Afora isso deve existir o incentivo para que casais optem não apenas por bebês, mas também por crianças um pouco mais velhas, bem como negros e portadores de necessidades especiais. ?A procura maior é por recém-nascidos, de pele e olhos claros; nesses casos, que aumentam em muito o tempo de espera, os casais pretendem não ter problemas futuros, principalmente com a discriminação ou com o trabalho de lidar com os traumas que, supõem, uma criança mais velha carrega?, avalia. Mas a coordenadora garante que a experiência vivida por aqueles que deixam esse temor de lado na maior parte das vezes supera as expectativas. ?Vivem sem preconceito e aprendem a lidar com o dos outros. A criança também se torna carinhosa, fica agradecida e deixa para trás as experiências ruins, passando a chamá-los de pai e mãe. As pessoas ficam fascinadas com a experiência e em geral vêm em busca de mais uma criança para adotar ou incentivam outros casais a fazê-lo?.

A presidente da Recriar, Eliana Salcedo, cita que das cerca de 3.500 crianças que hoje moram em abrigos paranaenses, pelo menos 9% esperam ser adotadas. A média é de dez crianças por casal. Já a média para as que têm até dois anos, faixa etária preferida, se inverte em grandes proporções, passando a ser de 300 casais para cada criança.

A engenheira de alimentos Nelisa Martin, que entrou com o processo para adoção há seis meses, entende esse objetivo e, junto com o marido, decidiu adotar até um grupo de três irmãos.

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